Caio Prado Júnior em 1941 - Fotomontagem sobre fotos via Agência Fapesp e Arquivo IEB

Acervo mostra a militância política e cultural de Caio Prado Júnior

Documentos do intelectual paulista podem ser pesquisados no Instituto de Estudos Brasileiros da USP

10/02/2021

Por Redação

Boa parte da história política e cultural do Brasil no século 20 está preservada nos documentos deixados pelo intelectual paulista Caio Prado Júnior (1907-1990), hoje sob os cuidados do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP. No total, estão reunidos ali 16.400 itens sobre Prado Júnior, que se relacionam com sua formação, sua militância no Partido Comunista, a fundação da Editora Brasiliense – criada por ele em 1943 – e sua vasta produção intelectual, incluindo o livro Formação do Brasil Contemporâneo, de 1942, um dos grandes clássicos da sociologia brasileira, ao lado de Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, e Formação Econômica do Brasil, de Celso Furtado.

A coleção de Prado Júnior é um dos destaques do projeto Acervos do Mês, do IEB, que tem o objetivo de divulgar os acervos sob a guarda do instituto. Além dos documentos relacionados com o autor de Formação do Brasil Contemporâneo, o projeto contempla neste mês outras duas coleções – a da professora e crítica de arte Aracy Amaral, ex-diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, que no próximo dia 22 completa 91 anos, e a da atriz ítalo-brasileira Lélia Abramo (leia o texto abaixo).

Os papéis de Caio Prado Júnior são de valor inestimável. Entre eles estão, por exemplo, os manuscritos de Formação do Brasil Contemporâneo e de suas outras grandes obras, como Evolução Política do Brasil, Dialética do Conhecimento e A Revolução Brasileira. Fotografias de comícios com a presença do líder comunista Luís Carlos Prestes, correspondências e imagens da época de estudante da Faculdade de Direito do Largo São Francisco – hoje ligada à USP -, nos anos 20, também fazem parte da coleção. Sobre a Brasiliense, há contratos entre a editora e Monteiro Lobato para a publicação das obras completas do escritor, balanços financeiros, carta de cessão de direitos autorais das obras de Lima Barreto, concedida pelos herdeiros, e cartões de felicitações, entre outros itens.

O intelectual paulista Caio Prado Júnior - Foto: Fundo Caio Prado Jr. IEB-USP via Aun USP

Nascido na cidade de São Paulo em 11 de fevereiro de 1907 – portanto, há exatos 114 anos -, Caio Prado Júnior iniciou a vida política ainda na juventude, quando se filiou ao recém-formado Partido Democrático, como se lê no site do IEB. “Participou também da Aliança Liberal que apoiou Getúlio Vargas na Revolução de 1930. Em 1934, participou da fundação da Associação dos Geógrafos do Brasil. Insatisfeito com o planejamento político do Partido Democrático, aderiu ao Partido Comunista e passou a pensar e organizar a ideologia do partido junto ao proletariado. Em 1937, o historiador exilou-se na Europa, onde continuou com suas atividades políticas. Retornando ao Brasil em 1939, atuou como militante comunista, sendo eleito pelo Partido Comunista Brasileiro, em 1945, deputado estadual e, em 1947, deputado constituinte. Porém, em 1948, teve o seu mandato cassado.” Em 1966, recebeu o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano, concedido pela União Brasileira de Escritores.

Embora tenha obtido o título de livre-docente na Faculdade de Direito da USP, Caio Prado Júnior nunca foi professor da Universidade. Mesmo assim, ele foi incluído no decreto do governo federal de 29 de abril de 1969 que, com base no Ato Institucional Número 5 (AI-5), de dezembro de 1968, cassou 24 professores da USP – entre eles, Fernando Henrique Cardoso, José Arthur Gianotti, Isaías Raw, Emília Viotti da Costa e Mário Schenberg. A respeito dessa época, o acervo do IEB também guarda documentos do intelectual. Um deles é uma certidão da Justiça Militar sobre o “processo, condenação e absolvição” de Caio Prado Júnior, datada de 10 de julho de 1973.

A relação dos documentos do Acervo Caio Prado Júnior do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP está disponível neste link.

Coleções de Aracy Amaral e Lélia Abramo destacam arte e cultura

A professora, curadora e crítica de arte Aracy Amaral – Foto André Seiti/Divulgação

As outras duas coleções destacadas pelo projeto Acervos do Mês, do IEB – relacionadas à professora Aracy Amaral e à atriz Lélia Abramo (1911-2004) -, são tão enriquecedoras como a de Caio Prado Júnior.

De Aracy Abreu Amaral somam-se 15.619 documentos, que se referem à sua atuação como professora da USP, crítica de arte, curadora e jornalista. Como informa o site do IEB, ela se graduou em Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo em 1959. Em 1969 tornou-se mestre em História da Arte pela então chamada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP. Em 1975, concluiu seu doutorado na Escola de Comunicações e Artes (ECA), também da USP.  Dirigiu a Pinacoteca do Estado de São Paulo entre 1975 e 1979 e, de 1982 a 1986, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. Colaborou com vários jornais e realizou curadorias para exposições no Brasil e no exterior. “Em 1982, recebeu o prêmio Jabuti pela obra A Hispanidade em São Paulo, além de publicar outras obras de relevância, como As Artes Plásticas na Semana de 22, desdobramento de seu mestrado. Outros de seus títulos publicados são: Tarsila, sua Obra e seu Tempo (1975), Arte Para Quê? (1984) e Textos do Trópico de Capricórnio (2006)”, destaca o site. Atualmente Aracy Amaral é professora titular de História da Arte da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. A relação dos itens da coleção da professora está disponível neste link

A atriz Lélia Abramo - Foto: Reprodução/Alchetron

Já o acervo ligado à atriz Lélia Abramo se encontra ainda em fase de catalogação e, por isso, não está disponível para consulta. Como destaca o site do IEB, Lélia teve expressiva atuação no campo artístico e político militante de esquerda no Brasil. “Foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores e participou ativamente da campanha Diretas Já, que reivindicou eleições diretas para a presidência da República. Participou de 20 peças de teatro, 14 filmes e 27 telenovelas, tendo convivido com grandes nomes do teatro paulista, como Gianfrancesco Guarnieri – com quem estreou nos palcos, em 1958, a peça Eles Não Usam Black-Tie. Sua militância política custou-lhe a carreira televisiva.”

Em 1997, Lélia Abramo escreveu a autobiografia Vida e Arte: Memórias de Lélia Abramo. No prefácio do livro – destaca ainda o site -, o professor da USP e crítico literário Antonio Candido (1918-2017) cita a “carreira surpreendente” da atriz, que marcou o seu tempo e, no entanto, começou a pisar os palcos depois dos 40 anos e só aos 47 entrou no estágio profissional. “Mas com uma força e um brilho que fizeram dela figura eminente na dramaturgia brasileira do nosso tempo.”


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