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Na pandemia, estudantes da saúde identificaram melhora em algumas habilidades socioemocionais

Universitários perceberam melhora quanto à procrastinação, ao protagonismo nos estudos, à colaboração com os colegas e à abertura para novas experiências. Mas a pandemia também gerou sentimentos de frustração e desmotivação

 12/04/2022 - Publicado há 2 anos

Autoras: Giovanna Grepi e Karla Rodrigues

Arte: Rebeca Fonseca

Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP entrevistaram 954 estudantes da área da saúde, moradores das regiões Sul e Sudeste do Brasil, para um estudo sobre a autopercepção dos impactos da crise mundial na vida acadêmica. O objetivo era identificar como os universitários têm percebido o desenvolvimento ou o aprimoramento de habilidades socioemocionais durante a pandemia.
“Identificamos que os alunos participantes possuem uma forte percepção de que o desenvolvimento e o aprimoramento de habilidades socioemocionais são importantes para o sucesso profissional. Neste sentido, eles perceberam melhora quanto à procrastinação, ao protagonismo nos estudos, à colaboração com os colegas e à abertura para novas experiências”, revela Gilberto Leal, fonoaudiólogo formado pela FMRP e um dos autores do trabalho.
Mesmo, assim, diz Leal, a pandemia afetou negativamente os estudos por gerar sentimentos de frustração e de desmotivação. Os participantes, que responderam um questionário on-line com 25 questões no final de 2020, relataram ainda que viveram sensações de desestabilidade emocional e de diminuição do desempenho escolar durante o primeiro ano de pandemia.

“Frustração e angústia são sentimentos esperados durante períodos de isolamento, como vivenciamos na pandemia. Isso acontece com a população em geral e são causados por fatores estressores, como ausência de liberdade física e menor frequência de interação social. Particularmente entre os alunos, o deslocamento para o remoto contribuiu para a percepção dos sentimentos negativos”, explica Leal.

O fonoaudiólogo aponta que é importante refletir sobre as estratégias acadêmicas para auxiliar os estudantes a lidarem com os desafios. “Muitos estudos têm trabalhado com a temática da saúde mental dos estudantes e é sabido que algumas estratégias podem ser adotadas pelas instituições de ensino, como: desenvolver tutoria para auxiliar no estabelecimento de uma rotina saudável; acompanhar e acolher o estudante, tanto de forma individual quanto em pequenos grupos; e criar encontros virtuais para promover práticas integrativas e/ou complementares”, comenta.

Gilberto Leal

Gilberto Leal – Foto Arquivo Pessoal

Um exemplo de iniciativa de tutoria é o programa Mentoring, que é coordenado pelo Centro de Apoio Educacional e Psicológico (Caep) da FMRP e tem o objetivo de acolher os alunos da graduação do período de adaptação. Os estudantes são inseridos em grupos que funcionam como espaço de conversa, suporte e direcionamento adequado formado por calouros, pares (peers) e mentores.

Habilidades não cognitivas

Também chamadas de soft skills, as habilidades não cognitivas ou socioemocionais são caracterizadas pelas competências que vão além do conhecimento acadêmico. Entre os principais exemplos estão a autonomia, o controle emocional, a sociabilidade, a capacidade de tomar decisões e até a organização.

“Esse desenvolvimento tem sido tão ou mais valorizado do que o conhecimento teórico e prático no mercado profissional e, por isso, deve ser explorado, explica a professora Tatiane Martins Jorge, docente do curso de Fonoaudiologia da FMRP e orientadora do estudo.

A docente ainda explica que as mudanças no modo de aprender e fazer são oportunidades para se desenvolver as habilidades mencionadas. “Apesar da pandemia e outros contextos inesperados provocarem muito medo e frustração, é importante que a gente comece a perceber o que melhorou em nós, muitas vezes, aprendizados que vamos levar para a vida inteira. ”

Tatiane Martins Jorge – Foto Arquivo Pessoal

Outro ponto importante do estudo é que os alunos identificaram o sentimento de protagonismo em relação aos estudos. “Para que um indivíduo atinja a capacidade de ter um bom gerenciamento de tempo, é preciso desenvolver ou aprimorar habilidades como: definir metas, estabelecer planos, gerenciar imprevistos, cumprir prazos, entre outros. Sendo assim, a autopercepção de autonomia no estudo só foi possível graças à continuidade das atividades, mesmo que de forma remota”, finaliza.

O estudo Self-perception of non-cognitive skills among undergraduate health students during Covid-19 foi publicado na Revista Brasileira de Educação Médica. Além de Leal e da professora Tatiane, o artigo conta com autoria dos professores Edson Zangiacomi Martinez e Patrícia Pupin Mandrá, todos da FMRP.

Ouça no player abaixo entrevista dos pesquisadores para o Jornal da USP no Ar, Edição Regional.

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Mais informações: e-mail gilbertoleal@usp.br e tmjorge@alumni.usp.br


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