HC cria protocolos médicos para cuidados com recém-nascidos de mães com covid-19

Conteúdo foi produzido a partir das experiências médicas no Hospital das Clínicas e da revisão de produções científicas

 17/06/2020 - Publicado há 4 anos
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Na falta de evidências científicas sobre a possibilidade de transmissão do novo coronavírus de mãe para filho, médicos do Hospital das Clínicas preparam protocolos de cuidados com os recém-nascidos – Imagem: Pixabay

 

Diante das incertezas e falta de evidências científicas quanto à possibilidade de transmissão do novo coronavírus ao feto por mulheres grávidas diagnosticadas ou com suspeita de covid-19, é fundamental estabelecer protocolos médicos de atendimento aos recém-nascidos durante e após o parto. Esta é a proposta das recomendações elaboradas por médicos do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), instituição paulista referenciada em tratamento para covid-19. Uma das coordenadoras desse trabalho é a médica pediatra Vera Lucia Jornada Krebs, do Centro Neonatal do Instituto da Criança do HC.

A médica pediatra Vera Lucia Jornada Krebs, do Centro Neonatal do Instituto da Criança, do HC, é uma das coordenadoras do estudo – Foto: Arquivo pessoal

Em entrevista ao Jornal da USP, a pesquisadora conta que há poucos dados na literatura científica sobre o potencial de transmissibilidade vertical de mãe para filho e sobre a presença do vírus em placenta, líquido amniótico, sangue do cordão umbilical ou leite materno. Alguns autores relataram que cerca de 47% das gestantes que apresentam resultados positivos para covid-19 têm bebês prematuros. Até o momento foram descritos alguns casos isolados de recém-nascidos com evidências de transmissão transplacentária (via placenta) do novo coronavírus.

Nesse contexto, foram elaboradas as recomendações “a fim de reduzir as chances de transmissão no parto, no puerpério [logo após o nascimento] e na alta hospitalar do recém-nascido”, diz. O conteúdo foi construído a partir das experiências vividas pelos médicos com pacientes no próprio hospital e revisão de produções científicas sobre o assunto.

Segundo a doutora Vera Krebs, as orientações não são permanentes e “diante de novos conhecimentos que forem surgindo na academia, poderão ser atualizados”, aponta a médica.

Parto

Considerando que a mãe seja positiva para covid-19 e os dias do parto estejam próximos, as precauções com relação à contaminação do recém-nascido são evitar o contato de pele com a parturiente logo após o nascimento e proteção do bebê de secreções maternas (gotículas, suor, escarros e aerossóis).

É importante salientar que pacientes suspeitas ou confirmadas de infecção pelo novo coronavírus devem ser internadas em hospitais de referência, para se precaver quanto a eventuais casos de complicações de saúde materna e fetal. A escolha do tipo de parto (normal ou cesárea) irá depender de avaliação obstétrica, considerando as condições clínicas da gestante e do feto.

Recém-nascidos sintomáticos

É aconselhável fazer a separação temporária da mãe do recém-nascido com o intuito de minimizar o risco de infecção pós-parto do bebê com as secreções respiratórias maternas. Em caso de diagnóstico positivo, o recém-nascido deve ser admitido em área isolada, separado de outros bebês não suspeitos ou não portadores de covid-19. Por precaução, o isolamento do bebê deve ser mantido até que se descarte a possibilidade dele ter sido infectado pelo vírus.

A infecção do recém-nascido pelo novo coronavírus deve ser suspeitada diante da confirmação do diagnóstico materno. Recomenda-se a pesquisa de SARS-CoV-2 nos recém-nascidos pela pesquisa de RT-PCR em swab (espécie de cotonete com longas hastes usado para coletar secreções no fundo das fossas nasais e da garganta. É o mesmo procedimento feito em adultos, porém, com swab menor).  Sempre que possível, o teste molecular deve ser realizado dentro de aproximadamente 24 horas após o nascimento e repetido 48 e 72 horas depois. Há possibilidade de o primeiro teste ser negativo, com positivação nos seguintes, explica a médica.

Aleitamento materno

Logo após o nascimento, é recomendável que a criança permaneça em local diferente da mãe até que o teste molecular do recém-nascido mostre que ele não seja positivo para covid-19. Sendo negativo e a mãe estando em bom estado geral, o aleitamento materno pode ser liberado, considerando que “não há evidências até o momento de transmissão da doença por esta via”; além disso, as que “já tiveram a doença, provavelmente conferem a seus filhos anticorpos protetores” através do leite materno, explica Vera. Para amamentar e manuseio do bebê (troca de fraldas, banho e ninar), a mãe deve realizar todos os procedimentos de higiene (lavagem da mão, uso de máscaras e troca das mesmas quando espirrar ou tossir).

Mães com covid-19

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Estando em alojamentos conjuntos, deve haver distância mínima de 1,8 metro entre a cama materna e o berço do recém-nascido. A amamentação pode ser mantida em mães positivas, desde que a mesma deseje amamentar e esteja em condições clínicas adequadas. Ela deve ser orientada para observar os cuidados de prevenção de transmissão do vírus através de gotículas respiratórias durante o contato com a criança, incluindo a amamentação: lavar as mãos por, pelo menos, 20 segundos antes de tocar o recém-nascido; usar máscara facial (cobrindo completamente o nariz e a boca) durante as mamadas e evitar falar ou tossir durante a amamentação; a máscara deve ser imediatamente trocada em caso de tosse ou espirro ou a cada nova mamada.

Visitas

Enquanto o recém-nascido estiver hospitalizado, deve haver restrição de visitas e permanência de acompanhantes no quarto. Mães ou pais sintomáticos ou parentes que tiveram contato domiciliar com pessoas gripadas ou com covid-19 não devem realizar visitas até se tornarem assintomáticos e o período de transmissibilidade tenha passado (14 dias). Na alta, já em casa, as visitas sociais também devem ser suspensas.

Alta hospitalar

No momento da alta hospitalar, as mães devem ser orientadas quanto às precauções que ela deve passar a ter para proteger seu filho da contaminação do vírus e quanto ao surgimento de sinais de alerta de doença: febre, má aceitação da alimentação, vômito, sonolência, dificuldade em respirar, gemência, piora da intensidade da icterícia (coloração amarela na pele), urina diminuída; palidez e cianose (coloração azulada na pele).

As recomendações de cuidados com o recém-nascido de mãe suspeita ou confirmada com covid-19 fizeram parte do artigo de revisão Expert recommendations for the care of newborns ofmothers with COVID-19, publicado na revista científica Clinics, em maio de 2020.

Mais informações: e-mail vera.krebs@hc.fm.usp.br, com Vera Lúcia Jornada Krebs


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