Com o teste rápido molecular para tuberculose, os poucos leitos de isolamento respiratório existentes nos hospitais do Brasil podem ser liberados mais rapidamente por pacientes com a doença, o que é de grande utilidade no combate à pandemia da covid-19. Foto: SECOM/Salvador

Teste único é capaz de diagnosticar tuberculose rapidamente e liberar leitos de isolamento respiratório

Teste rápido molecular distribuído pelo Ministério da Saúde é tão eficaz quanto os três exames de baciloscopia usados no diagnóstico tradicional de tuberculose

03/06/2020
Por Vitoria Pierri

Três exames de baciloscopia para diagnóstico de tuberculose podem ser reduzidos a um. O teste rápido molecular detecta a presença do bacilo da tuberculose em menos de duas horas. Dessa forma, os poucos leitos de isolamento respiratório existentes nos hospitais do Brasil podem ser liberados mais rapidamente por pacientes com tuberculose, o que é de grande utilidade no combate à pandemia da covid-19.

A tuberculose é causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, ou Bacilo de Koch (BK). É uma doença infecciosa e transmissível, que acomete principalmente os pulmões, embora possa atingir outros órgãos do corpo. Tosse seca, expectoração com sangue, febre, dor no peito, fadiga e perda de peso são sintomas apresentados por pessoas infectadas. Porém, mesmo se tratando de uma doença que tem cura, a tuberculose é a causa da morte de, em média, 4,5 mil pessoas por ano no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde.

Foto: SECOM/Salvador

Pesquisa desenvolvida no mestrado do biomédico Lucas José Bazzo Menon revelou que o teste rápido molecular é um excelente investimento para o diagnóstico da tuberculose em termos de tempo, custo e liberação de leitos, se comparado ao teste de baciloscopia, confirmando dados de achados internacionais. O estudo, intitulado Tomada de decisão para alta de pacientes em salas de isolamento de infecções transportadas pelo ar: o papel de uma única estratégia GeneXpert MTB/RIF no Brasil, foi desenvolvido no Centro de Pesquisa Molecular em Tuberculose CPM-TB, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP.

A baciloscopia é realizada na suspeita de que a pessoa tenha tuberculose. É um exame tradicional feito com três coletas do escarro do paciente para chegar ao diagnóstico. Até que se obtenha o resultado do exame, o indivíduo é internado em um leito de isolamento respiratório, já que a enfermidade é transmitida de uma pessoa infectada a uma sadia por meio de pequenas partículas de tosse ou espirro. Na pesquisa, os três exames levaram em torno de quatro dias para mostrar o resultado, explica o infectologista Valdes Roberto Bollela, que também participou do estudo junto aos médicos Cinara Silva Feliciano e Mateus Rennó de Campos, além de toda a equipe do Laboratório de Micobactérias do HCFMRP. Portanto, só é permitido ao paciente deixar o isolamento respiratório se os três testes de baciloscopia apontarem resultado negativo para a doença. 

Os resultados do teste PPD dependem do tamanho da reação na pele – Foto: US Federal Government CDC via Wikimedia Commons/Domínio público

A necessidade de três exames de baciloscopia acontece por conta de algumas limitações que o teste apresenta. “Às vezes, o indivíduo pode ter tuberculose, mas o teste dá negativo. Quando eu coleto três amostras, eu tenho mais segurança de que aquele indivíduo que está tossindo, está com febre, que tem alteração no raio-x do pulmão, não tem uma tuberculose que está transmitindo”, explica Bollela. 

Foto: Divulgação/Prefeitura de Maracanaú

Logo, a pesquisa sobre a relação entre o teste rápido molecular e a alta de pacientes em salas de isolamento mostrou que o teste rápido é mais vantajoso também para o tratamento de tuberculose, já que, ao realizar o diagnóstico mais rápido e obter a confirmação da doença, o paciente pode iniciar logo o seu tratamento. Os benefícios do teste rápido se traduzem por sua grande sensibilidade para detectar o DNA do Bacilo de Koch.

Segundo Bollela, quando o resultado do exame aponta negativo, é possível confiar na alta probabilidade de o indivíduo não ter tuberculose. Por isso, o teste torna possível a maior liberação de leitos de isolamento nos hospitais para outros pacientes, como é o caso de pacientes com meningite ou o novo coronavírus.

Além disso, os testes rápidos moleculares têm, a seu favor, o fato de que são disponibilizados pelo Ministério da Saúde desde 2014. O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, por exemplo, recebeu a máquina que realiza o teste há três anos e assim, vem realizando os exames. Os três exames de baciloscopia têm um preço inferior ao teste rápido. No entanto, os benefícios que o teste molecular traz, o torna mais atraente.