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Câncer de pâncreas é silencioso e seu diagnóstico é tardio

Localização do tumor é uma das principais dificuldades para identificar a doença, de acordo com a oncologista Maria Ignez Braghiroli

 24/11/2022 - Publicado há 1 ano

Texto: Redação

Arte: Simone Gomes

Além da conscientização sobre o câncer de próstata, novembro também é o mês informativo sobre o câncer de pâncreas. Segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer), o câncer de pâncreas é responsável por 2% de todos os diagnósticos e 4% do total de mortes por câncer.

“O tumor, felizmente, não faz parte dos tumores mais frequentes no homem ou na mulher, mas não é incomum para o oncologista e para o médico que tratam a doença do trato digestivo encontrarem pessoas que tenham esse diagnóstico. A localização do pâncreas é talvez a principal dificuldade para o diagnóstico. Não há, na sua localização, necessariamente uma lesão, um nódulo ou sintomas na sua fase mais inicial”, comenta Maria Ignez Braghiroli, oncologista e pesquisadora do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, vinculado ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Diagnóstico

A localização do câncer é uma dificuldade, bem como a não necessária existência de sintomas. A icterícia já é responsável por indicar um estágio mais avançado: “Os olhos ficarem amarelados, a gente chama na medicina de icterícia, denota que o tumor já cresceu e causou alterações”, explica a especialista.

Outro possível sintoma é uma dor, não na barriga como um todo, mas na parte superior dela. Essa dor vai para trás e, geralmente, as pessoas se queixam de dor nas costas, porque o pâncreas está na porção posterior do corpo, como analisa Maria Ignez: “Essas dores nas costas geralmente melhoram quando a pessoa se inclina para frente, isso pode ser um sinal (dor que persiste e que vem piorando ao longo da semana)”.

Perda de peso e perda do apetite também são sinais importantes: “Isso deve acender uma ‘luz vermelha’ de que merece, pelo menos, uma avaliação médica”, ressalta a oncologista.

Estágio avançado

“[Câncer de pâncreas] É uma doença que tem essa característica de ser diagnosticada numa situação de metástase (tumor que se espalha para outro órgão), mesmo que a pessoa não tenha nenhum sintoma e isso configura um tumor mais agressivo”, enfatiza Maria Ignez.

Para analisar o grau de avanço, é necessário um trabalho multidisciplinar, com a presença de oncologistas e radiologistas. Ainda hoje, o principal tratamento é a quimioterapia. Em alguns casos raros, a cirurgia é indicada. “O principal tratamento é a quimioterapia. Isso avançou ao longo do tempo, então a gente tem opções que são melhores do que se praticavam há dez, 15 anos. Também há avaliações que individualizam esse tratamento, dependendo das alterações de cada pessoa”, pontua a médica.

O adenocarcinoma é o tumor mais comum das células exócrinas, sendo responsável por 90% a 95% dos casos. Já o tumor neuroendócrino, que afeta as glândulas endócrinas, é menos comum, e a doutora explica que o fígado é o órgão mais comumente acometido quando o tumor sai do pâncreas. Nesses casos, o transplante do órgão pode ser indicado, mas isso precisa ser bem avaliado, pois depende das características do tumor.

Maria Ignez Braghiroli - Foto: Linkedin

Prevenção

A prevenção pode ser feita por meio da minimização dos fatores de risco: “Eu ressaltaria que principalmente o tabagismo é um fator de risco que nós podemos identificar e acho que, talvez, não esteja tão claro para a população. A gente relaciona o tabagismo com o câncer do pulmão, mas esquece que ele é fator de risco para outros tumores”, pontua a oncologista. A obesidade, o sedentarismo e a ingestão de muitos ultraprocessados são pontos a serem considerados também. 

Maria Ignez acrescenta: “É muito pouco frequente que o tumor de pâncreas esteja relacionado à predisposição genética, mas acontece de pessoas que têm muitos casos de câncer de pâncreas na família. Elas devem procurar um especialista para serem orientadas e investigarem isso”.


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