Sociedade em Foco #166: Discurso de Lula na ONU e reunião com presidente Biden são importantes, porém retóricos

José Luiz Portella discorre sobre o discurso de Lula na ONU e a reunião com Joe Biden

 26/09/2023 - Publicado há 9 meses
Momento Sociedade - USP
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Sociedade em Foco #166: Discurso de Lula na ONU e reunião com presidente Biden são importantes, porém retóricos
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Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou na Assembleia Geral das Nações Unidas, cobrando um maior empenho dos países mais ricos no avançde alguns temas como a superação da fome e da desigualdade, a promoção da paz e a reversão das mudanças climáticas.

José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, disserta sobre os impactos efetivos desse discurso na realidade brasileira.

O professor comenta que o conteúdo do discurso do presidente brasileiro, como um todo, foi acertado, uma vez que vai de encontro com as necessidades do mundo. Entretanto, a fala fica apenas no campo da retórica, pois as nações que são cobradas por Lula são as responsáveis por essas problemáticas levantadas e, na visão de Portella, nenhuma delas vai mudar de atitude. 

“Os países ricos foram, na verdade, colonizadores dos países do Hemisfério Sul e foi uma colonização bastante violenta. Não teve só escravatura, teve também a discriminação, não só racial, e tinha uma atuação muito dura do poder constituído — que, na época, era um poder dos colonizadores. Esses colonizadores são os mesmos que hoje estão no G7 e fazem parte dos países mais ricos”, analisa.

O pesquisador aborda que, do ponto de vista prático, não existe nenhum plano nacional de combate à desigualdade. “O que nós temos é o Programa de Aceleração do Crescimento, PAC 1, PAC 2 e agora o PAC 3 — que é um conjunto de obras que tem um lado positivo de dar o emprego transitório, mas não tem um combate de desigualdade.” Ele ainda complementa que esse plano concentra dinheiro para os donos das empreiteiras e não trata de uma continuidade do processo. Para Portella, o processo de redução da desigualdade vai além da construção de obras e do aumento do Imposto de Renda para os mais ricos, pois o sistema brasileiro provoca esse contraste social.

Ainda durante a assembleia da ONU, houve o encontro de Lula com o atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Nessa reunião, foi lançado um manifesto pró-trabalhador, que tem o objetivo de assegurar direitos trabalhistas à população para combater o avanço da precarização do trabalho. “O motor disso foi o Biden, porque ele está mal com os trabalhadores americanos, principalmente por conta da política de imigração — eles relacionam a perda de emprego e perda de renda à chegada dos imigrantes”, explica o professor.

Na visão do especialista, essa agenda é apenas propaganda, porque, desde o início do governo do democrata estadunidense, não houve nenhuma ação concreta para tirar a população da precarização. Por fim, Portella expõe que Lula, igualmente, provavelmente aceitou a agenda apenas por marketing, visto que, no Brasil, também não foi anunciado nenhum projeto de lei para diminuição da precarização do trabalho.


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