O antiviral Remdesivir tem uma ação limitada no combate à covid-19. O medicamento, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na última semana, não deve mudar os protocolos adotados pelo Ministério da Saúde para o tratamento da doença, pois ele atua apenas em pacientes internados que estejam com pneumonia e que não recebam respiração forçada, ou seja, não estejam intubados.
Criado originalmente para combater o ebola pela biofarmacêutica norte-americana Gilead Sciences, o medicamento passou a ser estudado no ano passado nos Estados Unidos para o tratamento da covid-19, porque o sars-cov-2, que é o vírus da covid-19, tem semelhanças com o vírus do ebola: os dois têm material genético formado por RNA. O medicamento atua para impedir que o vírus se replique no organismo humano. “Mesmo assim, os estudos não são conclusivos.” É o que informa o farmacêutico Leonardo Régis Leira Pereira, professor de Farmácia Clínica e Terapêutica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP.
O professor diz que a eficácia do medicamento se restringe a diminuir em cerca de 1/3 o tempo de internação do paciente. “Nos Estados Unidos, pacientes que tomaram o Remdesivir ficaram internados em média dez dias. Os que não tomaram, ficaram em média 15 dias internados nos hospitais”, adianta o professor, que ressalta que o medicamento é usado em cada paciente apenas de cinco a dez dias e que seu uso não vai interferir na curva de morte e de contágio da doença no Brasil.
Custo do Remdesivir
A Anvisa liberou o Remdesivir depois de outros 50 países já terem adotado o medicamento. Isso aconteceu por dois fatores. O primeiro é que a biofarmacêutica demorou para entregar a documentação exigida pela Anvisa e o outro foi a análise de custo-benefício. “O medicamento é muito caro e os países mais pobres não têm condições de adotá-lo, por isso a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda seu uso”, afirma Pereira.
A empresa que detém a patente do Remdesivir ainda não adiantou qual o preço que o medicamento vai ter no Brasil, mas, nos Estados Unidos, custa US$ 3,12 mil aos hospitais. Como o remédio não é vendido nas farmácias e a população não tem acesso, ele será adotado pelo Ministério da Saúde para ser incluído nos tratamentos oferecidos nos hospitais públicos através do Sistema Único de Saúde (SUS). “O próximo passo é o Ministério se reunir com hospitais para incluir o medicamento nos protocolos de tratamento da doença, e os hospitais privados podem ou não adotar o procedimento em razão da relação custo-benefício não ser muito vantajosa,” analisa.
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