Aprovada eficiência de novo tratamento do Acidente Vascular Cerebral para incorporação ao SUS

Trombectomia mecânica, procedimento que “pesca” coágulo de artéria cerebral, aumenta quase três vezes chance de indivíduo se livrar de sequelas e já é feito em vários hospitais do País, mas ainda não está disponível na rede SUS

 18/06/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 22/06/2020 as 10:16
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Pesquisa realizada em hospitais do SUS comprova eficácia e custo-efetividade da trombectomia mecânica no tratamento do Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico. Os bons resultados, que acabam de ser publicados pela New England Journal of Medicine, devem acelerar o processo de incorporação da técnica pelo SUS no País.

O procedimento, realizado através da introdução de um microcateter num grande vaso sanguíneo da virilha, encaminha às artérias do cérebro um dispositivo que “pesca” o coágulo que está entupindo a artéria. A técnica, aliada ao tratamento padrão, feito pela administração de medicamentos pela veia, se mostrou mais eficiente na resolução dos casos mais graves, reduzindo as sequelas deixadas pelo AVC isquêmico. 

Coordenador do estudo, o professor de neurologia Octávio Pontes Neto, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, conta que o benefício clínico do procedimento já havia sido comprovado pelos países do Primeiro Mundo e também aprovado pela Anvisa para uso no Brasil. Mas não estava disponível na rede SUS, “pois ainda restavam dúvidas sobre a sua eficácia e custo-efetividade em países em desenvolvimento”. Dúvidas estas que, acredita Pontes Neto, estejam resolvidas pela pesquisa.

A preocupação em oferecer terapia mais efetiva explica-se pelo AVC ocupar o segundo lugar entre as doença que mais matam e ser a principal causa de incapacitação funcional em adultos no Brasil. Dentre os tipos de AVC, o isquêmico é o mais frequente, ocorrendo em cerca de 80% deles. É causado “pelo entupimento súbito de uma artéria cerebral, o que impede que o sangue chegue adequadamente a regiões importantes do cérebro, causando déficits neurológicos”, informa o professor. 

Já o tratamento é uma emergência médica que até recentemente só podia ser feito com a administração de medicamentos (trombolíticos) pela veia. “Entretanto, os trombolíticos só podem ser administrados nas primeiras quatro a cinco horas do início dos sintomas e têm um efeito parcial quando a obstrução ocorre em uma das grandes artérias do cérebro, o que limitava o seu benefício.”

Resilient confirma segurança e eficácia da técnica

Estudo clínico financiado pelo Ministério da Saúde, o projeto Resilient foi conduzido por pesquisadores brasileiros de diversos centros em 12 hospitais públicos do País e demonstrou que a trombectomia mecânica aumenta em “quase três vezes a chance do paciente com AVC isquêmico, com oclusão de uma grande artéria do cérebro, ficar independente e sem grandes sequelas”, conta Pontes Neto. No entanto, deve ser realizado dentro das primeiras oito horas do início dos sintomas do AVC e em conjunto com o tratamento padrão que administra medicamento pela veia.

A segurança e eficácia da trombectomia mecânica, agora também aprovada em hospitais do SUS, já era realidade em outras redes de hospitais brasileiros. Colega do professor Pontes Neto na FMRP e no Resilient, o professor Daniel Abud diz que sua equipe na Radiologia Intervencionista do Hospital das Clínicas da FMRP vinha realizando o procedimento “com recursos do próprio HC nos últimos anos com excelentes resultados”.


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