Complexidades – descobertas de um mundo cada vez mais difícil de decifrar

Por Ênio Alterman Blay, pesquisador do Centro de Inteligência Artificial no InovaUSP

 11/03/2024 - Publicado há 9 meses

A Complexidade é um tema que me fascinou imediatamente ao conhecê-lo. Devo essa felicidade ao professor José Roberto Castilho Piqueira, titular em Engenharia de Sistemas na Poli, onde realizo doutorado sob sua orientação.

O encantamento começou ao ler Introdução ao Pensamento Complexo, de Edgar Morin. E esta indicação se deu ao argumentar com meu agora orientador que gostaria de um doutorado que fosse em humanidades, já que de engenharia tinha estudado o suficiente.

Morin nos mostra como se unem os mundos das ciências exatas, biológicas e humanas em um todo. Esta totalidade é complexa; mas não complexa no sentido de complicada ou difícil.

Complexa em um sentido mais amplo.

Complexa é a realidade na qual as várias ciências se intercalam, interceptam, se influenciam. Complexos são os problemas cuja solução não acontece ao se dividir o todo em partes e analisá-las, à la Descartes. Pois, mesmo que possamos entender cada uma individualmente, ao analisarmos o todo, vemos que este possui outras características. Que não são mais ou menos do que as das partes. São diferentes. Uma sociedade não é a soma das características de cada indivíduo (ou alguma outra relação entre cada um deles). Curiosamente, a esse tipo de conclusão podemos chegar com outras organizações, sociais ou não, como empresas ou cardumes, gases ou mercado financeiro, software e inteligência artificial.

Durante o ano de 2023 tive a oportunidade de interagir com o professor José Eli da Veiga, que promoveu as Conversas Sobre Complexidade. Foram seis conversas realizadas e que podem ser vistas na íntegra no canal do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. Caso este texto desperte sua curiosidade, já ficam algumas primeiras dicas de por onde começar, além dos livros de Morin. Boa parte deles está traduzida para o português, embora não existam em inglês ou alemão (que irá motivar futuros textos neste Jornal).

Cada um de nós chega à Complexidade a seu tempo e caminho. Mas, para mim, ela parece um tipo de Midas bom. Pois quando tocamos nosso objeto de análise, ele se transforma e nos transforma. Assim, nós viramos o próprio objeto, e quem nós estudamos vira o sujeito. Nosso olhar se torna mais crítico e exigente; as respostas que recebemos precisam ser mais bem elaboradas para dar conta de realidades que não permitem simplificações e reduções.

Há muitas fontes e literatura sobre Complexidade que espero poder compartilhar no decorrer dos próximos meses.

Enfim, é um tema magnético com o qual espero atrair quem tenha curiosidade de ler esta coluna que agora começa.

Ainda quero deixar marcada a influência de três mulheres que me inspiram e apoiam incondicionalmente na jornada de um doutorado após os cinquenta anos. Minha mãe, Professora Emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e articulista do Jornal da USP. Minha esposa, professora da USP de Letras – Alemão, e dedicada pesquisadora que ilumina meu caminho acadêmico, ainda muito novo para mim. E minha filha, jovem mestranda das ciências sociais na Alemanha. Com ela aprendo o contemporâneo e os instrumentos de pesquisa que a formação em engenharia não nos fornece.

Sendo assim, estou ansioso por compartilhar com vocês as descobertas complexas de um mundo cada vez mais difícil de decifrar.

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