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Em 2023, ocorreram 11 ataques a escolas no Brasil. O problema tem origens muito antigas, mas começou a se agravar recentemente. “Eles estão se tornando mais frequentes no Brasil, especialmente a partir de 2017. A partir de 2017, o Brasil não teve nenhum ano, fora 2020, que foi o ano da pandemia, sem ataques às escolas“, explica Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP.
Os fatores são diversos, mas muito relacionados com as redes sociais e com o discurso de ódio. O professor explica que antes a articulação era feita por comunidades irrestritas, como as da deep web, mas hoje elas são bem melhor articuladas e estão presentes nas maiores redes: desde o Discord até o WhatsApp.
“O Brasil vive, desde 2017, sob a permissividade do ódio. O discurso de ódio é altamente expansivo: quando ele ocorre, independentemente do tema e do motivo, ele acaba mobilizando outros discursos de ódio”, acrescenta Cara.
Fatores
Esses tipos de discurso têm temas variados, mas, quando relacionados aos ataques às escolas no Brasil, têm características específicas.
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“O fator brasileiro é que esses ataques se mobilizam fortemente pela misoginia, pelo racismo e pela LGBTQIA+fobia”, comenta o professor.
No geral, o fenômeno, que é um problema mundial, é pautado por uma violência extrema e se relaciona ao conceito de extremismo. “É uma ideologia e um modo de vida pautado na exclusão do outro, na aniquilação do outro; é tudo aquilo que fica fora do supremacismo branco.”
Além de muito vinculados a uma ideia da misoginia, que é o ódio às mulheres, do racismo, que é o ódio e desrespeito às pessoas não brancas, e a um tratamento preconceituoso em relação também à comunidade LGBTQIA+, há outras características, como uma postura antiestado, antiorganização social, antipolítica.
Mas o que pode ser feito ou deve ser melhorado para prevenir esses ataques?
Atitudes
Para Cara, a primeira atitude para prevenir esses ataques é o controle social sobre as plataformas digitais: “Uma plataforma digital, um Instagram, Twitter consegue identificar a minha preferência de consumo. Por exemplo, eu sou corinthiano, compro camisa do Corinthians. E aí, é só entrar no celular que começa a aparecer um monte de produto do Corinthians. Eu sou tentado a comprar porque eu sou apaixonado pelo meu time. Não é possível que ela não consiga identificar os discursos de ódio, até porque tem palavras-chave e tem comportamentos. Com um pouquinho de esforço e boa vontade, as plataformas poderiam proibir demais a estruturação de comunidades de ódio, que são as mobilizadoras e as articuladoras dos ataques. Nenhum ataque no Brasil deixou de ser articulado pela internet, todos foram articulados pela internet“, pontua o professor.
Além disso, do ponto de vista estatal, para o professor, atualizar as leis que tratam do tema, implementar o Projeto da Luiza Erundina, que democratiza a gestão escolar e realmente democratizá-la são pontos fundamentais para a prevenção desses ataques. “A lei de Crime de Ódio de 1989 precisa ser atualizada, até porque existem outras modalidades de crime de ódio e outras simbologias. É preciso regulamentar o Sistema Nacional de Combate à Violência às Escolas. Uma descoberta importantíssima: o que evita o ataque? Gestão democrática nas escolas. Uma escola que tem a capacidade de resolver pacificamente os conflitos. Pode acontecer um ataque de um membro exógeno da escola? Pode, mas isso é raro dentro do fenômeno”, complementa Cara.
A presença de psicólogos e assistentes sociais dentro das escolas e o controle de armas de fogo também entram nesse grupo de atitudes. “É preciso urgentemente que o País tenha a compreensão de que é necessário criar inteligência sobre o extremismo para prevenir o extremismo, para combater o extremismo”, ressalta o professor.
*Sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo
Produção: Produção - Cinderela Caldeira, Tulio Gonzaga, Julia Estanislau
Edição: Rádio USP
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