Jovens enfrentam desafios na construção da própria identidade

Fase de transição da adolescência para a vida adulta apresenta pressões sociais e internas para a tomada de decisões

 26/09/2023 - Publicado há 7 meses
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Fase marca a “virada de chave” da saída da adolescência para o início da vida adulta – Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

 

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Conflitos existenciais são desafios que surgem ao longo de quase toda a vida. No entanto, existem idades que podem experimentar esses problemas com mais recorrência e intensidade, como é o caso dos jovens que entram na faixa dos 20 anos. Nessa fase, é muito comum que dúvidas e incertezas surjam devido à importância de tomadas de decisões para atender, em grande parte, às pressões sociais. É nessa fase da vida, por exemplo, que o jovem escolhe o futuro de sua vida acadêmica e profissional. Uma decisão, em tese, para a vida toda. Tudo isso mesclado com o desejo de curtir a vida, tão típico da idade. 

Victor Hugo Araujo Egydio – Foto: Arquivo pessoal

É nesse momento também que ocorre a “virada de chave” da saída da adolescência para o início da vida adulta, período em que muitos tomam para si as responsabilidades que ainda eram exercidas pelos pais. A psicóloga norte-americana Meg Jay, em seu livro A Idade Decisiva, coloca os 20 anos como a época crucial para a tomada de algumas decisões que podem moldar o restante da vida, visto que é comum as pessoas chegarem aos 30 anos sentindo-se atrasadas profissional e afetivamente por não terem aproveitado seu tempo por inteiro. 

O gerente de projetos Victor Hugo Araujo Egydio, aos 20 anos, já experimenta as pressões da idade. O sentimento de cobrança surge com a necessidade de “fazer tudo para ontem”. De acordo com ele, a sensação é de quebra de expectativa de vida na nova fase, no sentido de que as preocupações que ele tinha há cinco anos passaram a ser outras atualmente. “Tem hora que é para curtição, que temos que aproveitar, mas tem hora, a maioria do tempo, que é para focar nos objetivos. Por isso que eu me cobro tanto e tenho muito essas crises”, desabafa Egydio. 

Busca pela identidade

Tendo em vista o processo de transição entre a adolescência e a fase adulta, o psicólogo, doutorando e pesquisador Danillo Lisboa, do Laboratório de Processos de Subjetivação em Saúde da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, explica que muitos jovens se dividem entre focar nos objetivos e curtir a vida por estarem em busca de sua identidade. 

Danillo Lisboa – Foto: Arquivo Pessoal

“Os jovens, na tentativa de construir suas próprias identidades, podem sentir a necessidade de experimentar e explorar diferentes caminhos e também de viver experiências intensas, buscando descobrir quem são e o que desejam”, afirma Lisboa. 

De acordo com ele, enquanto alguns podem sentir a necessidade de experimentar e explorar diferentes caminhos nesse processo de busca, outros podem entender que a resposta pode ser alcançada através de uma orientação para o crescimento pessoal, estabelecendo metas restritivas. “O que vai favorecer ou não um comportamento ou outro pode ser também o ambiente, porque, a depender de onde os jovens estão inseridos, incluindo família, amigos, a própria cultura em si, isso tudo pode influenciar as escolhas”, informa o especialista.

Viver é um processo

Apesar da importância dos 20 anos, essa não é a única fase para tomar decisões na vida, conforme o psicólogo. Nesse sentido, o caminho para as realizações varia de indivíduo para indivíduo. “O desenvolvimento pessoal e profissional precisa ser compreendido como um processo contínuo, que pode ocorrer em diferentes idades e em diferentes fases da vida. A gente precisa lembrar sempre que cada pessoa enfrenta circunstâncias únicas e pode ter diferentes desafios e diferentes oportunidades no seu caminho”, define Lisboa. 

Para ele, é necessário que as pessoas retornem à capacidade de viverem processos, visto que a sociedade experimenta a “cultura do pronto”, ou seja, onde não há mais espaço para o inacabado. “Precisamos retomar a consciência de que viver é uma tarefa para a vida que não acaba nunca. E já que não ficamos prontos nunca, é muito importante aprendermos a olhar aonde queremos chegar sem esquecer de viver o caminho”, finaliza.

*Estagiária sob a supervisão de Ferraz Junior


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