Nossa história, como grupo de cirurgiões torácicos responsáveis pelos defeitos congênitos da parede torácica na Universidade de São Paulo, teve início por volta do ano de 1971, quando o Dr. Nagib Curi começou a dedicar parte do seu trabalho a estes pacientes, treinando alguns dos seus assistentes, até que, no ano 1984, uma parte do ambulatório da disciplina foi se destacando nesta função, todas as quintas-feiras pela manhã. A partir desta época, inclusive, alguns dos nossos residentes acabaram se aperfeiçoando e defendendo teses de doutorado e publicando relevantes trabalhos na literatura nacional e internacional.
Assim crescemos, estudamos e trabalhamos com diferentes técnicas cirúrgicas, com várias patologias congênitas, naquela época ainda consideradas “técnicas abertas”, ou seja, sem os equipamentos de videocirurgia que dispomos atualmente, para a realização do que chamamos de cirurgia minimamente invasiva.
Em maio de 2003, o Dr. Gilson Sawaia, em Campinas (SP), promoveu um evento relacionado a cirurgia pediátrica. Durante o curso, apresentaram a primeira cirurgia de correção do pectus excavatum, ou peito de sapateiro, feita no Brasil, com uma excelente exposição e discussão da técnica cirúrgica. Nós assistimos à apresentação, juntamente com os nossos residentes, e foi quando tomamos uma grande decisão… esta técnica é promissora e, sem nenhuma dúvida, tem que estar entre as técnicas disponíveis no nosso Serviço de Cirurgia Torácica, do Hospital das Clínicas, Instituto do Coração (InCor) da Universidade de São Paulo.
Como na época o material disponível era apenas o importado e representava um custo associado importante ao procedimento, procuramos o professor Fabio Biscegli Jatene, professor titular e responsável pelo grupo. Ele não mediu esforços, e os recursos foram levantados em poucas semanas; a disciplina então, promoveu o primeiro curso de pós-graduação, direcionado aos cirurgiões torácicos do Brasil, e no dia 30 de setembro de 2003, aproximadamente três meses depois do evento em Campinas, tivemos o prazer de transmitir ao vivo para todos os participantes e interessados a primeira cirurgia minimamente invasiva desta especialidade feita dentro do InCor.
A partir deste marco, inúmeras outras cirurgias foram se acumulando, em número expressivo não só dentro da nossa Instituição (hoje próximo de 800 casos), mas em caráter nacional, internacional, também estimulando vários outros alunos e professores a publicar trabalhos, teses de doutorado. Nos resultados e conclusões da nossa experiência, as novas ideias e as novas técnicas já foram introduzidas no método original da cirurgia, chegando inclusive a ser motivo de citação na literatura internacional e recebermos convites para dividir estes conhecimentos com vários colegas durante os encontros anuais da especialidade.
Depois de viver toda esta jornada, já na maturidade, por volta dos últimos oito anos, uma indústria nacional foi chamada a discutir este assunto com a nossa disciplina, agora sob a direção do professor Paulo Pego-Fernandes. Ele também demonstrou um total apoio a esta iniciativa e, com um esforço conjunto de cirurgiões torácicos, preceptores, residentes, engenheiros e técnicos da indústria, todos os novos desenhos e os consagrados modelos de ferramentas já existentes foram cuidadosamente avaliados, desenvolvidos, modificados, aperfeiçoados, até que todo o grupo chegou a um consenso, fundamentalmente, baseado nos bons resultados obtidos com esta nova técnica e com os novos materiais para todos os nossos pacientes tratados e operados aqui no InCor.
Finalizamos este artigo, ressaltando o trabalho pioneiro dos nossos chefes da Disciplina de Cirurgia Torácica da Universidade de São Paulo, pelo apoio total e irrestrito às novas ideias e aperfeiçoamentos que todo este trabalho acabou representando. Destaco ainda, a importância da indústria nacional que entrou na competitividade mundial e hoje tem local de destaque nas indústrias deste ramo, representando uma fantástica oportunidade aos nossos pacientes, a terem acesso na instituição, através de vários convênios e/ou pelo Sistema Único de Saúde, ao que consideramos um dos materiais mais modernos, avançados e atualmente disponíveis equipamentos cirúrgicos minimamente invasivos do mundo.
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