Exposição retrata influência da Bauhaus em construções ao redor do mundo

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP apresenta registros feitos por fotógrafo alemão em três continentes

 25/10/2023 - Publicado há 6 meses

Texto: Adrielly Kilryann*
Arte: Carolina Borin**

Mostra está disponível para visitação até 4 de novembro - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP apresenta a exposição ba1haus_hybrid. Até 4 de novembro, o público pode conferir uma seleção da obra do fotógrafo e diplomata alemão Jean Molitor, no Salão Caramelo da faculdade. São 36 fotos inéditas no Brasil que registram a influência da Bauhaus ao redor da América Latina, África e Ásia. A mostra é uma homenagem à Bauhaus, escola de arte vanguardista da Alemanha que marcou época entre as décadas de 1920 e 1930 e foi uma das maiores e mais importantes expressões do que é chamado modernismo no design e na arquitetura. 

Nascido em 1960 na cidade de Berlim, na então Alemanha Oriental, Jean Molitor estudou na Academia de Belas Artes de Leipzig, uma das escolas de arte mais antigas da Alemanha. Desde 2009, o fotógrafo e documentarista alemão investiga a estética da escola de artes da Bauhaus, bem como seu legado ao redor do mundo. Hoje, é especialista em fotografia urbana e arquitetônica e já visitou mais de 70 países. Em suas visitas, a expressão da arquitetura moderna em seu trabalho se tornou recorrente.

A mostra faz parte da programação do XV Seminário Docomomo Brasil 2023, que aconteceu no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP entre 17 e 21 de outubro. O evento teve como tema a “arquitetura e urbanismo e a reconstrução do estado e da sociedade” e boa parte das atividades aconteceu no Salão Caramelo, o que motivou a instalação da exposição no espaço.

Com curadoria de Ivo Giroto, pós-doutor e professor do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da FAU, e montagem de Lucas Bottan Camello e Lucas Silva Rocha, ba1haus_hybrid traz 36 fotografias que valorizam a arquitetura nos países integrantes do que hoje é conhecido como Sul Global. “Nós achamos interessante deixar de fora exemplares que já são muito conhecidos na Europa e nos Estados Unidos a partir da produção da Bauhaus dos anos 1920 e privilegiar como essa produção se disseminou pelo mundo”, conta o curador. “É importante pensar como nesses lugares [do Sul Global] essa produção foi apropriada, modificada e transformada em outras coisas, a partir da criatividade dos diferentes países e arquitetos do planeta.”

Ivo Giroto - Foto: Lattes

Através da exposição, Giroto, que estuda a cultura urbana e a arquitetura moderna e contemporânea, sobretudo no Brasil e na América Latina, pretende expor a disseminação da estética modernista pelos três continentes. O professor conta que, através das fotografias, é possível observar como muitas tipologias e soluções de projetos se repetem em países distintos. “Às vezes, ao olhar para uma determinada obra, se não tiver legenda, você não consegue saber se ela fica em Cuba ou na Indonésia, por exemplo.”

Prédios residenciais e comerciais, hospitais, cinemas, universidades e até mesmo um posto de gasolina: a estética modernista se destaca em diferentes bairros e pontos turísticos, desde o surgimento da Bauhaus até hoje. As fotos demonstram como a escola de arte vanguardista alemã influenciou diferentes tipos de construções ao longo do tempo. “Por outro lado, em muitos outros casos, isso demonstra uma dimensão do colonialismo intelectual, ou seja, de como isso vem dos países então chamados centrais, com muito fluxo dessa intelectualidade de lá para cá”, explica Giroto.

A ideia das fotografias vai muito além da disseminação de um estilo arquitetônico. Na introdução da exposição, a equipe declara que “as imagens retratam a propagação de um ideário ligado ao mundo industrial em regiões pouco ou não industrializadas, testemunhando assimilações e traduções de seus pressupostos a condições radicalmente diferentes da centro-europeia”.

“Enquanto algumas procuram fidelidade ao código bauhausiano, outras se aproximam da linguagem corbusiana e, em alguns casos, parecem até mesmo evocar a estética leve do modernismo carioca”, escreve a equipe, citando também o arquiteto francês de origem suíça Le Corbusier (1887-1965). Para Giroto, é possível observar que nos exemplares expostos há uma atitude transgressora e transformadora dos arquitetos e da arquitetura desses lugares do Sul Global. “Nesse caminho de tradução entre uma coisa e outra, essa linguagem vai se transformando quase que em uma nova língua.”

Influenciadas pelas características estilísticas tão demarcadas da Bauhaus, muitas das obras adquirem novas variações e se adaptam aos contextos e espaços que ocupam. O uso constante da fotografia em preto e branco por Molitor, neste caso, valoriza as linhas e formas geométricas que compõem a arquitetura dos prédios e casas.

A arquitetura moderna também é valorizada pela própria instalação das fotografias. Elas estão dispostas em 12 cavaletes de vidro, que conferem transparência e leveza às obras, como se estivessem flutuando pelo salão. “Minha intenção foi colocar obras que dialogam entre si no mesmo cavalete, seja porque são análogas, ou seja, as soluções projetuais são muito próximas, ou por destoarem muito e saírem dessa linguagem mais identificável com o que foi produzido na Bauhaus a partir dos anos 1920”, detalha Giroto.

O olhar de Molitor não se restringe, no entanto, às composições arquitetônicas. As paisagens e comunidades urbanas e a interação das pessoas com as construções revelam o trabalho de urbanismo presente por trás de cada um dos locais que o fotógrafo decidiu registrar. A presença de pessoas, por vezes sutil, contribui para a noção de dimensão e tridimensionalidade das obras.

* Sob orientação de Marcello Rollemberg

A exposição ba1haus_hybrid fica em cartaz até 4 de novembro, todos os dias, no Salão Caramelo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP (Rua do Lago, 876, Cidade Universitária, Butantã, em São Paulo). Mais informações estão disponíveis no site da FAU.


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