Vem ano, passa ano, o vestibular continua ali, espreitando a tranquilidade dos jovens candidatos; o que muda são só as vítimas de tremedeiras de perna e frios na barriga. A professora e membro do Serviço de Orientação Profissional do Instituto de Psicologia da USP, Débora Audi, fala sobre esse desafio na vida dos jovens.
A psicóloga afirma que uma das principais causas do vestibular ser motivo de tanto estresse é por ser a primeira grande prova – no sentido literal e figurado – na vida de muitos. “É essa passagem: sair do ensino médio, um ambiente mais cuidado, e ir para a faculdade, onde não se sabe direito o que vai encontrar. Como toda transição, é um período de vulnerabilidade”, diz ela.
A imaturidade natural associada à idade é um outro fator importante. Pela falta de experiência e bagagem emocional, a importância do evento assume magnitudes desproporcionais, o que gera extrema ansiedade. “Quando passa fala ‘bom, também não é tudo isso’.” A tendência, segundo ela, é que os jovens se sintam mais confortáveis conforme avançam nos desafios da vida.
Esses apontamentos são valiosos tanto para o vestibulando quanto para seu entorno. Ela assegura aos estudantes que o vestibular não é tudo isso que eles pensam, mas que também a comunidade não pode reproduzir esses vícios: “É um momento que toda a sociedade tem que olhar e cuidar desse pré-vestibulando. A escola, a família tem que tomar cuidado com essa pressão que coloca”.
Sobre a saúde mental
Ela lembra que existem casos em que a pressão se torna demais. Isso costuma ser o caso de alunos que sempre tiveram um bom desempenho escolar e agora sentem o peso de querer manter essa expectativa também no vestibular. Nesses casos, é importante ter em mente a transitoriedade do momento, que o vestibular não vai definir sua vida; se estiver muito difícil, é recomendado buscar ajuda profissional.
Outro caso é o dos candidatos de medicina, que muitas vezes têm que passar anos no cursinho. Mas nem sempre os familiares têm dimensão da dificuldade que é entrar nesse curso. “Eles veem que o vestibulando está há dois, três anos estudando sem passar e começam a fazer perguntas, pressionar. Mas medicina é difícil, é preciso ter essa compreensão.”
De um ponto de vista mais geral, ela fala sobre a época de incertezas e desilusões que vivemos. “Questões econômicas, ambientais e sociais influenciam diretamente em quanto esse jovem consegue sonhar com um bom futuro para ele”, diz Débora. Segundo a experiência dela, as crises climáticas, a escassez de trabalho e de moradias acessíveis tornaram-se um peso extra. Fica como um ponto de alerta para a sociedade e da forma que o futuro é enxergado.
Dicas de como lidar
Além dos pontos que ela levantou, Débora oferece ações concretas para como passar por essa fase. Nem sempre é fácil manter o pé no chão, mas conversar com pessoas que já passaram por isso é um caminho. Isso é uma forma, como ela comenta, de enxergar que ‘existe uma vida depois do vestibular’, que a prova não é tudo. “Até para esses jovens vestibulandos poderem se imaginar melhor na universidade. Tudo isso acalma um pouco a ansiedade, no sentido de você ver que passa”, a professora afirma.
Manter-se ativo física e socialmente também é importante. Não só do ponto de vista da saúde – que não deixa de ser essencial –, mas também para ressaltar que mesmo a experiência universitária é mais do que estudos. “Fazer amizade, poder participar da universidade, dos aspectos de socialização, de esportes. Tanta coisa que você pode desenvolver estando na faculdade”, ela coloca. Ser aprovado é importante, mas se cuidar e saber estabelecer outras prioridades é tanto quanto.
*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira
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