Obras do Romantismo alemão compõem primeiro concerto da Ocam em 2024

Orquestra de Câmara da USP se apresenta neste sábado e domingo, em São Paulo

 14/03/2024 - Publicado há 1 mês

Texto: Ricardo Thomé*

Arte: Felipe Elessu**

A Orquestra de Câmara da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP foi fundada em 1995 e é integrada por alunos do Departamento de Música da ECA – Foto: Cecília Gidali

A temporada 2024 da Orquestra de Câmara (Ocam) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP começa neste fim de semana com o primeiro concerto da série Encruzilhadas: Harmonias em Contraste. O concerto será apresentado neste sábado, dia 16, às 16 horas, na Cidade Universitária, em São Paulo, e no domingo, dia 17, às 11 horas, no Instituto Tomie Ohtake, também em São Paulo.

Nas duas ocasiões, a Ocam vai exibir três obras do Romantismo alemão: a Abertura em Dó Maior, de Fanny Mendelssohn Hensel (1805-1847), as Variações de Um Tema de Joseph Haydn, de Johannes Brahms (1833-1897), e a Sinfonia Número 4 em Dó Menor, “Trágica”, de Franz Schubert (1797-1828). A regência será do maestro André Bachur, regente-adjunto da Ocam. Os encontros terão a participação do professor Mário Videira, do Departamento de Música da ECA, que falará sobre o Romantismo na arte alemã.

O maestro André Bachur vai reger os dois concertos da Orquestra de Câmara da USP neste fim de semana — Foto: Cecília Gidali

Fanny Mendelssohn, Brahms e Schubert

A obra que abre o concerto, de Fanny Mendelssohn Hensel, foi composta por volta de 1830 e publicada só no final do século passado. Videira lembra que a compositora viveu ofuscada pelo irmão, o também compositor Felix Mendelssohn Bartholdy (1809-1847), e estava restrita a se apresentar em eventos privados. “Principalmente para uma mulher da classe social elevada como ela, não era esperado que tocasse em público ou publicasse suas peças”, diz o professor.

Johannes Brahms, uma das maiores figuras da música alemã – considerado um dos “três Bs” (Bach, Beethoven e Brahms) –, antes de se sentir preparado para compor sinfonias, dedicou-se às variações de tema. Ao todo, constam dele oito variações e uma final, em formato de chacona, que também é uma forma de variação. “Ou seja, ele faz variações dentro das variações”, diz Videira. Embora a obra a ser apresentada pela Ocam se refira a Haydn, provavelmente a composição que gerou a variação de Brahms não é de autoria do compositor austríaco. “Musicólogos dizem que provavelmente não era obra de Haydn, mas Brahms acreditava que era e, por ter interesse em músicas de compositores anteriores a ele, decidiu executá-la.”

O professor Mário Videira, do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, vai participar dos concertos falando sobre o Romantismo na arte alemã – Foto: Reprodução/Facebook

Franz Schubert, por sua vez, é mais conhecido pelas canções que escreveu – mais de 600. A sua Sinfonia Número 4, que está no programa da Ocam deste fim de semana, não se encontra entre as mais conhecidas do compositor – lugar dedicado à Sinfonia Número 8, “Inacabada”, e à Sinfonia Número 9. Ela tem a mesma tonalidade da 5ª Sinfonia de Beethoven, dó menor. “Essa tonalidade está associada à escuridão e aos afetos trágicos. Por isso o subtítulo Trágico na sinfonia”, explica Videira.

Para o professor, tanto Brahms como Schubert demoraram a compor sinfonias devido à forte influência de Beethoven. Segundo ele, as obras de ambos podem ser vistas como uma resposta à pergunta “O que fazer depois de Beethoven?”. “São respostas que cada um desses compositores deu para o problema da sinfonia ou da música instrumental pura depois de Beethoven”, reflete Videira.

O subtítulo do concerto da Ocam – Harmonias em Contraste – não poderia fazer mais sentido quando se analisam as obras e os compositores presentes no concerto. Existem muitas semelhanças e muitas diferenças entre eles, seja na origem, seja na execução. Todos, porém, atendem ao princípio da “música absoluta”, definido por Videira como “a ideia de que a música instrumental é pura e não está ligada nem a um texto nem a uma história nem a um programa. É a música baseada na própria música, com uma lógica própria, como uma pintura abstrata”. Para o professor, isso revelaria a própria essência da arte, contribuindo para o que considera o “grau máximo de relação” da música com a literatura e com a filosofia, no contexto do Romantismo Alemão.

Bachur complementa, lembrando que as “encruzilhadas” podem ser vistas nas obras em suas possibilidades e contrastes, sempre visando ao que ele chama de “momento de decisão”. “É um momento que concentra tudo o que já foi, o que está sendo e o que será no futuro. E a encruzilhada tem tudo a ver com a mensagem que queremos passar e com a própria Ocam, que vive um momento de transição”.

Para esta temporada de 2024, além da troca no quadro de instrumentistas, que ocorre todos os anos, a Ocam experimenta também a troca da direção artística: sai o maestro Gil Jardim, regente titular desde 2001, e entra o maestro Ricardo Bologna.

O Centro Cultural Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária, receberá a Orquestra de Câmara da USP neste sábado, dia 16, às 16 horas - Foto: Cecília Gidali

A introdução das rodas de conversa e bate-papos nos dias de concerto já é uma mudança da nova direção, além do ganho de experiência e contribuição para a formação dos músicos. “A temporada apresenta muitas facetas e variações: teremos música popular brasileira, contemporânea, músicas do século 20… É uma oportunidade de reinvenção”, finaliza Bachur.

A Orquestra de Câmara da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP — Foto: Cecília Gidali

O concerto Encruzilhadas: Harmonias em Contraste, da Orquestra de Câmara (Ocam) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, acontece neste sábado, dia 16, às 16 horas, no Centro Cultural Camargo Guarnieri (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, em São Paulo), e neste domingo, dia 17, às 11 horas, no Instituto Tomie Ohtake (Rua Coropé, 88, Pinheiros, em São Paulo, próximo à estação Pinheiros do Metrô). A entrada é grátis nos dois dias. No concerto do dia 16, o ingresso consiste na doação de 1 quilo de alimento não perecível, que será distribuído a comunidades carentes do bairro do Butantã, vizinho à Cidade Universitária, em São Paulo.

* Estagiário sob supervisão de Roberto C. G. Castro
** Estagiário sob supervisão de Moisés Dorado


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