Foto: Reprodução Youtube

Perdemos Éder Jofre, o maior peso galo da história do boxe mundial. Que golpe!

 07/10/2022 - Publicado há 2 anos
Antonio Carlos Quinto - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

No domingo, 2 de outubro, o Brasil estava sob uma grande expectativa com as eleições para presidente, governadores e deputados (estaduais e federais). Mas, naquela madrugada, morreu “nosso” boxeador Éder Jofre, considerado o maior peso galo do boxe mundial de todos os tempos. Para mim foi, digamos, um “uppercut” que me atingiu em cheio o queixo. Mas resisti, respirei e não cheguei à lona.

Não sou um especialista na “nobre arte”, seja como um analista do esporte ou praticante. Mas sou um dos tantos brasileiros que muito admirou a trajetória desse nosso campeão que tem sua marca no Hall da Fama Internacional do Boxe, nos Estados Unidos. Perdoem-me pela ousadia em redigir algumas palavras sobre esse “verdadeiro mito”.

Eu, enquanto um simples admirador do esporte, recordo que minhas poucas tentativas de aplicar “jabs”, “uppercuts”, “cruzados” e “ganchos” foram feitas quando eu ainda era um garoto, entre meus 10 e 12 anos. Me lembro de um vizinho em nossa rua, lá na Freguesia do Ó, que tentava ensinar os primeiros passos do esporte aos meninos da vizinhança. Eu não ia mal naqueles treinos, até que um dia, num “direto” em que pude ver a enorme luva chegando a meu rosto, vi o “o mundo girar” e… fui ao solo. Fim!

As outras experiências que tive com a “nobre arte”, se é que se pode chamar de experiências, foram quando eu brincava, disparando golpes à distância e sem luvas, claro, com meu irmão mais velho, Euclides! Que saudade… Aliás, quando meu filho ainda era uma criança, com seus 6, 7 ou 8 anos, também brincávamos de trocar alguns golpes à distância em algumas de nossas brincadeiras, e sem as luvas.

Ou seja, mesmo não sendo especialista, sempre desejei ser um praticante. Mas nunca passei dos “golpes à distância” com Euclides ou com meu filho, Luís. Claro que sou então um admirador do boxe, como me encanto com tantos outros esportes. Me orgulho em dizer que vi, pela TV, memoráveis combates de Mohamad Ali (Cassius Clay), norte americano e maior peso pesado de boxe de todos os tempos, e alguns de seus contemporâneos, como Joe Frazier, Ken Norton e George Foreman, entre outros. Estávamos na década de 1970 e a supremacia negra entre os pesos pesados me fascinava!

Mas, na década anterior, quando comecei de fato a admirar o esporte, foi na companhia de Euclides. Me lembro bem de uma noite, sabe-se lá que horas, ele assistia TV na sala de casa, sozinho, o combate entre Éder Jofre e o boxeador japonês Masahiki “Fighting” Harada. Com os olhos atentos, Euclides comentava a luta e tinha a certeza de que Éder Jofre venceria. Como que contagiado, passei a torcer também, mas apenas compreendendo quem era o brasileiro e quem era o japonês. Claro, eu era ainda uma criança, mas as reações e comentários de meu irmão me tornava um torcedor de Éder, já que isso satisfaria Euclides!

Fotos: Wimedia Commons/Dominio Público

Veio a decepção! Naquele maio de 1966, Éder Jofre sofria sua segunda derrota para o esportista japonês. Bom lembrar aliás, que foram essas as únicas derrotas do boxeador brasileiro como profissional, que sempre foi treinado pelo seu pai, o argentino José Aristides Jofre, o Kid Jofre. Num total de 81 lutas como profissional, foram 75 vitórias, sendo 52 por nocaute, quatro empates e somente duas derrotas, justamente para o boxeador japonês. E Euclides bradava naquela noite: “foi roubado… ele tem de pedir revanche!”. Até mesmo boa parte da imprensa mundial especializada considerou o resultado controverso. Era o segundo combate contra o esportista japonês e aconteceu na cidade de Tóquio. O primeiro foi em Nagoya, em 1965.

Mesmo assim, meu querido irmão falava com orgulho daquele herói brasileiro. Éder reinou em praticamente toda a década de 1960 até o ano de 1976, quando venceu seu último combate derrotando o mexicano Octavio Gomez, em São Paulo.

Éder Jofre se manteve no auge de sua carreira num tempo em que o esporte brasileiro tinha, nada mais, nada menos, que Pelé, que viria a ser condecorado como o “Atleta do Século” e “Rei do Futebol”. O senhor Edson Arantes do Nascimento jogava no maior time do futebol brasileiro, o Santos FC, que venceu tudo o que tinha de vencer naquela década. E o basquetebol brasileiro ainda ostentava a conquista do título mundial em 1959.

O “galo de ouro”, como era chamado, foi eternizado em 1992 no “Hall da Fama” do boxe, localizado na cidade de Canastota, Estados Unidos. Éder foi considerado, por especialistas de boxe do mundo inteiro na revista especializada The Ring como o “melhor pugilista da década de 1960”, à frente de Muhammad Ali, que ficou na segunda colocação. Vale lembrar que Ali é considerado um dos melhores da história do esporte. Ele conquistou o título mundial dos pesados em1964, mas o perdeu em 1967 por ter se recusado a lutar no Vietnã. Após ter sido proibido de lutar por três anos, recuperou o título na década seguinte.

As vitórias de Éder foram em quantidade e expressivas. Éder foi campeão na categoria galo, de 1960 a 1965, pela Associação Mundial de Boxe (AMB); campeão mundial unificado na mesma categoria, AMB e União Europeia de Boxe; e campeão mundial peso-pena em 1973 pelo Conselho Mundial de Boxe (CMB). Nosso campeão nasceu no dia 26 de março de 1936 e passou boa parte de sua vida no bairro do Peruche, na zona norte de São Paulo. Chamava-me a atenção, além da competência dele nos ringues, a simplicidade muito bem traduzida num forte sotaque típico paulistano.

Agradeço a Euclides! Agradeço a nosso “galo de ouro”! Agradeço a Luís!


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