Declaração de Ricardo Salles mostra seu desentendimento das leis

Comércio ilegal não traz retorno a união, uma vez que não há cobrança de imposto, esclarece Pedro Luiz Côrtes

 19/07/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 31/07/2019 as 14:31
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Há duas semanas, um caminhão-tanque a serviço do Ibama foi incendiado por madeireiros em Rondônia. O veículo transportava combustível para abastecer helicópteros do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que operavam na região de Pacarana, a 592 km de Porto Velho, e combatiam a exploração ilegal de madeira nas reservas indígenas de Roosevelt e Sete de Setembro. Nesta quarta-feira, o Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, em visita à região do ataque, defendeu a atividade madeireira.

O professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicação e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (Procam), aponta a incongruência do governo ao desmoralizar a atuação do IBAMA. “Os funcionários de carreira do órgãos estão simplesmente tentando cumprir a lei. A gestão Bolsonaro não parece ter esse entendimento. Mesmo o ministro Ricardo Salles, que é um advogado de formação”, comenta o especialista na coluna O Ambiente é nosso Meio.

Também coordenador da Rede Internacional de Estudo Sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade, Côrtes argumenta que os prejuízos desses posicionamentos do governo vão além da questão ambiental. “Salles falou que se solidariza com os madeireiros que querem apenas produzir. Será que ele não percebe que se trata de uma atividade ilegal? Que não traz sequer retorno a união?”, pergunta. Não há cobrança de impostos sobre o comércio paralelo.

Os riscos são também diplomáticos. O Mercado Comum do Sul (Mercosul) firmou recentemente um acordo de livre comércio com a União Europeia (UE). O período eleitoral francês se aproxima. Agricultores da França foram os mais críticos ao pacto. “Como Emmanuel Macron, ou qualquer outro candidato, vai explicar à sua população que devem seguir regras ambientais se seus concorrentes diretos não os seguem em outros países”, diz o professor.

“Em vista disso, até nossas exportações agrícolas, que são a galinha dos ovos de ouro na visão do governo, ficam em perigo”, declara Côrtes. Conforme ele, a postura de Salles tem consequências ainda mais agravantes, uma vez que duas semanas atrás os próprios madeireiros incendiaram um veículo oficial.


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