Aplicado na forma correta, suplemento pode reduzir pressão arterial e níveis de colesterol

O consumo do trans-resveratrol sem orientação adequada pode anular seus efeitos benéficos, aponta estudo. Além disso, apesar de ele ser apresentado como antioxidante, maioria das pesquisas clínicas não indica essa propriedade

 13/06/2023 - Publicado há 11 meses

Texto: Redação
Arte: Carolina Borin Garcia

O suplemento mais comercializado no mundo pode contribuir com redução de pressão arterial e níveis de colesterol - Foto: Freepik

Um dos suplementos mais comercializados no mundo, o trans-resveratrol, é conhecido por uma suposta ação antioxidante, anti-inflamatória e inibidora da agregação plaquetária, sendo capaz de reduzir o colesterol, a pressão arterial e, consequentemente, a aterosclerose (acúmulo de gordura nas paredes das artérias). No entanto, de acordo com um estudo do Centro de Pesquisa em Alimentos (Food Research Center – Forc), sediado na USP, ainda são necessários estudos clínicos para realmente atestar seu poder antioxidante. Já os demais efeitos, comprovados cientificamente, dependem muito da forma de administração, ou da dose e tempo de uso. Publicado na revista Complementary Therapies in Clinical Practice,  o artigo de revisão analisou os resultados de 27 estudos clínicos, nos quais foram testados 32 tratamentos diferentes em humanos.

Segundo a coordenadora do estudo, Inar Castro Erger, pesquisadora associada ao Forc e professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, os principais problemas apontados foram a ausência de padronização dos marcadores avaliados e a automedicação, tendo em vista que os suplementos não necessitam de prescrição médica.

Assim como a maioria dos suplementos, o trans-resveratrol pode ser adquirido nas farmácias sem receita médica, o que leva a maioria das pessoas a não consultar um médico antes de consumi-lo, podendo tornar nulos os benefícios do suplemento, ou consumir os medicamentos com doses e períodos não adequados em relação aos seus objetivos”

Inar Castro Erger - Foto: Lattes
Inar Castro Erger - Foto: Lattes

Além disso, ela complementa, “os resultados variam muito de acordo com os protocolos receitados pelos médicos, conforme observamos nos estudos”.

Os pesquisadores dividiram os resultados em três grupos, separando os estudos de acordo com diferentes protocolos: doses maiores em um período de tempo menor; doses intermediárias por um período intermediário; e doses menores por um período maior de tempo. “Os estudos caracterizados por uma dose média de 454 miligramas (mg) ao dia, durante 74 dias, apresentaram maior redução da concentração de triglicerídeos e da pressão arterial, enquanto os que aplicaram doses em torno de 274 mg ao dia, por cerca de 175 dias, apresentaram aumento de HDL-colesterol [conhecido como colesterol ‘bom’], importante para redução da aterosclerose”, aponta Inar Castro Erger.

Dosagem

“Assim, concluímos que a dose e o tempo de intervenção devem ser definidos por um profissional de saúde de acordo com a necessidade do paciente”, detalha Tamires Santana, mestre em Alimentos e Nutrição Experimental pela FCF e primeira autora do estudo. Para chegar a essas conclusões, foram analisados estudos que avaliaram vários biomarcadores, que podem indicar a progressão de uma determinada doença. “Usamos os biomarcadores porque é muito difícil encontrarmos estudos clínicos que acompanhem os pacientes por longos períodos, o que é necessário principalmente em pesquisas na área de doenças cardiovasculares”, explica a professora da FCF.

Na pesquisa, foi observada uma incoerência em grande parte dos rótulos de trans-resveratrol. Isso porque é comum que venham indicados, ainda na parte frontal da embalagem, os efeitos antioxidantes do suplemento. No entanto, essa alegação ainda não é clinicamente evidenciada. “A maior parte dos estudos não avalia biomarcadores de estresse oxidativo, pois isso exige metodologias de pesquisa mais sofisticadas, que muitos grupos não têm acesso”, relata Inar Castro Erger. “A alegação que as empresas fazem tem como base estudos in vitro, realizados em laboratório, que não são suficientes para atestar essa característica, algo só possível com vários estudos em humanos.”

Tamires Santana - Foto: Arquivo Pessoal/Research Gate

O trans-resveratrol também está presente naturalmente em diversos grupos de alimentos. Alguns possuem em maior concentração, como as cascas de uvas e o vinho tinto. No entanto, em função do teor alcoólico do vinho, a forma mais recomendada de ingeri-lo é pela suplementação. Seu consumo é mais recomendado como terapia complementar em pacientes com doenças cardiovasculares ou com risco de manifestá-las e, embora não haja relatos de toxicidade, estudos sugerem que doses acima de 2,5 gramas (g) por dia podem trazer sintomas gastrointestinais indesejáveis, além de ter um custo elevado.

“O trans-resveratrol não produz os mesmos efeitos dos medicamentos, por isso não deve nunca substituí-los. Entretanto, ao usá-lo junto com os fármacos e sob acompanhamento médico de forma individualizada, pode ser possível diminuir a dose de remédios do paciente, e assim reduzir os efeitos adversos do tratamento”, detalha Inar Castro Erger. “Desta forma é mais fácil garantir a adesão do paciente”, acrescenta Tamires Santana.

 

Com informações da Assessoria de Imprensa do Forc


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