A ciência e a arte de prevenir doenças e promover a saúde

Por Sylvia Miguel, jornalista responsável pela Assessoria de Comunicação da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e bacharel em Saúde Pública formada pela mesma faculdade

 31/01/2024 - Publicado há 11 meses

Sylvia Miguel – Foto: Arquivo pessoal/Instagram

 

 

O escopo da saúde pública perpassa todas as áreas da vida em sociedade. Em todas elas, a Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP está presente, de inúmeras maneiras: no estudo e conhecimento das condições de saúde da população, das probabilidades de acidentes e dos riscos, da sexualidade e dos ciclos de vida, dos comportamentos associados à ocorrência de doenças; na defesa da saúde como direito e de um sistema universal de saúde, no combate à fome e aos desertos alimentares; na vigilância, no monitoramento, nas pesquisas das informações em saúde; está presente na política, no planejamento e gestão, na avaliação de serviços de saúde, nas ciências sociais e humanas e também na saúde ambiental.

A produção de pesquisas sanitárias e a formação e qualificação de pessoas já são uma tradição de longa data. A FSP é a instituição que sedia o mais tradicional curso de formação de sanitaristas e também o mais antigo curso de nutrição do País.

Desde sua criação como Instituto de Higiene, na década de 1920, a FSP vem ganhando terreno e consolidando sua história na construção do conhecimento em saúde. Em alguns momentos, atua como protagonista na formulação e implementação de políticas públicas. Outras vezes, tem trabalhado nos bastidores, pautando diretrizes de saúde – a exemplo dos estudos cruciais que fundamentaram a abertura da CPI da Covid-19.

Seus docentes e egressos engrossaram o coro do movimento sanitarista que permitiu criar o Sistema Único de Saúde (SUS) na Constituição de 1988. E, mais recentemente, diversos deles se aliaram à construção da Lei n.º 14.725/2023, que regulamenta a profissão de sanitarista. Uma oficina de trabalho em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e o Ministério da Saúde está prevista para muito em breve, visando contribuir para o debate público e democrático sobre a regulação dessa importante força de trabalho no Brasil e as formas de incorporá-la ao SUS.

O forte movimento rumo à internacionalização, associado ao reconhecimento do talento e dedicação de seus docentes, alunos e funcionários por diversos rankings mundiais, apenas corroboram que a FSP continua no caminho certo, aliando tradição e inovação. Em se tratando de inovação, não se pode deixar de mencionar a área de inteligência artificial, que vem ganhando grande destaque na ciência de dados em saúde, tema que é o carro-chefe de um dos seus muitos laboratórios de pesquisa.

É bom relembrar que a inovação e a tecnologia não são feitas por meio de máquinas, apenas. É sabido que, na área da saúde, as chamadas tecnologias leves são a verdadeira revolução na tão almejada integralização do cuidado e do acesso à saúde. Elas dizem respeito às relações humanas, como o acolhimento, o vínculo, a autonomia, a responsabilização e a gestão como forma de governar processos de trabalho.

Nessa seara, a FSP também está presente por meio da pesquisa, da extensão universitária e do ensino, realizados no Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza e também no histórico Serviço Especial de Saúde de Araraquara (Sesa). Ou, ainda, por meio de postos avançados de pesquisa em entomologia, ou na figura de seus centros colaboradores de organismos internacionais, como Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e muitas outras parcerias externas.

O diagnóstico da situação de Insegurança Alimentar e Nutricional (InSAN) entregue à Reitoria da USP e que traz ações propositivas para as políticas públicas voltadas ao combate à fome e à insegurança alimentar no País, contou com a atuação de pesquisadores da FSP, abrindo campo para a criação do INCT Combate à Fome, sediado nesta unidade.

Um olhar na história remete à imensa contribuição da FSP no estudo e na compilação de dados e no controle de doenças infecciosas, das vacinas, das doenças crônicas não transmissíveis como o câncer, por exemplo. Os muitos feitos incluem, entre outros, a idealização e construção de importantes sistemas de informações vitais, sem os quais não é possível gerenciar serviços nem políticas públicas de saúde.

Um olhar no presente remete à mudança de paradigma na categorização dos alimentos, com estudos pioneiros que se tornaram referências mundiais, uma revolução que se reflete no Guia Alimentar para a População Brasileira, o qual estabeleceu novos conceitos no campo da nutrição e influenciou documentos de outros países, como Canadá, Israel, Uruguai, Equador e Peru.

Junto a tudo isso, a FSP busca um futuro de amplo debate com a sociedade, visando contribuir para a integridade física das pessoas e da coletividade, ainda pautada nas definições elaboradas por Charles-Edward Winslow, publicadas na revista Science em 1920, e das mais celebradas ainda hoje, de que a saúde pública é “a ciência e a arte de prevenir as doenças, de prolongar a vida e de promover a saúde e a integridade física através de esforços coordenados da comunidade para a preservação do meio ambiente, o controle das infecções que podem atingir a população, a educação do indivíduo sobre os princípios de higiene pessoal, a organização dos serviços médicos e de saúde para o diagnóstico precoce e tratamento preventivo de patologias, o desenvolvimento de dispositivos sociais que assegurem a cada um o nível de vida adequado para a manutenção da saúde”.

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