Esporte inclusivo beneficia crianças com neurotranstornos e adultos com deficiência visual

Estudantes do curso de Educação Física da USP participam de disciplina da graduação que aproxima os futuros profissionais da população com deficiência

 18/10/2023 - Publicado há 7 meses

Da Redação

Arte: Joyce Tenório*

Alunos de graduação da EEFE participam de atividade com crianças com deficiência. Grupo de adultos é formado por pacientes do Centro de Reabilitação Visual Lucy Montoro - Fotos: Giulia Rodrigues/EEFE

Diante da constante comprovação dos benefícios da atividade física a toda a população, a educação física tem se tornado cada vez mais democrática e inclusiva. Por isso, é essencial que a graduação na área busque a formação de profissionais preparados para atuar nos mais diferentes cenários. A disciplina da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP intitulada Educação Física Adaptada II  proporciona uma experiência prática, buscando aproximar estudantes de graduação e pessoas com deficiência.

A vivência é realizada com a participação de um grupo de dez crianças e adolescentes com neurotranstornos e cinco adultos com deficiência visual. Este segundo grupo é formado por pacientes do Centro de Reabilitação Visual Lucy Montoro. Durante o semestre, essas pessoas participam de intervenções planejadas e conduzidas pelos alunos de graduação, sob supervisão do professor responsável pela disciplina, Otávio Furtado.

Já o grupo de crianças é proveniente do sistema de saúde pública e foi mobilizado pelo profissional de educação física Giancarlo Pires da Silva, que atua nas UBSs São Remo e Malta Cardoso, na zona oeste de São Paulo. “Esse tipo de vivência proporciona aquilo que não conseguimos trazer na teoria. Por meio da troca com a pessoa e dos desafios encontrados, despertamos o interesse dos alunos. Isso abre um leque de possibilidades profissionais a partir da experiência vivida ali”, afirma Silva, dividindo sua experiência com os graduandos.

Benefícios compartilhados

De acordo com o docente responsável pela disciplina, a atividade está alinhada ao conceito de aprendizagem ativa, no qual o aluno é colocado como figura principal de seu próprio processo de desenvolvimento. “No primeiro semestre, os alunos aprendem a parte conceitual da área, simulam intervenções e vão a campo para conhecer as práticas possíveis. Na Adaptada II, eles vêm com toda essa bagagem e têm a oportunidade de se colocarem como os profissionais que vão ser em breve”, afirma Furtado.

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Para a aluna de graduação Phaedra de Athayde, a vivência é uma oportunidade para colocar em prática as estratégias de acessibilidade vistas no primeiro semestre. De acordo com a estudante, “isso inclui adaptar instruções, equipamentos e materiais, mas também passa por adaptar o ambiente para a prática, descrevendo-o para o participante e tentando ajudá-lo a construir um mapa mental do local onde ele se encontra. Outro foco de atenção é a comunicação: a ideia é evitar a superproteção e, ao mesmo tempo, dar instruções claras, completas e acompanhadas de feedbacks”.

Os benefícios da intervenção vão além da graduação, tendo reflexos também na extensão universitária e na pesquisa acadêmica. As atividades têm sido acompanhadas pela doutoranda Roberta Gaspar, que trabalha há dez anos com educação física adaptada. Sua tese de doutorado, realizada sob orientação de Sérgio Roberto Silveira, explora o conceito de “aprendizagem serviço”, que alia o atendimento à sociedade com a formação dos futuros profissionais.

A pesquisadora acredita que o programa proporciona experiências reais de atuação e, com isso, traz benefícios tanto na sua formação profissional quanto cívica. Para ela, as vivências práticas são particularmente relevantes quando se trata do atendimento às pessoas com deficiência, “uma vez que há várias especificidades que devem ser consideradas durante a elaboração de programas de exercícios físicos para esses públicos”.

A ideia é que, em breve, o projeto se transforme em um curso de extensão para continuar atendendo aos participantes, inclusive no primeiro semestre, quando é ministrada a parte conceitual da disciplina.

Programa proporciona experiências reais de atuação – Foto: Giulia Rodrigues / EEFE

Participantes e estudantes

Para a participante com deficiência visual Elaine Rosa, o projeto se apresenta como uma oportunidade de aprender sobre seu próprio corpo. “Com essas aulas eu estou aprendendo a conduzir o meu corpo, saber que eu posso fazer um alongamento em casa, que eu estou preparada para fazer uma caminhada. Na verdade, eu nunca fui a uma academia por falta de oportunidade, e hoje tenho acesso a esse conhecimento por meio deste projeto”, comenta.

Já Milane de Oliveira dos Anjos, mãe de uma das crianças, acredita que a atividade tem ajudado no desenvolvimento de seu filho. “Ele tinha muito medo de chutar a bola, da questão do equilíbrio, agora ele está se soltando mais, ficando mais confiante. Ele gosta muito de vir aqui, gosta de tudo, de jogar bola, das dinâmicas, de conversar com o pessoal”, explica.

As disciplinas Educação Física Adaptada I e II fazem parte da grade curricular do curso de Bacharelado em Educação Física da Escola de Educação Física e Esporte da USP, sendo ministradas no 5º e 6º Período Ideal.

Saiba mais: http://www.eefe.usp.br


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