Delivery transformou tendência em necessidade e continua em crescimento

Segundo estudo, vários brasileiros mudaram seus hábitos alimentares durante a pandemia e começaram a comprar por delivery, sobretudo alimentos como frutas, hortaliças e feijão

 10/03/2021 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 22/07/2024 às 17:06
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Foto: Kerfin7 on Freepik

A produção e o consumo de alimentos se modificam ao longo do tempo. Se, no passado, a terra era o único fator de produção, hoje, a tecnologia coloca na mesa quantidade e diversidade de alimentos. Na esteira desse avanço, surge o delivery que, com a pandemia e o isolamento social, ganhou protagonismo no abastecimento de alimentos.

De diferencial, o mercado de delivery se tornou necessidade com a chegada da pandemia em 2020, estimulando o consumo e influenciando hábitos da população, seja pelo aumento de pedidos de um mesmo usuário, seja pela adesão de novos às plataformas de entrega de comida. Dados do setor mostram salto de 155% no número de usuários de março a abril do ano passado, quando o estimado para o período era de 30%. O crescimento de pedidos também acompanhou o crescimento de usuários, atingindo expressivos 975% de aumento.

Levantamento da Statista – empresa especializada em dados de mercado e consumidores –  mostra o Brasil como destaque no segmento de delivery na América Latina em 2020. O País foi responsável por quase metade dos números do delivery, 48,77%. Em seguida estão México e Argentina, com 27,07% e 11,85%, respectivamente. As previsões para 2021 são de mais crescimento e estimam um movimento de aproximadamente US$ 6,3 trilhões do delivery em todo o mundo até dezembro. 

Mudanças de hábitos na pandemia

 

Vários brasileiros mudaram seus hábitos alimentares durante a pandemia e começaram a comprar por delivery; essa análise é de um dos maiores estudos de alimentação e saúde do País, feito pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), ligado à Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), que mostrou aumento generalizado na frequência de pedidos por frutas, hortaliças e feijão (de 40,2% para 44,6%), durante a pandemia de covid-19. 

No entanto, o estudo também evidenciou, nas regiões Norte e Nordeste do País, maior consumo de alimentos ultraprocessados e produtos industrializados – com adição de ingredientes como açúcares, sais, adoçantes, corantes, aromatizantes e conservantes – entre as as pessoas com baixa escolaridade em 2020.

Exemplo de usuária que aderiu ao delivery de alimentos por conta da quarentena, a jornalista Ana Letícia Carlucci conta que utiliza esses serviços de uma a duas vezes por semana, principalmente nos finais de semana. Diz que adquiriu o hábito de comprar por delivery no início do isolamento social para proteger seus pais do novo coronavírus. A jornalista considera gastar moderadamente com o delivery e que fica feliz em saber que a comida, as compras ou outros produtos vão até sua casa sem que precise se deslocar.

Tendências de mercado

Para a professora do Departamento de Ciências da Saúde e coordenadora do Laboratório de Práticas e Comportamentos Alimentares da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, Rosa Wanda Diez Garcia, o consumo de alimentos é influenciado por fatores como a economia, a acessibilidade e a cultura. Diz que a condição social, a informação e os gostos podem estar atrelados à cultura e à publicidade, que têm um peso destacado nos desejos dos consumidores.

Com relação ao mercado de delivery, a professora destaca dois aspectos que julga importantes serem considerados quanto às tendências de consumo de alimentos para 2021. São eles a insegurança alimentar e o aumento da obesidade. Rosa Wanda alerta para o aumento do delivery de alimentos de baixa qualidade, como os fast-foods. 

O futuro da alimentação

O professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, Edgard Monforte Merlo, acredita que o sistema de delivery é uma tendência não só no Brasil, mas no mundo, e que deve continuar. Segundo ele, esse sistema deve se desenvolver mais com a pandemia, “porque a volta ao ‘normal’ ainda está longe de acontecer”.

Merlo destaca ainda a inovação como a palavra que deve definir o setor de alimentos daqui para frente. Empresários e gestores, afirma o professor, devem ficar atentos para atender com rapidez e até antecipar as novas demandas dos consumidores. Assim, para se manterem competitivas no mercado, as empresas precisam atentar para as tendências do setor de alimentação e aos desafios gerados pelas mudanças. 

Beneficiado pelo delivery, o empresário Adriano Loutz diz que seu restaurante triplicou as vendas por delivery com o início da pandemia. O faturamento, segundo o empresário, é menor que o funcionamento normal em loja física, mas que “sem o delivery teria fechado o restaurante”. Mas, mesmo voltando ao atendimento presencial, Loutz acredita que o sistema de delivery deve permanecer em um patamar de destaque, já que muitos clientes passaram a conhecer esse serviço.


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