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Colisões com animais nas rodovias brasileiras podem ser fatais tanto para os ocupantes dos veículos como para a fauna, além de ser uma das principais causas da chamada defaunação, diminuição acelerada e drástica de espécies animais. As rodovias também podem atuar como barreira ao movimento dos animais, o que tem severas consequências para a persistência das populações e manutenção dos ecossistemas.
No Brasil, medidas que visam, principalmente, à diminuição de colisões com animais em rodovias já são implementadas, mas ainda são poucos os estudos que avaliam a efetividade delas para a conservação da fauna e seu impacto econômico e social.
Nesse cenário, a pesquisadora Larissa Oliveira Gonçalves acaba de lançar o Guia de boas práticas para avaliação de efetividade de medidas de mitigação dos impactos sobre a fauna em rodovias, publicação gratuita disponível para download neste link. “É preciso saber se as medidas adotadas estão funcionando para reduzir os impactos decorrentes da operação nas rodovias”, diz Larissa.
Baseado em manuais internacionais, fóruns de discussões multissetoriais e na literatura científica da área de Ecologia das Rodovias, o documento foi elaborado por pesquisadoras da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, vinculadas ao Programa de Pós-Doutorado USP Sustentabilidade (USPSusten) da Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da USP, em parceria com técnicos da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
Segundo Katia Ferraz, docente do Departamento de Ciências Florestais da Esalq (USP) e supervisora da pesquisa de Larissa, a partir da bolsa de pós-doutorado relacionada à temática dos atropelamentos de fauna foi possível consolidar uma parceria com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e elaborar o material, que traz um modelo conceitual de plano de avaliação de efetividade de medidas de mitigação, formado por 12 etapas:
- Ter clareza do impacto que está sendo mitigado e das medidas que serão avaliadas;
- Selecionar os grupos-alvo de mitigação;
- Selecionar indicadores de efetividade;
- Definir as metas a serem alcançadas;
- Selecionar o desenho amostral que considere boas condições de referência e áreas controle;
- Selecionar métodos amostrais adequados aos alvos estabelecidos;
- Selecionar as escalas espacial e temporal adequadas para amostragem;
- Destinar tempo suficiente para avaliação;
- Usar uma frequência de amostragem que permita estimativas rigorosas de efetividade dos indicadores;
- Medir variáveis que possam afetar os indicadores;
- Realizar análises estatísticas e análise crítica dos resultados;
- Tornar disponíveis e acessíveis os resultados de avaliação das medidas e os dados coletados.
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Impactos na biodiversidade
Os números citados no guia chamam a atenção: no Brasil, mais de 8 milhões de aves e 2 milhões de mamíferos são mortos por ano. No Estado de São Paulo, estima-se que morram, em média, 39.600 mamíferos de médio e de grande porte por ano. Nas rodovias do Mato Grosso do Sul, mais de 12 mil animais maiores de 1 kg foram mortos em três anos.
O guia cita trabalhos que mostram como a colisão com animais em rodovias traz implicações que vão além dos impactos à biodiversidade. Em 18,5% dos casos no Estado de São Paulo, houve ferimentos ou morte de pessoas; cerca de 40% dos registros realizados nas rodovias de Mato Grosso do Sul foram de animais que podiam estar envolvidos em acidentes capazes de causar danos materiais. Quanto aos danos econômicos, estima-se que os acidentes com animais em São Paulo oneraram a sociedade em mais de R$ 56 milhões.
Para fazer download gratuito do Guia de boas práticas para avaliação de efetividade de medidas de mitigação dos impactos sobre a fauna em rodovias, clique aqui.
Programa USPSusten da SGA
O Programa USPSusten foi criado pela Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da USP em 2022 com o objetivo de gerar conhecimento para a construção de sociedades sustentáveis, a conservação do meio ambiente e a formação de recursos humanos. Um dos pilares do programa é estimular parcerias entre a Universidade, o Estado e a sociedade para fomentar políticas públicas na área socioambiental, tendo como um de seus temas a fauna.
*Superintendência de Gestão Ambiental – Campus Ribeirão Preto