Ao menos 2,2 bilhões de pessoas possuem deficiência visual em todo o mundo e, pelo menos, 1 bilhão dos casos poderiam ser evitados, aponta relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS). Neste sentido, a catarata, doença caracterizada pela perda de transparência na lente natural do olho, é a principal causa de cegueira no Brasil e no mundo.
Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP avaliaram estudos sobre a prevalência da doença como causa de deficiência visual e cegueira na América Latina. Os resultados apontam que o número de cirurgias de catarata feitos na região é insuficiente para a demanda.
O artigo Cataract as a Cause of Blindness and Vision Impairment in Latin America: Progress Made and Challenges Beyond 2020, publicado pelo American Journal of Ophthalmology, faz uma revisão sistemática, que analisa estudos relevantes sobre o tema na literatura científica, com trabalhos publicados no período de 2014 até 2019 da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e do banco de dados da PubMed. Além disso, foram publicados dados sobre o número de cirurgias feitas por ano nos países latinos entre 2014 e 2016 obtidos dos Ministérios da Saúde. Todos os estudos publicados de 1999 até 2019 foram reanalisados quanto à equidade de gênero na cirurgia de catarata.
“Apesar de um aumento nos números em relação à cobertura cirúrgica e resultados cirúrgicos da catarata após a iniciativa global VISION 2020, os resultados estão abaixo do ideal nos países latino-americanos”, conta Tulio Reis, que é doutorando da FMRP e primeiro autor do estudo.
O projeto VISION 2020, lançado no final dos anos 1990, é uma iniciativa global da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira com o objetivo de eliminar a cegueira evitável até 2020.
O pesquisador conta que os dados revelam ainda os diferentes cenários na região analisada. Por exemplo, a Argentina teve uma cobertura cirúrgica (Cataract Surgical Coverage – CSC) satisfatória de 83,7% e resultados cirúrgicos (Effective Cataract Surgical Coverage – eCSC) – quão bem o paciente enxerga após passar pelo procedimento cirúrgico – de 75,3% dos casos, ao mesmo tempo em que a Guatemala possui cobertura de 17,4% e qualidade de 6,9%.
“Além das diferenças entre os países, é possível perceber que o gênero não é um fator de disparidade relevante, de acordo com dados disponíveis atualmente. Entretanto, especialmente na América Central, as mulheres têm pior cobertura e resultados, o que nos mostra que concluir sobre equidade de gênero com os poucos dados atuais pode ser impreciso”, revela.
Neste sentido, os pesquisadores apontam sugestões para resolução dessas deficiências, como a necessidade de disseminar informação sobre o procedimento cirúrgico, sobre a segurança do procedimento e fornecer consultas de acompanhamento.
Outro ponto destacado no trabalho é a disparidade entre o número de oftalmologistas nas áreas urbanas e locais remotos. “Embora o número total de profissionais não pareça ser um problema na América Latina, é preciso criar incentivos para mobilizar recursos humanos em locais longe das grandes cidades”, afirma.
O trabalho conta com coautoria do professor João Marcello Furtado, da FMRP, e com os pesquisadores Van Lansingh, do HelpMeSee dos USA e do Instituto Mexicano de Oftalmología do México; Jacqueline Ramke, da London School of Hygiene and Tropical Medicine e da University of Auckland; Juan Carlos Silva, da Pan-American Health Organization da Colômbia; e Serge Resnikoff, da University of New South Wales.
Entenda o que é catarata
Caracterizada pelo sintoma de visão embaçada, a catarata é uma doença ocular que torna opaco o cristalino, lente transparente que permite a entrada de raios de luz para a formação de imagem. O paciente com a doença passa a enxergar com dificuldade e fica com a sensação de ter uma névoa à sua frente.
O tratamento da catarata é a cirurgia, que é rápida e feita com anestesia local. O procedimento faz a substituição do cristalino por uma lente artificial que recupera a transparência necessária para a entrada de luminosidade.
Mais informações: e-mail furtadojm@gmail.com, com o professor João Marcello