Narrativas sobre diversidade africana não chegam ao Brasil

No “Diálogos na USP”, especialistas discutem sobre a visão superficial e estereotipada que ainda se tem sobre o continente africano

 14/09/2018 - Publicado há 6 anos
Logo da Rádio USP
Logo da Rádio USP

Nesta edição do Diálogos na USP, Marcello Rollemberg conversa com Laura Moutinho, professora do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e coordenadora do projeto Pró-África,  A Vizinhança nas entrelinhas: alianças e conflitos, trocas (des)iguais e cooperação entre Moçambique e África do Sul, e Leila Leite Hernandez, professora do Departamento de História da FFLCH e autora do livro A África na Sala de Aula, a respeito do continente africano.

Foto: Nasa via Wikimedia Commons – Domínio Público

.
O território da África corresponde a cerca de 20% do território mundial e conta com, aproximadamente, um bilhão de habitantes distribuídos em 54 países. Contudo, o continente ainda ocupa um papel periférico no tabuleiro geopolítico e econômico mundial, chamando atenção apenas em momentos de ebulição social e desastres naturais, preservando o estereótipo enraizado.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

.
A imagem do continente no senso comum ainda acredita em uma divisão entre duas Áfricas: a branca, ao norte, e a primitivista, de um povo à deriva, de acordo com Leila. Para Laura Moutinho, essas ideias são motivadas por uma narrativa construída pela própria imprensa e é necessário que se relativize as ideias de “centro” e “periferia” e se pense a respeito da diversidade.

“A imprensa ignora a vida e a diversidade que há em todas as regiões fora do ‘centro’”. O papel dos veículos noticiosos na construção imagética das relações geopolíticas, econômicas e sociais da África é destacado por Moutinho, que acredita que a heterogeneidade do continente não chega ao Brasil. “No Brasil, eu conhecia a diferença, quando cheguei na África, conheci a diversidade.”

Leila Hernandez. Foto: Marcos Santos / USP Imagens

.
“A primeira vez que ouvimos falar sobre África no Brasil é quando ouvimos falar de escravos.” Leila acrescenta que o discurso apresentado aos brasileiros trata dos negros escravizados, como se eles não tivessem nenhuma história. Para ela, a descontinuidade de programas do governo, do interesse para além do norte africano e a visão de que os países da África não são parceiros econômicos importantes ainda imperam no Brasil.

Laura Moutinho. Foto: Marcos Santos / USP Imagens

.
As entrevistadas abordam também a importância de se retomar as lideranças e agentes africanos, que foram fundamentais na história dos países da África. Para Laura, a arte combativa africana também deve ser notada, e a atenção aos movimentos que surgem no continente faz a diferença.

Ouça no link acima a íntegra desta edição do Diálogos na USP, que teve apresentação de Marcello Rollemberg e trabalhos técnicos de Márcio Ortiz. A produção é do Departamento de Jornalismo da Rádio USP.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.