Família é fator determinante no crescimento de torcidas de futebol

Mais que ídolos e títulos, estudo confirma que influência familiar mantém e aumenta número de fãs de um time

 03/02/2017 - Publicado há 8 anos
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Times de futebol funcionam como marcas, mas cujo valor está sujeito a fatores específicos – Foto: Visualhunt

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O que seria de um time de futebol sem sua torcida? Entender a importância de seus aficionados é um fator preponderante para o crescimento de um clube, e os fatores que fazem aumentar seu número são dados relevantes para elaborar estratégias que atraiam novos fãs. Assim como os próprios times de futebol, o pesquisador Rodolfo Ribeiro, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, interessou-se pelo tema e desenvolveu sua tese, defendida na última semana, sobre os motivos que levam as pessoas a torcer por determinada agremiação.


A pesquisa de Ribeiro se baseou num conceito de estratégia na área de administração chamado “recurso imperfeitamente móvel”. Trata-se do valor que uma marca carrega e transmite, sustentado por aspectos como país de origem, qualidade, história e outros fatores de análise psicológica. “Isso é algo que não pode ser adquirido no mercado, é construído, como um bloqueio competitivo”, diz.

Dentro da literatura especializada, segundo o pesquisador, há uma lacuna para explicar de onde surge tal recurso, e seu trabalho buscava preenchê-la. “Em torno da torcida gira toda a captação de receita de um clube de futebol, seja por meio da bilheteria, dos patrocínios, da venda de produtos; o tamanho da torcida é o que determina o tamanho do mercado, o que faz dela um recurso extremamente necessário para os clubes, e ele é diferente para cada um deles.”

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Quando o tamanho das torcidas é bastante díspar, o fator familiar torna difícil quebrar a diferença – Foto: Visualhunt


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Com base nisso, o pesquisador conseguiu estabelecer alguns critérios que seriam relevantes em suas simulações, como os títulos, exposição na mídia (número de jogos televisionados num ano em particular) e o número de jogadores convocados para a seleção naquele ano. Concluída a primeira etapa, quando os depoimentos deixaram de apresentar novos fatores a serem considerados, Ribeiro desenvolveu um questionário que foi respondido pela internet por mais de mil pessoas, filtradas de acordo com idade, residência e outros aspectos para chegar a 352 respostas úteis.

Embora o desempenho esportivo de um clube seja importante para atrair novos torcedores, Ribeiro concluiu que o fator mais determinante é a dinâmica familiar. “A probabilidade de uma pessoa nascida numa família de fanáticos pelo Corinthians torcer pelo São Paulo, por exemplo, existe, mas é muito pequena, coisa de 2% a 3%”, diz.

Numa situação hipotética em que a divisão das torcidas dos três clubes mais populares de São Paulo Corinthians, São Paulo e Palmeiras – fosse igual, com famílias de torcedores dos diferentes times formando-se aleatoriamente, Ribeiro calcula que o time com desempenho mais forte em número de títulos conquistados poderia crescer, em 10 anos, de um terço da torcida para cerca de 40%. Porém, na realidade em que o tamanho das torcidas é bastante díspar, é difícil quebrar a diferença, justamente pela relação familiar em que alguém que já torce por determinado time influencia a escolha de um futuro torcedor.

“Um time muito campeão nessa situação de desequilíbrio não vai ‘roubar’ torcida do time com mais torcedores, mas, sim, do que tem menos. No caso de São Paulo, o Palmeiras, por exemplo, ao ter sucesso por uma década, não tiraria futuros torcedores do Corinthians, mas do São Paulo.”   

Segundo o pesquisador, os clubes devem ter isso em mente ao planejar suas estratégias. “É importante ter noção da influência da dinâmica familiar e investir em fortalecer essa relação. Não é que uma torcida seja mais forte que a outra e por isso não vai perder torcedores, mas a torcida que for maior, que tiver mais membros dentro das famílias, é a que mais determina para quem os fãs em potencial vão torcer.”

O doutorado de Rodolfo Ribeiro teve orientação do professor Edison Fernandes Polo, da FEA.

Mais informações: e-mail dolfo.ribeiro@gmail.com


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