Emmanuel Macron é o primeiro presidente francês a ser reeleito em 20 anos

Para o professor Kai Enno Lehmann, apesar do resultado das urnas, a ascensão da extrema-direita e os 40% de votos obtidos por Marine Le Pen preocupam

 25/04/2022 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 28/06/2024 às 10:56
Emmanuel Macron – Foto: Wikimédia
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Emmanuel Macron foi reeleito no segundo turno das eleições francesas com 58,55% dos votos ao derrotar a candidata Marine Le Pen, que representava a extrema-direita na França. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Kai Enno Lehmann, do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, analisa o resultado das eleições e projeta o futuro de Macron.

De acordo com o professor, Macron venceu de forma clara ao conseguir aproximadamente 60% dos votos, mas a ascensão da extrema-direita e os 40% de Marine preocupam. “Eu acho que a França, e com isso a União Europeia, evitou uma crise agora, mas isso não quer dizer que eles vão evitar uma crise daqui para frente. O que chama a atenção na França, além do crescimento da extrema-direita de eleição para eleição, é o colapso dos partidos antigos, tradicionais e o colapso do antigo centro. Macron agora vai para o seu último mandato e daqui a cinco anos estaremos na mesma situação de novo”, ressalta.

Políticas internas

O presidente reeleito disse que a França não terá um governo de continuidade. Para Lehmann, os primeiros passos de Macron devem ser voltados para políticas internas: “Isso significa, a meu ver, um foco na questão da inflação, a exclusão de preços que tem na França, também em dar continuidade nas reformas do mercado de trabalho.” Além disso, ele destaca pautas recorrentes nos discursos de presidentes franceses: “As reformas do estado de bem-estar social, aposentadoria e tudo mais, o que vai gerar, mais uma vez, muitos conflitos internos, muita tensão interna. Então, eu acho que, dentro do possível, ele vai tentar focar inicialmente em questões internas, questões domésticas”.

Kai Enno Lehmann – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A guerra entre Rússia e Ucrânia segue em curso e impacta diretamente a França e a União Europeia, sobretudo em sua liderança. “A Alemanha está tendo uma guerra terrível politicamente, Olaf Scholz está sob enorme pressão em termos domésticos. Existe uma possibilidade, uma abertura para a França assumir a liderança da União Europeia, principalmente nessa questão. Vamos ver até que ponto Macron tem a vontade de assumir essa liderança e lidar com todos os desfechos desse conflito, que vai nos acompanhar por muitos anos”, comenta o professor.

Em mais um momento importante para o futuro político na França, as eleições legislativas acontecem em pouco mais de um mês. Houve uma mudança, há alguns anos, para que elas e as eleições presidenciais ficassem próximas, em busca de continuidade e estabilidade. Lehmann comenta que, “se isso continuar, a gente pode esperar uma maioria do Macron no Parlamento. Porém, como o resultado da Marine Le Pen foi bastante expressivo e ela parece estar disposta a se envolver fortemente nessa campanha, é possível que a gente tenha um bloco próximo ao outro, até porque o antigo centro, o Partido Socialista, o Partido Conservador, não existe mais, ou pelo menos, no momento, não existe. Então, é bem possível que a gente tenha uma assembleia nacional bastante dividida, o que vai resultar em dois blocos: o bloco Macron e o bloco Le Pen, o que vai dificultar a tarefa de governar”.


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