Mostra situa o espectador no mundo globalizado

Na exposição “Fora da Ordem”, o visitante encontra 137 trabalhos do acervo da Coleção Helga de Alvear, que reúne obras de artistas da Europa, América, Ásia e África. Os brasileiros Iran do Espírito Santo, José Damasceno e Jac Leirner estão presentes

 05/07/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 23/04/2018 às 14:13
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Instalações, vídeos, esculturas, pinturas, desenhos, fotografias e gravuras de artistas de todos os continentes estão reunidos na mostra “Fora da Ordem – Coleção Helga de Alvear” - foto Cecília Bastos
Instalações, vídeos, esculturas, pinturas, desenhos, fotografias e gravuras de artistas de todos os continentes estão reunidos na mostra “Fora da Ordem – Coleção Helga de Alvear” – foto Cecília Bastos

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O nome da exposição já orienta o visitante a se perder e a se achar pela Pinacoteca, no centro de São Paulo. “Fora da Ordem – Obras da Coleção Helga de Alvear” apresenta 137 trabalhos, entre instalações, vídeos, fotos, gravuras e pinturas, que estão pelas paredes, no chão ou espalhadas pelo espaço entre salas às vezes caóticas e outras especialmente minimalistas. Uma desordem, na verdade, aparente e intrigante. As obras estabelecem um diálogo e uma reflexão entre si. Propiciam ao espectador a sensação de estar pelo mundo globalizado com seus apelos, informações, pressões. E, o mais importante, trazem indagações e questionamentos próprios da boa arte contemporânea.

As obras são do acervo de Helga de Alvear, uma colecionadora e galerista alemã de 80 anos radicada em Madri, na Espanha. Com 3 mil itens, é considerado um dos mais importantes de arte contemporânea da Europa. “Fora da Ordem” é resultado de três anos de pesquisa dos curadores Ivo Mesquita e José Augusto Ribeiro, do Núcleo de Pesquisa em História e Crítica de Arte da Pinacoteca.

“Nós desenvolvemos um estudo sobre a coleção para selecionar os trabalhos que integram esta mostra”, explica  José Ribeiro, doutorando da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. “Há trabalhos em linguagens, materialidades e conformações diversas, que variam, em dimensão física, da escala da mão à da arquitetura. Reúne núcleos importantes de fotografia do começo do século passado; da arte feita nos Estados Unidos desde 1950; de artistas alemães e espanhóis de gerações e vertentes distintas; e da produção de vídeo e instalação que se difunde em âmbito internacional de 1980 para cá.”

Na avaliação dos curadores, outro aspecto pontual da atuação da colecionadora é o seu compromisso com a visibilidade pública do acervo, apresentado em mostras temporárias organizadas no Centro de Artes Fundación  Helga de Alvear, criado em 2006 e com sede em Cáceres, na Espanha.

A exposição faz um foco nas obras posteriores a 1960. Porém, há trabalhos anteriores, que abriram caminho para a arte moderna e contemporânea. Um exemplo é a sutileza da aquarela, colagem e nanquim sobre papel de Wassilly Kandinsky, uma obra de 1933 que delineia a composição de um espaço de artistas de sua época convivendo com outros contemporâneos. Nessa sala minimalista, destacam-se as linhas e os grafismos das fotografias em preto e branco, de 1965, do casal alemão Bernd e Hilla Becher, conhecidos pelos registros que aliam a poesia e a objetividade da era pós-industrial.

Obras e artistas

Exposição ‘Fora da ordem – Obras da Coleção Helga de Alvear’ - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Exposição “Fora da Ordem – Coleção Helga de Alvear” – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

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“Fora da Ordem” marca as diferenças entre as obras e os artistas. Mas também sugere os pontos de conexão, caminhando entre duas vertentes. “Esta mostra destaca a recorrência de dois tipos de trabalho na coleção: um com formas simples, autorreferentes e seriadas, muitas vezes associado às vertentes construtivas, ao minimalismo, à arte conceitual, e outro marcado por sugestões imaginosas, narrativas e pelo humor, com imagens de assombro e desconcerto”, esclarece Ivo Mesquita, ex-diretor da Pinacoteca e pós-graduado pela ECA.

São duas vertentes de trabalhos predominantes na coleção, mas que normalmente são vistas como antagônicas na história da arte. De um lado, estão obras de inclinação surrealista, com alta voltagem imaginativa, que sugerem situações fantasiosas. E, de outro, peças de linguagem geométrica, com formas simples, seriais e autorreferentes, ligadas às vertentes construtivas, à pintura hard-edge, ao minimalismo norte-americano e a manifestações europeias do chamado pós-minimalismo.”

Os corredores e as salas abordam o visitante com obras, algumas irônicas, outras reflexivas. Mas, como bem lembra o curador Ribeiro, “vale o atrito”. Ou como ressalta Tadeu Chiarelli, diretor da Pinacoteca e professor da ECA, “interessante é o paradoxo da arte contemporânea”.

Em uma das paredes está Marcel Duchamp, com O Grande Vidro e Trabalhos Relacionados, volume 1. A obra é um livro do autor dentro de uma caixa de acrílico publicado pela Schwarz Gallery, de Milão. Contém nove gravuras originais do artista e 144 reproduções fac-símile com os estudos para a criação de O Grande Vidro, projetado entre 1912 e 1923.

Para estabelecer uma conversa com Duchamp, há uma instalação do português José Pedro Croft, criada em 2003, com várias estruturas de ferro, vidro e espelhos, que refletem o espaço e o movimento do público.

“Fora da Ordem” faz também uma referência ao cotidiano da metrópole, em obras críticas como a Maquete do Hotel para Pássaros, colorida e convidativa. No contraponto, a exposição sugere a serenidade do espaço doméstico, com uma série de imagens de salas, quartos e retratos criadas pelo alemão Thomas Ruff entre 1980 e 1984. No centro desse ambiente, a instalação do americano Mike Kelley. Uma manta de lã sobre um tapete de algodão com desenho geométrico está ali aguardando um encontro. Daí o título da obra, Dois Afegãos.

O encontro ou desencontro entre as pessoas está na obra da paulistana Jac Leirner. Ela enfileirou horizontalmente os cartões de visita que foi colecionando e criou uma espécie de linha na parede chamada Prazer em Conhecê-lo. O paulista de Mococa Iran do Espírito Santo também traz uma série de cinco obras, de 2010, com grafismos que se repetem. Um rotulador permanente sobre papel, destacando a tinta preta, que vai se esvaindo até o cinza quase branco da última imagem.

Também o escultor José Damasceno criou, em 2001, a obra Durante o Caminho Vertical, feita a partir do papel de listas telefônicas da Espanha. Os papéis vão compondo uma espécie de colunas semelhantes a troncos de árvores. Dispostas em semicírculo, sugerem uma caminhada que não sai do lugar.
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A exposição “Fora da Ordem – Obras da Coleção Helga de Alvear” está em cartaz até 26 de setembro, de quarta a segunda-feira, das 10h às 17h30, na Pinacoteca do Estado de São Paulo (Praça da Luz, 2, Luz, em São Paulo). Ingressos: R$ 6,00. Grátis aos sábados. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3324-1000 e no endereço eletrônico www.pinacoteca.org.br.

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