Especialistas analisam na USP as Jornadas de Junho, dez anos depois

Evento acontece nos dias 5 e 6 de junho, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

 01/06/2023 - Publicado há 11 meses

Texto: Rebeca Fonseca

Arte: Joyce Tenório

Uma das manifestações das Jornadas de Junho, em 2013 - Foto: Maria Objetiva/Flickr

Um exemplo recente da história política brasileira de que as pessoas podem se organizar e se mobilizar a favor de pautas legítimas. Assim o professor Sean Purdy, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, se refere às manifestações populares ocorridas no Brasil em 2013, que serão analisadas por especialistas nos próximos dias 5 e 6, na FFLCH, durante o evento 10 Anos Desde as Jornadas de Junho: Reflexões Críticas, organizado por Purdy.

O evento convida pesquisadores e participantes das chamadas Jornadas de Junho para abordarem seus vários aspectos. Há uma década, protestos contra o aumento de R$ 0,20 na passagem de ônibus e metrô foram convocados pelo Movimento Passe Livre (MPL) em várias cidades do País. A mobilização cresceu e outras demandas, como a melhoria dos serviços públicos de saúde e educação, foram acrescentadas. 

O professor Sean Purdy, organizador do evento - Foto: Gabriel Gama/JC

No primeiro dia de evento, serão analisados os governos petistas de 2003 a 2016, assim como os movimentos sociais brasileiros do século 21 e suas interlocuções com levantes mundiais. No dia seguinte, um debate sobre a ascensão da extrema direita será seguido por um balanço crítico final sobre as Jornadas.

São Paulo será o foco das discussões, mas Sean Purdy ressalta que as manifestações tiveram histórias regionais diferentes. Segundo o professor, em 2013 os protestos foram progressistas e, após a revogação da mudança na tarifa, forças da direita começaram a pautar a agenda das rebeliões seguintes. Mas esse não foi o caso em todas as cidades do País. 

“Em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, o movimento era progressista, mas há relatos de que em outras capitais não houve mobilização da esquerda no início das Jornadas e forças conservadoras intervieram mais rápido”, detalha Purdy, que é pesquisador de movimentos operários e sociais e leciona História das Américas na FFLCH.

As Jornadas se encaixam em um ciclo de insatisfação mais amplo, diz Purdy. O professor destaca a necessidade de contextualizá-las frente à onda de greves que ocorriam no País havia dois anos, assim como o desgaste do modelo econômico do PT.

O professor Ruy Braga, do Departamento de Sociologia da FFLCH, que estará presente no primeiro dia de evento, argumenta que as manifestações foram um momento de contestação popular do sistema político. “A explosão de protestos revela a flagrante insatisfação de setores jovens que entraram no mercado de trabalho nos dez anos anteriores e que não se viam representados por sindicatos e lideranças políticas”, diz.

O professor Ruy Braga - Foto: Arquivo pessoal

Há uma disputa de sentidos sobre o que aconteceu em 2013. Uma das interpretações é a de que existe uma linha de continuidade entre essas manifestações e as que reivindicaram o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2015. 

Para Braga, essa relação de causa e consequência é equivocada. “Os protestos de 2015 são uma espécie de espelho, porque invertem as características de junho de 2013. Eles são liderados por pessoas mais velhas e de classes mais altas e têm uma agenda contrarreformista.” 

A multiplicidade de narrativas se dá pelo fato de que as Jornadas abrem um novo momento da política brasileira, acredita Braga. “Esse ciclo de rebeliões inaugura um aumento no número de greves no País, abre uma nova conjuntura política muito polarizada e reconfigura os atores da esquerda e da direita.”

O evento 10 Anos Desde as Jornadas de Junho: Reflexões Críticas acontece nos dias 5 e 6 de junho, das 17 às 22 horas, no Auditório Nicolau Sevcenko do Edifício Eurípedes Simões de Paula (Avenida Professor Lineu Prestes, 338, Cidade Universitária, São Paulo). Entrada grátis. Não é preciso fazer inscrição. Mais informações estão disponíveis no site da FFLCH.


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