Criação do primeiro chip de computador pela USP completa 50 anos

A história da microeletrônica brasileira é contada por João Antonio Zuffo, criador do primeiro circuito integrado brasileiro

 03/05/2021 - Publicado há 3 anos
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Primeiro chip da América Latina – Foto:

 

Há 50 anos, em 1971, a Escola Politécnica da USP desenvolveu o primeiro chip da América Latina. A criação pioneira do circuito integrado marca a trajetória do Laboratório de Microeletrônica (LME), fundado em 1968. Posteriormente, com a incorporação do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI), a tecnologia foi aperfeiçoada para incorporar processadores, máquinas de calcular, supercomputadores e realidade virtual.

A história da microeletrônica brasileira é contada por João Antonio Zuffo, professor sênior do Departamento de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da USP e criador do primeiro circuito integrado brasileiro. 

Da criação do primeiro chip aos supercomputadores

Após conquistar o título de doutor pela Poli-USP, Zuffo, juntamente com um grupo de docentes, organizou a fundação do LME em 1968, com investimentos públicos e privados, possibilitando a execução de pesquisas. Na época, Zuffo lecionava cursos na área de circuitos elétricos integrados e logo em 1971 finalizou o considerado primeiro chip do Brasil: “Era um circuito de acoplamento de emissor. Continha seis transistores, três entradas e duas saídas. Fiz a demonstração de operação desses transistores, inclusive, para uma visita que teve do presidente na época. E assim se desenvolveu o Laboratório de Microeletrônica”.

Primeiro chip da América Latina – Foto:

Ao mesmo tempo, em 1968, o Departamento de Engenharia Elétrica recebeu financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), propiciando a Zuffo fundar o Laboratório de Sistemas Integráveis, visando ao desenvolvimento de processadores. “Em 1980, os circuitos integrados tinham na faixa de 5 a 7 mil componentes e eu já pensava na possibilidade da microeletrônica chegar a 1 milhão de componentes no chip. Eu pensava em como projetar isso. E aí fomos desenvolvendo o LSI. Trabalhamos com um pé na parte de computação, desenvolvendo máquinas de calcular e computadores.”

Em 1979, O LME passou a desenvolver circuitos integrados em múltiplas camadas, usando material refratário com componentes, como molibdênio e tungstênio. Assim, os chips se tornaram mais sofisticados. Posteriormente, na década de 1990, a partir de financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), os pesquisadores investiram na criação de supercomputadores com componentes paralelos, utilizando hipersistemas integrados. Junto a isso, desenvolveram também a realidade virtual.

Zuffo explica que a realidade virtual, inicialmente, foi motivada pela telemedicina. Uma de suas filhas foi acometida pelo câncer e, durante os exames, o professor observou que os médicos calculavam a massa tumoral manualmente em papel. A partir disso, pensou em criar um método mais eficiente no computador: “Foi quando nós entramos nessa parte virtual e avaliação de tumores. Isso decorreu na década de 1990. Lá por 1997 nós terminamos um supercomputador paralelo e nos apresentamos na Supercomputer de São José, na Califórnia. Realmente foi um choque para eles”. Depois, a tecnologia de supercomputador paralelo foi incorporada pela empresa Itautec: “Nós passamos essa tecnologia de supercomputador paralelo para a Itautec, que chegou a fabricar os supercomputadores paralelos durante anos, desenvolvidos pelo nosso laboratório, e feito uma personalização pela Finep para repassar para a empresa”. 

João Antonio Zuffo – Foto: wikipedia

O professor ainda recorda que a Finep possibilitou a fundação do Laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológico (LSI-TEC), associação sem fins lucrativos, para disponibilizar as tecnologias criadas na USP para a indústria. A entidade desenvolveu o computador de paralelo gráfico no Brasil, apresentado em evento internacional: “Marcelo Zuffo desenvolveu toda essa parte de computação gráfica, de realidade virtual, e criamos um protótipo de realidade virtual voando através do Rio de Janeiro para Bonn, num congresso do IEE. O prefeito da cidade ficou tão entusiasmado que comprou  o nosso sistema. Nós vendemos para ele porque ficava mais barato vender para ele do que trazer de volta para o Brasil. Houve toda essa aventura no meio do caminho”.

Futuro da tecnologia

O especialista acredita que há enormes possibilidades na área de tecnologia de comunicação. Os celulares, por exemplo, devem avançar cada vez mais: “Realmente já estão trabalhando na sexta geração de telefonia celular. Isso envolve frequências de 3 a 10 Terahertz. Hoje não se trabalha nessa frequência, mas seria na ordem de cem vezes mais rápido que a quinta geração. Também é possível trabalhar com luz infravermelha na sexta geração”. 

A inteligência artificial tende a ser aperfeiçoada: “Vejo muito desenvolvimento na área de inteligência artificial. Isso interligado com a internet de todas as coisas. Vejo possibilidades de desenvolvimento de novas arquiteturas de computação para integrar neurônios e sinapses localmente com memória, fazendo uma espécie de neurocomputação local”, compartilha, e finaliza:  “O Brasil tem muitas oportunidades, porque existem áreas que são de baixo custo. Não são precisos laboratórios muito sofisticados, mas cabe inclusive uma grande pressurização da parte eletrônica com a biológica”.


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