Concurso Público Nacional Unificado democratiza acesso para grande parte da população brasileira

De acordo com Fernando Coelho, a aplicação das provas, para além de Brasília e algumas outras capitais, como comumente são realizados os concursos públicos brasileiros, acolhe mais pessoas e democratiza o acesso ao exame

 23/01/2024 - Publicado há 3 meses
Um dos principais acertos do novo concurso foi garantir a sua abrangência em todo o Brasil – Foto: Lajeadogrande.sc.gov.br
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Nova aposta do governo federal, o Concurso Público Nacional Unificado (CNU) é um processo seletivo que vai preencher 6.640 vagas em 21 órgãos do governo federal, reunindo cargos que exigem tanto ensino superior (sendo a maioria das vagas) quanto ensino médio. Com abertura das inscrições na última sexta-feira (19), o concurso estabeleceu um recorde de 200 mil inscritos em apenas 24 horas, e no momento já conta com mais de 500 mil inscrições. Realizado pelo Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI), o CNU terá suas inscrições abertas até 9 de fevereiro e a prova será realizada em 5 de maio.

Fernando Coelho, professor do curso de Gestão Pública da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP), explica as principais novidades que o exame pioneiro do governo federal traz.

Novidades positivas do concurso

De acordo com o especialista, um dos principais acertos do novo concurso foi garantir a sua abrangência em todo o Brasil. A aplicação das provas, para além de Brasília e algumas outras capitais, como comumente são realizados os concursos públicos brasileiros, acolhe mais pessoas e democratiza o acesso ao exame.

Ao todo, serão 220 cidades contempladas, com presença em todos os Estados e Distrito Federal, abrigando 95% da população brasileira em um raio de 100km dessas cidades. “Academicamente, nós chamamos isso de ‘a tentativa de formar uma burocracia pública representativa de todo o País’. Isso é o primeiro passo para formar uma burocracia mais vocacionada, engajada e atenta à realidade pública do País”, comenta.

Outra inovação, conforme o docente, foi a unificação de oito editais, que representam diferentes blocos temáticos, dentro de um único certame. Essa junção inibe a prestação de diferentes concursos públicos pelos candidatos e, consequentemente, a troca de um cargo por outro visando apenas ao salário, sem relação com suas aspirações profissionais, prática chamada de “canibalismo” pelo professor. 

Fernando de Souza Coelho – Foto: IEA

Segundo Coelho, essa mudança foi uma boa escolha do MGI, forçando o candidato a ler os editais e escolher o bloco que apresenta os cargos e especialidades mais adequadas para sua vocação. A última mudança, em relação a outros concursos, foi o conteúdo programático da prova, sendo transversal para sete dos oito blocos – aqueles de nível superior. Além disso, cada bloco é dividido em cinco eixos temáticos específicos, cujo peso varia de cargo para cargo. “E, no caso desse conhecimento das provas específicas, ele está muito inspirado no Enem, por isso também o nome ‘Enem dos concursos’”, explica o professor.

Coelho desenvolve que o certame ainda aposta em uma alteração no desenho do conteúdo programático, com um arranjo interdisciplinar, ao invés de apenas conteúdos disciplinares e interdisciplinares, como língua portuguesa e língua inglesa. Garantindo temas como Estado de Direito, democracia e cidadania, políticas públicas e muitos outros conteúdos importantes para a gestão pública, o especialista comenta: “Esse tipo de conhecimento é muito importante para as pessoas que querem trabalhar dentro do Estado”.

Críticas e ponderações

Para Fernando Coelho, apesar dos vários pontos positivos, a experimentação do governo possui alguns pontos de atenção. O primeiro deles é a aplicação da prova em apenas um dia, pela manhã a prova de conhecimentos gerais e pela tarde a prova de conhecimentos específicos. “Para os cargos de nível superior são 70 questões: 20 de conhecimentos gerais e 50 de conhecimentos específicos, além de uma única pergunta dissertativa. É muito pouco quando você compara com o próprio Enem, que é dividido em dois dias e tem 180 questões fechadas, além de uma aberta, que é a redação”, esclarece.

Outros pontos de alerta, ressaltados pelo docente, são a falta de avaliação em atributos como habilidades e práticas, ou mesmo competências comportamentais – sendo este um problema de longa data no Brasil, com concursos aferindo apenas conhecimentos a partir de questões fechadas e abertas. Além disso, a contratação de quase 7 mil servidores de uma vez, levantando preocupações quanto à integração de diferentes cargos, distribuídos por mais de 21 órgãos. “Essa integração é fundamental, porque, se você não faz uma vigorosa integração dos novos servidores, uma adequada alocação funcional dessas pessoas e uma contínua socialização organizacional, isso pode levar à perda do engajamento dos servidores logo na sua entrada. Então é muito importante jogar luz no pós-curso”, finaliza.


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