Sociedade em Foco #187: Eleições a cada dois anos provocam descontinuidade de políticas públicas no Brasil

José Luiz Portella explica que a falta de continuidade dos programas é provocada também por fragmentação partidária, processo de reeleição e imediatismo brasileiro

 09/04/2024 - Publicado há 4 meses
Momento Sociedade - USP
Momento Sociedade - USP
Sociedade em Foco #187: Eleições a cada dois anos provocam descontinuidade de políticas públicas no Brasil
/

Com troca de ministros e secretários e eleições a cada dois anos, muitas políticas públicas no Brasil sofrem com a falta de continuidade. Dessa forma, José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA), ambos da Universidade de São Paulo (USP), explica os fatores que levam a essa descontinuidade.

“Normalmente, se pensa que as políticas públicas são uma questão de planejamento e elaboração do projeto, implantação e medição dos resultados. Elas são importantes e fundamentais, mas não é só, existe uma estrutura, que é na parte institucional e nos costumes, que leva a uma fragmentação das políticas públicas permanentemente, com péssimos resultados, então isso começa por essas escolhas, ter eleição a cada dois anos”, afirma.

O especialista ainda comenta que, com a fragmentação partidária presente no Congresso, o político eleito começa a fazer concessões, já que, no ano seguinte, terá novas eleições e isso prejudica as suas próprias políticas. “Além disso, tem o próprio processo da reeleição, que, quando lançado, o discurso conceitual era de que isso permitiria a um governo bom completar a sua obra e que teria programas mais profundos, longos e contínuos. Não aconteceu, o que acontece é que no primeiro ano ele já começa a pensar na reeleição dele, então tudo começa a ir ao encontro de um dos piores defeitos de políticas públicas brasileiras, que é o imediatismo”, complementa.

Portella ainda explica que esse problema também envolve as escolhas dos brasileiros, que influenciam boa parte de uma população que vota, mas que, por possuirem uma menor condição financeira, têm menos influência e participação nas decisões e formulações de políticas públicas. ”Então, você vai criando uma estrutura institucional que sempre beneficia a quem tem mais poder no País e também a quem consegue privilégios de curto prazo. Isso forma um grande e longo tecido que prejudica as políticas públicas, e isso é uma escolha nossa e deveria ser mudado, a Nação trabalha contra si mesma”, finaliza.


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.