Uso indiscriminado de celular na sala de aula começa a ser combatido

Trocar celular por tablets ou computadores apenas não é suficiente para resolver problema de fragmentação da atenção, diz especialista

 22/02/2024 - Publicado há 4 meses     Atualizado: 04/06/2024 as 11:41
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Escolas públicas e privadas estão restringindo o acesso de celulares às redes sociais
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Permitir que estudantes acessem o celular durante o período das aulas pode gerar problemas no aprendizado. O aluno pode desenvolver um comportamento vicioso, com foco no que está na tela do celular, trazendo problemas de atenção. Isso ocorre porque os jovens entram em diversos links ao mesmo tempo, fazendo com que haja um processo de fragmentação da atenção, dificultando o foco do aluno. Por causa desses problemas, o aluno não consegue desenvolver as atividades expostas pelos professores. A análise é de Antônio Álvaro Soares Zuin, psicólogo pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e professor do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).  

Para evitar esse problema, algumas escolas privadas e públicas do estado de São Paulo restringiram o acesso dos celulares às redes sociais, jogos e aplicativos de streaming por meio do wifi liberado pelas escolas. Isso já era imposto desde março do ano passado pela Secretaria Estadual de Educação. Porém, algumas escolas adotaram apenas este ano. Após a repercussão do decreto de proibição de celulares em instituições de ensino do estado do Rio de Janeiro, a Secretária Estadual de Educação de São Paulo emitiu um comunicado em que informa que a restrição de sites e aplicativos pelos alunos será ampliada.

Outra medida adotada foi a substituição do celular pelo tablet ou computadores na sala de aula. “Essa medida não resolve a questão porque a gente está vendo que existiria o mesmo consumo de telas, tal como antes, e a possibilidade também da fragmentação da atenção em vários objetos,” afirma Zuin.

O especialista ressalta que o que se deve levar em conta é a qualidade da interação entre as pessoas. “Não pode ser ignorada a utilização de celulares pois a sociedade inteira funciona por este meio, mas a tecnologia não pode substituir a possibilidade da existência do contato físico entre os alunos e os alunos e professores,” ressalta.

Zuin ressalta ainda a importância do papel dos professores e pais na vida das crianças. “Eles têm que assumir a sua posição de autoridade. Assim que houver a percepção de que as crianças não interagem mais entre si, professores e pais precisam intervir imediatamente.” O professor explica a importância dos pais oferecerem um bom exemplo aos filhos. “Quando os pais se reúnem com os filhos num jantar e utilizam seus celulares, praticamente não olham para os filhos. Assim a criança faz com que cada vez mais esse comportamento vicioso se desenvolva. Os pais têm que ter consciência que os filhos não podem se tornar viciados. Esse é o grande desafio.”

Restrições

O especialista em Tecnologia da Informação pelo Programa de Educação Continuada (PEC) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI) da USP, George Campos, cita como é feita a restrição de navegação em diversos celulares e aplicativos. “Você tem o modem de internet da sua operadora em casa. Então tudo passa por esse modem, nas escolas também são assim, então tem um ponto inicial de acesso em que é feita a distribuição por salas, laboratórios e demais equipamentos que requerem na internet. O administrador da rede pode fazer a restrição diretamente ali nesse ponto inicial de partida, então ele consegue restringir sites e redes sociais ou qualquer outro tipo de recurso que ele desejar.”

O especialista também comenta sobre a restrição de notebooks ou tablets fornecidos por algumas escolas. “Antes de entregar para o aluno, o governo consegue fazer as diretrizes do próprio computador. Ele é limitado ali, por exemplo, no acesso a qualquer tipo de perfil que ele deseja. Então somente o administrador daquele computador vai poder fazer qualquer modificação do tipo de navegação.”

*Estagiaria sob a supervisão de Ferraz Junior


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