Eleição na Câmara pode interferir na governabilidade do presidente da República

De acordo com Humberto Dantas, “quanto mais alinhado com o Executivo o presidente da Câmara estiver, maior a probabilidade de a agenda do presidente da República se fazer presente no cotidiano da Casa

 27/01/2021 - Publicado há 3 anos
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As eleições envolvendo as presidências da Câmara Federal e do Senado estão se aproximando, com ambas as votações ocorrendo no dia 1º de fevereiro (segunda-feira). Mas o que de fato isso pode representar para a governabilidade do atual presidente Jair Bolsonaro?

Apesar de ter um papel central na governança brasileira, ao contrário das eleições presidenciais, a futura votação das Casas não tem influência direta da população. “É uma eleição que não passa pela sociedade em termos daquilo que é prometido, por vezes cumprido, por vezes não cumprido, e daquilo que é negociado. Essa eleição é uma grande negociação e, por ter o voto secreto, ela é uma eleição de traições”, comenta o professor Humberto Dantas, mestre e doutor em Ciência Política pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª edição, Dantas detalha que dificilmente Rodrigo Pacheco (DEM-MG) não será o substituto de Davi Alcolumbre no Senado. De acordo com o professor, Pacheco ganhou notoriedade desde seu primeiro mandato como deputado em 2014, presidindo comissões importantes e sendo um ótimo articulador, qualidade que o coloca como o favorito neste embate. Na Câmara, o apoio presidencial pode fazer mais diferença, através de negociações, o que pode soar ilegítimo, apesar de não ser ilegal. No entanto, para Dantas, se o “presidente se mete muito, a eleição pode azedar”, pois a questão da autonomia e independência das Casas entraria em pauta.

A eleição na Câmara parece ser a eleição que mais vai interferir na governabilidade de Jair Bolsonaro. De um lado, Baleia Rossi (MDB-SP) representa a continuidade do legado de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e também uma possível agenda de ruptura com o Poder Executivo, podendo destravar medidas referentes ao governo, porém mais ao modo da Câmara. Arthur Lira (PP-AL), por outro lado, buscou apoio de Bolsonaro previamente, inclusive, na época em que foram colegas de partido, e pode destravar a agenda do governo ao próprio modo do governo. Se Lira garantir a vitória, Dantas explica que o governo teria maior controle sobre a pauta. “Quanto mais alinhado com o Executivo ele estiver, maior a probabilidade de a agenda do presidente da República se fazer presente no cotidiano da Câmara”, conclui o professor.

Ainda há uma possibilidade de segundo turno na eleição referente à Câmara dos Deputados, tendo Baleia Rossi e Arthur Lira como os principais postulantes.


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