Incêndio no Pantanal em 2020 incomoda pela sensação de impunidade, diz ambientalista

Tamanho da devastação, com impactos na vida e biodiversidade pantaneira, é apresentado por engenheiro do Instituto Centro de Vida do MT

 17/02/2021 - Publicado há 3 anos
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O programa Ambiente É o Meio desta semana conversa com o engenheiro florestal Vinícius de Freitas Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do  Instituto Centro de Vida (ICV) do Mato Grosso, sobre os incêndios do Pantanal no último ano. 

Ao analisar esses episódios de 2020 no Brasil, com dados da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa), Silgueiro afirma se tratar do “pior cenário de incêndios florestais dos últimos anos”. Somente no Mato Grosso, diz o engenheiro, foram 8,5 milhões de hectares do bioma atingidos pelas chamas, no período entre os meses de janeiro e novembro. “O índice equivale aos territórios dos Estados de Sergipe e Rio Grande do Norte juntos”, alerta, afirmando que a devastação atingiu valores históricos com o Pantanal, perdendo cerca de 40% do seu bioma, ou 2,15 milhões de hectares, todos no território mato-grossense. 

O que causou os incêndios no Pantanal? 

Segundo o engenheiro ambiental, a seca intensa, que persistia desde 2019 na região, foi um dos fatores que cooperaram para o tamanho da devastação. Conta que, em janeiro e fevereiro, o território já sofria com a falta de chuva do ano anterior e, ao entrar os meses efetivamente secos, junho e julho, “a coisa tomou uma proporção gigantesca; foi um verdadeiro barril de pólvora”, afirma. Volume menor de chuva, temperaturas mais altas para essa época do ano e a velocidade do vento também maior que o esperado se somaram e, “na hora em que esse fogo começou, ele fugiu de controle e ninguém conseguiu parar mais”. 

As condições meteorológicas eram favoráveis, mas o início dos incêndios foi provocado. Silgueiro diz que as informações de satélite identificam mais da metade dos imóveis privados como locais onde o fogo começou. Como todas as terras possuem inscrição no cadastro ambiental rural, “os governos dispõem das informações da propriedade e do proprietário, sabem quem é”, conclui. 

Para Silgueiro, a maior motivação para os incendiários foi a sensação de impunidade após o desastre ocorrido no território da Amazônia em 2019. Aponta também a desestabilização de órgãos de fiscalização ambiental como combustível para ações criminosas que agem com a certeza de que não serão autuadas. “O trabalho preventivo é muito possível de ser feito, e a maior prevenção é a responsabilização.”

Consequências das queimadas no Pantanal 

Silgueiro conta que ainda não se sabe a dimensão do estrago que esses eventos causaram no bioma. A devastação não atingiu somente a vida animal. Desde setembro do ano passado, grupos realizam trabalhos de assistência às famílias e comunidades, pois muitas ficaram sem água e sem alimento, porque as roças foram queimadas. “O que vimos no Pantanal foi um cenário que não tem nem palavras para descrever.” 

Em relação à biodiversidade, o engenheiro prevê que ainda levará tempo para que a vegetação consiga se recuperar, já que as chuvas continuam abaixo da média, além da diversidade presente no território. “O Pantanal é um mosaico com diferentes tipos de vegetação; temos áreas de campo, áreas de floresta, cerrados que alagam periodicamente. Então, cada um desses diferentes tipos de vegetação tem a sua forma de se recuperar frente a um incêndio desses. O retorno da biodiversidade é uma incógnita, ainda não se sabe.” 

Relatório do Núcleo de Inteligência Territorial traz dados sobre os incêndios 

As informações divulgadas por Silgueiro estão no relatório Balanço dos incêndios em Mato Grosso em 2020, produzido pelo Instituto Centro de Vida (ICV), com base em dados da plataforma Banco de dados Global de Emissões de Fogo da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa) e de informações sobre focos de calor, divulgadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Para acessar o relatório basta clicar aqui

 


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