“Variantes do vírus só existem se houver reprodução desse mesmo vírus”

De acordo com Paulo Lotufo, podemos ter novas variantes, pois quanto mais tempo de transmissão, maior a chance mutações. Daí a importância do lockdown e de vacinar o maior número possível de pessoas

 08/03/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 11/03/2021 as 19:15

 

Se a pessoa contaminada fica em casa e não passa a doença para ninguém, uma hora sua disseminação acaba e novas variantes não irão aparecer – Foto: NIAID
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O contexto pandêmico vivenciado desde o início de 2020 se agravou ainda mais recentemente. O número de casos aumentou e a media móvel de mortes bate recordes atrás de recordes no Brasil. No intuito de enfrentar essa situação, governos pelo Brasil se viram obrigados a solicitar e implementar uma maior restrição de circulação, o que afetou o funcionamento de serviços essenciais. São Paulo também adotou essas medidas e a fase vermelha abrange, neste momento, todo o Estado.

“Não há dúvidas de que é o pior momento, por uma razão que há um ano a epidemia estava começando em três locais no País: São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza. A partir daí, ela foi avançando no território nacional de forma desigual, de tal forma que chegou um momento em que São Paulo, Rio e outras cidades já tinham chegado ao seu limiar, e outras começaram a aumentar o número de casos”, comenta o professor Paulo Lotufo, infectologista do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, diretor do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP, sede do ELSA Brasil.

De acordo com Lotufo, até aquele momento, a rede hospitalar conseguia se compensar, ou seja, mesmo com excesso de pacientes em um local, esses pacientes eram enviados a outros locais menos lotados e o sistema hospitalar ficava nesse ciclo de redistribuição. A questão é que agora o aumento de casos engloba desde a região Sul até a região Norte e, em São Paulo, tanto os hospitais públicos quanto os privados estão lotados.

O infectologista explica que as variantes do vírus só existem se houver reprodução desse mesmo vírus, então, se a pessoa contaminada fica em casa e não passa a doença para ninguém, uma hora sua disseminação acaba e novas variantes não irão aparecer.

Ele aproveita para analisar os casos encontrados no Rio Grande do Sul. Para Lotufo, as variantes do vírus não tiveram impacto no pico visto atualmente. Ele detalha que, no início da pandemia, o Estado não teve números alarmantes de casos, principalmente devido a seu isolamento geográfico, ou seja, menos pessoas imunes e um maior número de suscetíveis. Com a chegada do verão, o turismo na região aumentou e, com isso, pessoas de outros Estados levaram a contaminação para o local.

“Nós estamos tendo dois fenômenos: um é o fenômeno do fim do controle pandêmico, que deixou de existir desde dezembro de 2020, e o surgimento e disseminação da variante. E tem uma chance de termos novas variantes, quanto mais tempo de transmissão, maior a chance de novas mutações“, conclui Lotufo, ao explicar que a recomendação para mudar essa configuração continua sendo o lockdown e vacinar o maior número possível de pessoas durante essa restrição, e que, sem isso, vai ser muito difícil sairmos dessa situação.


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