O presidente norte-americano Donald Trump anunciou, nesta quinta-feira (1), o que o mundo mais ou menos já esperava que fosse acontecer, ou seja, que os Estados Unidos deixarão o Acordo de Paris sobre o clima, assinado, no final de 2015, por 195 países que se dispunham a reduzir as emissões de gases responsáveis pelo chamado efeito-estufa, que provoca o aquecimento global. China e Estados Unidos, nesta ordem, são considerados os dois grandes emissores de gases causadores do efeito-estufa.
Isso significa, segundo o físico e Professor Emérito da Universidade de São Paulo, José Goldemberg, que ambas as nações usam combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural) em grande quantidade como base de sua matriz energética. Para justificar sua decisão, Trump disse que o acordo paralisa os Estados Unidos, mas se disse disposto a renegociar a entrada no pacto, desde que seja de forma justa e proteja os interesses americanos. Dessa forma, os EUA passam a ser, juntamente com Nicarágua e Síria, os únicos países que não aderiram ao esforço global para conter as mudanças climáticas.
Goldemberg não acredita que a saída dos norte-americanos do Acordo de Paris vá influenciar outros países a adotarem a mesma postura, mas admite que a ausência dos EUA vai tornar mais difícil atingir as metas propostas pelo pacto. Segundo o cientista, os Estados Unidos deverão voltar a utilizar energia pelos métodos convencionais, queimando carvão e petróleo. Com isso, quem perde é o próprio país, apesar de num primeiro momento poder vir a se beneficiar com a geração de empregos, sobretudo nas minas de carvão. Por outro lado, ao abandonar “as soluções que não emitem carbono”, corre o risco de perder o mercado das novidades tecnológicas direcionadas para esse fim – um mercado que poderá acabar nas mãos da China. Acompanhe o link da entrevista do professor José Goldemberg à Rádio USP:
O cientista político da Universidade de São Paulo, Christian Lohbauer, compartilha uma posição igualmente crítica em relação à decisão dos EUA de abandonarem o Acordo de Paris. Até mais radical do que o professor Goldemberg em sua posição, ele acredita que “se EUA e China não participam, o acordo não tem importância nenhuma”. E o mais incrível, na opinião dele, é o fato de que os chineses passaram a criticar os norte-americanos, uma vez que o controle das emissões naquele país da Ásia Oriental é muito mais complexo do que nos EUA.
Ainda segundo ele, a posição de Donald Trump isola os americanos e não traz nenhum benefício para o país – “é mais um reflexo de uma política externa desastrada, de um isolacionismo sem propósito”. Trump se comporta com aliados históricos, como a Inglaterra, de maneira muito aquém do que a sociedade americana desejaria e de que um grande país como os EUA merece. O resultado, para Lohbauer, é de que essa decisão possa “minar” a importância do país num contexto mais global.
Aliás, a atitude do presidente americano levou a que a chanceler alemã Angela Merkel emitisse uma declaração segundo a qual os europeus têm de repensar o seu futuro e começar a pensar suas ações de forma independente. “É o anúncio do rompimento da parceria transatlântica, que é o que manteve a paz mundial desde o final da 2ª Guerra Mundial. O que Trump está fazendo é retirando esse histórico de liderança americana para nada, um isolacionismo quase infantil”, afirmou Lohbauer durante entrevista ao Jornal da USP, veiculado pela Rádio USP, a qual é possível acompanhar abaixo: