Emmanuel Macron foi reeleito no segundo turno das eleições francesas com 58,55% dos votos ao derrotar a candidata Marine Le Pen, que representava a extrema-direita na França. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Kai Enno Lehmann, do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, analisa o resultado das eleições e projeta o futuro de Macron.
De acordo com o professor, Macron venceu de forma clara ao conseguir aproximadamente 60% dos votos, mas a ascensão da extrema-direita e os 40% de Marine preocupam. “Eu acho que a França, e com isso a União Europeia, evitou uma crise agora, mas isso não quer dizer que eles vão evitar uma crise daqui para frente. O que chama a atenção na França, além do crescimento da extrema-direita de eleição para eleição, é o colapso dos partidos antigos, tradicionais e o colapso do antigo centro. Macron agora vai para o seu último mandato e daqui a cinco anos estaremos na mesma situação de novo”, ressalta.
Políticas internas
O presidente reeleito disse que a França não terá um governo de continuidade. Para Lehmann, os primeiros passos de Macron devem ser voltados para políticas internas: “Isso significa, a meu ver, um foco na questão da inflação, a exclusão de preços que tem na França, também em dar continuidade nas reformas do mercado de trabalho.” Além disso, ele destaca pautas recorrentes nos discursos de presidentes franceses: “As reformas do estado de bem-estar social, aposentadoria e tudo mais, o que vai gerar, mais uma vez, muitos conflitos internos, muita tensão interna. Então, eu acho que, dentro do possível, ele vai tentar focar inicialmente em questões internas, questões domésticas”.
A guerra entre Rússia e Ucrânia segue em curso e impacta diretamente a França e a União Europeia, sobretudo em sua liderança. “A Alemanha está tendo uma guerra terrível politicamente, Olaf Scholz está sob enorme pressão em termos domésticos. Existe uma possibilidade, uma abertura para a França assumir a liderança da União Europeia, principalmente nessa questão. Vamos ver até que ponto Macron tem a vontade de assumir essa liderança e lidar com todos os desfechos desse conflito, que vai nos acompanhar por muitos anos”, comenta o professor.
Em mais um momento importante para o futuro político na França, as eleições legislativas acontecem em pouco mais de um mês. Houve uma mudança, há alguns anos, para que elas e as eleições presidenciais ficassem próximas, em busca de continuidade e estabilidade. Lehmann comenta que, “se isso continuar, a gente pode esperar uma maioria do Macron no Parlamento. Porém, como o resultado da Marine Le Pen foi bastante expressivo e ela parece estar disposta a se envolver fortemente nessa campanha, é possível que a gente tenha um bloco próximo ao outro, até porque o antigo centro, o Partido Socialista, o Partido Conservador, não existe mais, ou pelo menos, no momento, não existe. Então, é bem possível que a gente tenha uma assembleia nacional bastante dividida, o que vai resultar em dois blocos: o bloco Macron e o bloco Le Pen, o que vai dificultar a tarefa de governar”.
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