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Um conjunto de oratórios barrocos proveniente da Coleção Casagrande, ao lado de itens raros do acervo textual e iconográfico da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP, estão na mostra Oratórios Brasileiros em Textos e Imagens, que será inaugurada nesta quarta-feira, dia 12 de fevereiro, na BBM. Com curadoria da pesquisadora Silveli Maria de Toledo Russo, a mostra parte da sua pesquisa na BBM sobre documentos de repertório religioso, e se completa com os 44 oratórios dos séculos 17 e 18 reunidos ao longo de mais de 30 anos pelo colecionador e juiz paulistano Ary Casagrande Filho, para contar a história do cotidiano rural e urbano da sociedade colonial brasileira..
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Os oratórios revelam aspectos marcantes da sociedade colonial brasileira – Fotomontagem Jornal da USP…
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Mais do que simples objetos de devoção, os oratórios se tornaram parte relevante da tradição brasileira e item fundamental para o estudo da história do País, em especial do período colonial. Trazidos pelos colonizadores portugueses, ganharam nas mãos de artesãos diversas formas e adereços e foram se espalhando pelas fazendas, senzalas e residências através dos séculos. “Na época, com distâncias muito grandes e um pequeno número de padres, a presença dos oratórios em moradias ou espaços públicos acabava fazendo o papel de uma pequena capela”, explica Silveli, que é doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura de Urbanismo (FAU) da USP e pesquisadora residente da BBM.
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.Entre os documentos expostos estão manuscritos setecentistas e oitocentistas da Igreja – como os compromissos de irmandades religiosas, que apresentam capitulares ricos em ornamentações, com destaque para o estatuto da Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da Freguesia de São José da Barra Longa, em Mariana (MG), além de narrativas textuais e iconográficas produzidas por memorialistas estrangeiros estabelecidos no Brasil. É o caso do viajante francês Jean-Baptiste Debret, que produziu diversos desenhos ao longo de sua permanência no Brasil, entre 1816 e 1831, que serviram de inspiração para as gravuras/litografias de Thierry Frères, em 1839. A mostra ainda traz obras literárias que retratam a religiosidade, caso de Senhora e A Viuvinha, de José de Alencar.
Cenas religiosas
Silveli cita, entre outros textos, o do jesuíta austríaco Antônio Sepp von Rechegg (1655-1733), que em seu livro Viagem às Missões Jesuíticas e Trabalhos Apostólicos, escrito no final do século 17 e o início do século 18, informa que nos procedimentos de instalação de uma nova redução havia habitualmente a presença de oratórios “portáteis”, que acolhiam imagens religiosas de pequeno e médio porte. A curadora destaca ainda o desenhista alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858), que relata em Viagem Pitoresca através do Brasil (1825-1830) os costumes dos habitantes do País: “Com o objetivo de estender as celebrações da Igreja às fazendas mais distantes, bem como aos escravos que nelas habitam, há padres que, em certas épocas do ano, percorrem o País, carregando um pequeno altar, que colocam no lombo do cavalo ou da besta”, descreve o autor alemão. Segundo Silveli, Rugendas se refere aqui ao oratório consagrado para ser utilizado como altar, que deve, obrigatoriamente, incluir a Pedra d’Ara, uma peça, que, normalmente feita em mármore, é utilizada para guardar relíquias de santos.
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Para ilustrar a vida religiosa típica do Brasil colonial, estão expostos dois tipos de oratórios devocionais: os domésticos, ou seja, aqueles utilizados no ambiente residencial (nos espaços comuns, salão e dormitório), e outros de caráter provisório e eventual, usados em expedições – por terra ou marítimas. Ainda na categoria itinerante, há os oratórios de esmoler que, circunscritos ao espaço urbano, eram destinados a arrecadar recursos para a construção de templos para associações religiosas ou mesmo prestar auxílio aos que necessitavam da caridade alheia. O colecionador Ary Casagrande Filho destaca um oratório de viagem do século 17, um dos mais antigos e raros de sua coleção, e um oratório de alcova com imagem de Santo Antônio, atribuído a Aleijadinho, além das chamadas lapinhas, com cenas de nascimento e morte de Cristo.
Segundo a curadora, “os oratórios representam a expressão de fé ao agregarem os fiéis devotos para as práticas da oração e meditação, com um singular repertório de imagens religiosas, em esculturas e pintura, corroborando o entendimento do universo simbólico da vida cotidiana e dos costumes no interior das moradias na sociedade colonial brasileira”. Para ela, a exposição aproxima os visitantes das práticas religiosas e da devoção católica na sociedade colonial e abre espaço para uma profícua troca de ideias no domínio do patrimônio bibliográfico, do intercâmbio artístico e da interlocução patrimonial de objetos de cunho devocional.
A exposição Oratórios Brasileiros em Textos e Imagens será inaugurada nesta quarta-feira, dia 12 de fevereiro, às 17 horas, e ficará em cartaz até 28 de abril, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 18h30, na Sala Multiuso da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP (Rua da Biblioteca, 21, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 2648-0310 e no site da biblioteca.