Mulheres avançam na conquista de espaço nas Forças Armadas

O interesse feminino no militarismo está crescendo, segundo psicóloga da Força Aérea Brasileira (FAB). Atualmente, apenas 34 mil mulheres atuam nas Forças Armadas

 26/06/2024 - Publicado há 6 meses
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Foto: Divulgação Exército Brasileiro/Agência Brasil
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A presença de mulheres brasileiras nas Forças Armadas (FFAA) teve início na Marinha, por meio da criação do Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha (CAFRM) em 1980. De lá para cá, a presença feminina nas FFAA tem crescido gradativamente.  No próximo ano, um novo impulso nesse sentido pode acontecer, se for aprovado pela Câmara dos Deputados e, em seguida pelo Senado Federal, o Projeto de Lei 3433/23, que autoriza o Ministério da Defesa a admitir mulheres através do alistamento militar voluntário. 

O  Projeto de Lei, da deputada federal Laura Carneiro (RJ), prevê que as mulheres devem ter direito a 30% das vagas no serviço militar. Entretanto, o ministro da Defesa sugeriu reservar apenas 20% das vagas. Hoje, as  mulheres representam apenas 9,5% do efetivo total na ativa das FFAA.  

Segundo o Ministério da Defesa, existem hoje mais de 326 mil homens e apenas 34 mil mulheres nas Forças Armadas. Sendo 8 mil mulheres na Marinha, mais de 12 mil na Aeronáutica e mais de 13 mil no Exército. Agora, com a abertura de novas vagas, a tendência é de aumento da participação feminina.

Na Marinha, as mulheres podem ocupar cargos de apoio, fuzileiros navais, engenheiras e na área da saúde. Na FAB, podem ocupar cargos como médicas, paraquedistas, controladoras de tráfego aéreo, aviadoras, intendentes e advogadas. Já no Exército Brasileiro, podem ser ocupados os cargos como combatentes, médicas, administrativas, engenheiras.

Atualmente, o processo seletivo voluntário para as mulheres é apenas para cargos graduados, como sargentos e oficiais, e envolve etapas mais detalhadas, sendo elas, entrevista, avaliação curricular, testes de conhecimentos, saúde e exame de aptidão física, podendo ser feita prova de concurso público para seguir a carreira militar, enquanto que para o Serviço Militar Obrigatório, aos homens que completarem os 18 anos, são necessários apenas exames de saúde para constatar se não há nenhum impedimento para o ingresso. 

Desinteresse masculino

O grande desinteresse por parte dos homens na carreira militar é um dos motivos para a abertura de vagas para mulheres. Com isso, aumenta-se o espaço para as mulheres que adorariam que o serviço militar fosse obrigatório, explica a psicóloga da Força Aérea Brasileira (FAB), Wildyrlaine Cristina Pretko, especialista em Psicologia Clínica e Hospitalar pelo  Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (InCor) da Faculdade de Medicina (FM) da USP.

“Os homens tentam se esquivar a todo custo. Eu posso dizer porque fiz parte do processo seletivo para o ano obrigatório dos militares e a maioria foge mesmo. Enquanto isso, nós conhecemos diversas mulheres que adorariam que o serviço militar fosse obrigatório a partir dos 18 anos, e agora existe uma possibilidade de que não seja obrigatório, mas facultativo, e que as mulheres possam também fazer parte desse ingresso aos 18 anos”, aponta.

A especialista diz que o militarismo sempre foi um ambiente predominantemente ocupado por homens, mas que a inclusão de mulheres tem crescido ultimamente. “A inclusão de mulheres demonstra que nós podemos estar onde quisermos. Não existe mais aquela determinação de que a mulher pode isso ou não pode aquilo no mercado de trabalho. Para o futuro, eu imagino que aconteça até mesmo uma inversão, em que a gente possa ver até mais mulheres no militarismo do que homens.”

A psicóloga acrescenta que essa inclusão pode influenciar de forma positiva na dinâmica familiar e social das mulheres militares, pois o trabalho pode contribuir com grande parte da renda de uma família. “Muitas mulheres são chefes de família ou mães solo, e são elas que sustentam os filhos e as casas. Então é importante que as mulheres ampliem os seus espaços no mercado de trabalho”, aponta.

Neste ano, “começaram a abrir vagas para muitas especialidades que antes as mulheres não podiam atuar”, afirma a psicóloga. A Marinha do Brasil começou no início do ano a primeira turma de mulheres no curso de formação de Soldados Fuzileiros Navais. Além disso, o Exército também iniciou pela primeira vez o curso de formação para mulheres nos cargos de piloto e gerência de manutenção de aeronaves.

“Os homens estão concorrendo junto com as mulheres em especialidades que antes não podiam se candidatar e que agora já existe uma abertura com uma turma mista, onde as mulheres entraram para disputar a vaga do quadro de formação.” Wildyrlaine acrescenta que a percepção pública em relação ao papel das mulheres é muito grande, o suficiente para abrirem vagas para elas.

Porém, mesmo com a inclusão, as mulheres enfrentam desafios diários no ambiente militar. “Em muitas atividades militares as mulheres vão chefiar um grupo de homens, que na questão hierárquica está abaixo dela. Com isso, ela precisa ter capacidade, pulso firme e controle emocional para poder fazer a sua liderança e ser respeitada”, afirma a psicóloga. 

Para a psicóloga, o lugar das mulheres já está muito bem ocupado e não tem necessidade de políticas públicas para assegurar essa inclusão feminina. “Nós mulheres fazemos tão bem diversos papéis simultâneos e desta mesma forma nós assumimos muito bem o papel dentro do militarismo. Então, eu não vejo risco nenhum para que o lugar da mulher seja assegurado”, explica.

*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior e Rosemeire Talamone


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