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O seminário foi dividido em três grandes eixos sobre os aspectos da obra de Antonio Candido: Questões teóricas, Leitura da poesia lírica e Leitura de prosa e ficção. Há ensaios sobre a criação da área de Teoria Literária e Literatura Comparada, sobre questões teóricas na obra de Antonio Candido e análises de obras e autores, nacionais e estrangeiros, de poesia e ficção, que partem de ensaios do crítico. A publicação é resultado de uma “conversa entre professores da USP e alunos sobre o desejo de discutir literatura”, como ressaltam os organizadores Ariovaldo Vidal, Edu Teruki Otsuka e Maria Augusta Fonseca no editorial da publicação. Além disso, há um texto inédito, Como e Por Que Sou Crítico, que foi publicado no livro-homenagem Antonio Candido Cem Anos (Editora 34) e que sai agora na revista.
A publicação abre com o artigo Antonio Candido, Criador da Área de Teoria Literária e Literatura Comparada, de Sandra Nitrini, sobre a criação de uma disciplina com estudos teóricos especializados no curso de Letras, sugestão encaminhada à então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP e aprovada em 1959. Segundo Sandra, a atuação de Antonio Candido como professor inaugurou o campo de estudos teóricos e comparativos na USP. Além disso, o texto contempla colaboradores que contribuíram e ainda contribuem para o desenvolvimento da área de Teoria Literária e Literatura Comparada. Na sequência, em Minhas Aulas com Antonio Candido, Aurora Fornoni Bernardini apresenta anotações das aulas de Antonio Candido ministradas de 1970 a 1980, que serviram de base para suas próprias aulas. Como informa a autora, a seleção aborda tópicos como a análise literária, a interpretação, o comentário, contribuições da retórica e da póetica, entre outros.
Há ainda artigos, como o da professora Maria Sílvia Betti, que discutem ensaios de Antonio Candido, como O Direito à Literatura, escrito em 1988 como subsídio para uma palestra sobre direitos humanos e referência dentro dos debates sobre o papel da literatura na sociedade contemporânea: “Chamarei de literatura, da maneira mais ampla possível, todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos de folclore, lenda, chiste, até as formas mais complexas e difíceis da produção escrita das grandes civilizações”, escreve Candido nesse ensaio célebre.
Outro ensaio, Questões de Romance: Notas sobre Antonio Candido e a Crítica Brasileira, de Edu Teruki Otsuka, focaliza textos de Candido sobre o romance, publicados nos anos 1940 e 1950, examinando discussões sobre o desenvolvimento do gênero no Brasil durante a redação de Formação da Literatura Brasileira, outra obra memorável do professor. “Em 1950, Antonio Candido publica o artigo Romance Extensivo, versão inicial de um texto que viria a constituir parte do subcapítulo ‘Um instrumento de descoberta e interpretação”, de Formação da Literatura Brasileira. O artigo vale por uma apresentação resumida das ideias de Antonio Candido sobre o desenvolvimento do romance brasileiro no período formativo, pois começa assinalando as limitações das obras iniciais do gênero, passa pela constatação da tendência do romance romântico para o levantamento da variedade regional do País e desemboca na sugestão de que o romance extensivo atuou como preparação para o surgimento da obra madura de Machado de Assis”, exemplifica Otsuka.
A revista Rodapé é assunto da professora Andrea Saad Hossne no artigo Do Rodapé à Rodapé: Crítica Literária e Contemporaneidade. Segundo ela, no início do século 21, pesquisadores ligados majoritariamente à USP, sobretudo à área de Teoria Literária e Literatura Comparada, criaram e publicaram uma revista de crítica de literatura brasileira que, desde o título, Rodapé (referência à atividade do crítico nos rodapés de jornais), dialogava com a obra de Candido. “Antonio Candido produziu nos rodapés, como se sabe, não apenas ensaios que tiveram depois seu destino em livros, nos quais se tornaram referência sobre uma gama diversa de autores, mas também textos acerca da própria atividade crítica e da função da crítica e do crítico”, afirma.
Há também ensaios a respeito de escritores brasileiros sobre os quais Antonio Candido escreveu, como é o caso de Oswald de Andrade, analisado pela professora Maria Augusta Fonseca em Antonio Candido Leitor de Oswald de Andrade, em que pontua questionamentos, concordâncias e controvérsias, e do ensaio de Yudith Rosenbaum, A Dupla Face de Um Crítico: Notas sobre O Homem dos Avessos, de Antonio Candido, sobre a análise que o crítico faz da obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Ou ainda em Candido: na Trama das Lembranças de Drummond e Murilo, de Cleusa Rios Passos, que analisa Poesia e Ficção Autobiográfica, texto em que Antonio Candido aborda a questão da memória em autores mineiros, detendo-se especialmente em Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes.
Mas, se era de uma família de médicos, como Candido seguiu o caminho da literatura? Como conta o próprio Antonio Candido no texto Como e Por Que Sou Crítico, “o meu impulso incoercível foi sempre ler, ler sem parar a partir dos meus 6 ou 7 anos, inclusive textos sobre obras e autores, chegando a folhear desde cedo com prazer a História da Literatura Brasileira, de Sílvio Romero, o que talvez indique a predisposição misteriosa para a crítica”. E seu início não poderia ser mais promissor: quando era estudante da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, no começo de 1941, recebeu um convite de Alfredo Mesquita e Lourival Gomes para ser o encarregado da seção de livros de uma revista. “Respondi alarmado que não tinha qualquer experiência disso e não poderia aceitar. Eles não me ouviram, fundou-se a revista Clima e eu me tornei o seu crítico literário.”
A revista Literatura e Sociedade – Antonio Candido e a Literatura, do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, está disponível na íntegra, gratuitamente, neste link.
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