Distribuição de internet e telefonia móvel é desigual na cidade de São Paulo

Segundo Heitor Faria Rodrigues, na comunidade, diversos atores sociais, públicos e privados se articulam para mitigar as desigualdades para a população de quase 100 mil habitantes

 19/02/2024 - Publicado há 5 meses
A telefonia e a internet móvel dependem de uma infraestrutura de torres de transmissão, chamadas Estações Radio Base, que não estão distribuídas igualmente pelo território da metrópole paulista – Fotomontagem: Jornal da USP – Imagens: Rodrigo Vilar/Wikimedia Commons, verry purnomo/Flaticon e Freepik/Flaticon
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A internet móvel está se tornando cada vez mais rápida na capital paulista: com a chegada da tecnologia 5G, a transmissão de dados na rua já alcança a mesma velocidade de uma rede doméstica de wi-fi. Contudo, essa expansão tecnológica não é igual entre todos os cidadãos.

O mestrando da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) Heitor Faria Rodrigues estudou a distribuição da telefonia móvel no espaço geográfico no trabalho Redes-suporte de Internet móvel na cidade de São Paulo: desigualdade digital e uso das tecnologias da informação em Paraisópolis.

Por que estudar redes móveis?

Heitor Faria Rodrigues – Foto: Lattes

A pesquisa tem como referencial teórico a perspectiva do professor Milton Santos, que enxerga o espaço geográfico como uma instância social. A informação, segundo o pesquisador, “é um componente essencial do espaço geográfico”.

O mestrando explica que a telefonia e a internet móvel dependem de uma infraestrutura de torres de transmissão, chamadas Estações Radio Base, que não estão distribuídas igualmente pelo território da metrópole paulista. Em lugares com menor concentração de estações, as torres se sobrecarregam de usuários e a conexão se torna lenta e instável.

 Situação de Paraisópolis

Para estudar essa desigualdade de acesso digital, Heitor Faria usou como objeto Paraisópolis, segunda maior favela do Estado de São Paulo. O pesquisador explica que, na comunidade, diversos atores sociais, públicos e privados se articulam para mitigar as desigualdades para a população de quase 100 mil habitantes.

“Ela sempre foi alvo de diferentes empresas e também de diferentes organizações do chamado terceiro setor. Todas essas ações entram em Paraisópolis organizadas a partir da união dos moradores e também com o apoio da G10 Favelas, que é um grupo de liderança das 10 maiores favelas do Brasil”, conta Faria Rodrigues.

Chip de Paraisópolis

O que mais impressionou na pesquisa, segundo Heitor Faria, é o chip de celular próprio da comunidade de Paraisópolis. Ainda no sentido da organização de moradores para superar problemas impostos pela desigualdade, o Paraisópolis Celular foi desenvolvido para contornar as falhas das outras operadoras na cobertura da região.

“Esse chip traz também uma questão bastante importante a respeito da troca de informações entre os próprios moradores, que é bastante facilitada. São enviadas informações específicas para os usuários desse chip. Eles são monitorados através de um banco de dados que a união dos moradores pode colher e pode enviar essas informações. Eles têm sites que são liberados sem consumo da franquia de dados, como o paraisopolis.org”, conta o especialista.

Mas mesmo com a solução encontrada pelos moradores de Paraisópolis, a desigualdade digital está longe de ser superada em São Paulo e em outras regiões do Brasil: “A gente tem uma questão bastante importante com 5G, que tem um raio de alcance muito mais limitado do que as outras tecnologias. A gente vai ter que pensar cada vez mais em outras escalas para políticas públicas de mitigação de desigualdades digitais,” conclui o mestrando Heitor Faria Rodrigues.


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