“A prisão consistente de Jair Bolsonaro é muito importante”

Guilherme Wisnik faz essa afirmação na crença de que o ex-presidente, por ter manobrado para corroer a democracia brasileira por dentro, por pouco não conseguindo, merece uma punição exemplar

 24/08/2023 - Publicado há 10 meses
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A inelegibilidade de Jair Bolsonaro é o mínimo que pode acontecer depois de tantos crimes cometidos contra a democracia brasileira. Mas considero que ela não é suficiente diante da gravidade de tudo que ele, sua família e sua gangue perpetraram contra o País em busca de fragilizar a nossa democracia e de praticamente se perpetuar como um regime ditatorial que fosse corroendo a democracia por dentro.

Eu faço parte de um coletivo chamado Anistia Nunca Mais, que tem se pronunciado sobre o assunto. Temos um endereço no Instagram e muitos professores, pensadores, ativistas e intelectuais que têm ali se manifestado explicam, como eu, as razões que levam a essa ideia de que essa punição seja exemplar e seja de grande monta. É importante considerar também que a possível prisão de Jair Bolsonaro, que a cada semana parece se aproximar mais, venha a acontecer não de forma preventiva, atabalhoada e acelerada, e que ele seja imediatamente depois solto por causa disso, mas, sim, uma prisão consistente, dado que os fatos suportam essa consistência, para que, quando ele seja preso, ele seja de fato preso e permaneça assim por um tempo bastante grande.

O Brasil é um país que não prestou contas devidamente com seu passado ditatorial, seu passado sombrio. É o país que mais manteve a escravidão na América, o país cuja Independência foi feita por um príncipe português apenas para manter o status quo, e não para romper com nada, e um país que não fez as punições do seu regime ditatorial militar como outros países da América do Sul fizeram. Esse é um traço da nossa história que precisa agora ser considerado e superado, porque o ex-presidente Bolsonaro fez de tudo para corroer a democracia brasileira por dentro e por muito pouco não conseguiu. Essa eleição, como nós sabemos, foi muito apertada. Ele usou de todos os artifícios ilícitos para manipular a eleição e ficou muito próximo de conseguir. Se conseguisse, se perpetuaria, porque, fragilizando o Poder Judiciário e dominando o Legislativo, ele faria algo muito parecido com o que está acontecendo hoje na Hungria, em Israel, na Turquia e na Polônia.

Essa é uma onda de extrema-direita pelo mundo que se manifestou na eleição de Donald Trump e na aprovação do Brexit, que certamente espelha um contexto mundial no qual o capitalismo, na sua fase destrutiva atual, como ele prescinde do trabalho, ele vai pelo avanço tecnológico e vai deixando grandes contingentes de população desempregada. E esse movimento global destrutivo e aparentemente irreversível, no modo como as coisas vão, causa grandes ressentimentos que, nessa onda mundial, têm provocado o avanço da extrema-direita. Então, estarmos cientes disso e nos blindarmos juridicamente para que a nossa democracia sobreviva é fundamental. E, para isso, a prisão consistente de Jair Bolsonaro é muito importante.


Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar  quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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