Eleição de vereadores transexuais tornou os espaços legislativos mais plurais

Para João Filipe Cruz, embora o resultado das eleições tenha sido positivo para os grupos marginalizados, o perfil dos representantes pouco mudou, o que deve se constituir num grande desafio para os novos vereadores

 01/12/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 13/07/2022 as 9:41
Por
Fotomontagem com imagens de Wikimedia Commons e Vecteezy por Jornal da USP
Logo da Rádio USP

Pela primeira vez, a cidade de São Paulo elegeu dois vereadores transexuais: Thammy Miranda (PL) e Erika Hilton (PSOL). Outra novidade são os dois mandatos coletivos, o Quilombo Periférico e a Bancada Feminista, ambos do PSOL, com a travesti Samara Sosthenes e Carolina Iara, a primeira pessoa intersexo a ocupar o cargo. Segundo a Associação Nacional de Transexuais e Travestis (Antra), das 294 candidaturas trans em 2020 no País, 30 delas se elegeram, representando um aumento de 275% de pessoas trans eleitas em relação a 2016. 

João Filipe Cruz – Foto: Reprodução/Linkedin

João Filipe Cruz, doutorando em Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, aponta três motivos principais que explicariam o sucesso das candidaturas de pessoas trans: mudanças nas relações entre o movimento LGBTQIA+ e a política institucional a partir do governo Dilma; contexto político atual; e as mudanças no Sistema Eleitoral, que permitiu a destinação proporcional do Fundo Eleitoral em 2020 para candidaturas negras e de mulheres, o que ajudou indiretamente as candidaturas LGBTQIA+ como, por exemplo, de mulheres trans negras. 

Cruz coordenou o projeto LGBTI+ e Eleições, organizado pelo Núcleo de Sociologia, Gênero e Sexualidade (NÓS/USP), com apoio do Grupo Interdisciplinar de Raça e Política (Gira), no qual foi possível identificar a forte influência da política atual para o engajamento de candidaturas trans: “Entrevistamos 30 candidatos e candidatas LGBTI+ de um total de 50 candidaturas aqui em São Paulo e, olhando para essas entrevistas, parece possível dizer que houve uma reação à eleição de Jair Bolsonaro e a percepção de que havia necessidade dessas pessoas se organizarem para se contrapor a esse avanço conservador, inclusive em espaços de representação política”. 

Embora o resultado nas eleições tenha sido positivo para a representação de grupos marginalizados, Cruz analisa que o perfil dos representantes pouco mudou, o que representará um grande desafio para os novos vereadores: Esses parlamentares [LGBTQIA+] vão ter que se fazer ouvir, articulando apoio para a tramitação dos seus projetos e nesse processo é muito provável que algumas pautas em prol dos direitos LGBT acabem ganhando bastante visibilidade na Câmara. Ao mesmo tempo, a atuação do campo conservador segue forte, ocorrendo muitos embates. Mas, de modo geral, acho que o cenário pós-eleições de 2020 é bastante animador, pois os espaços legislativos mais plurais acabam contribuindo para a construção e consolidação de outros imaginários sobre quais sujeitos podem ocupar a política institucional”.

 


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.