Ainda em foco, a 35ª Bienal de São Paulo, em cartaz no Parque Ibirapuera, claramente um lugar público, atrai multidões. No entanto, para dar continuidade à nossa exploração desse contexto expositivo e suas particularidades, desta vez faço referências à arquitetura residencial, intimista, de Oscar Niemeyer, em particular a da Casa das Canoas, projetada entre 1950 e 1954 para servir como sua residência. Trata-se de uma das obras mestras da arquitetura residencial modernista do século 20, em pari passu com as icônicas Ville (vila) Savoye (1929), de Le Corbusier, Falling Water House/a Casa da Cascata (1935-37), de Frank Lloyd Wright, a Casa Farnsworth House (1945-51), de Mies van der Rohe , bem como as Casas de Vidro/Glass Houses, do arquiteto norte-americano Philip Johnson (1945-49) e da ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1951).
A Casa das Canoas sintetiza a singularidade, a inventividade e originalidade do polêmico arquiteto modernista brasileiro que viveu 104 anos (1907–2012). A casa é projetada quando Niemeyer já goza de reconhecimento, nacional e internacional, seja por ter realizado o projeto do Pavilhão Brasileiro para a Expo NY em 1939 como também pelo conjunto arquitetônico e paisagístico da Pampulha (1940-44), a convite do então governador mineiro Juscelino Kubitschek, futuro presidente da República e o grande responsável pela criação da nova capital federal Brasília. Se em coleções de arte temos o que consideramos museum pieces (obras singulares, que sintetizam o processo criativo de uma artista), na arquitetura temos iconic architectures, construções/edifícios/
Discorro sobre a Casa das Canoas, pois ela está presente no conjunto arquitetônico do Ibirapuera em diferentes situações, mas agora, em evidência e na essência do projeto arquitetônico, expo e cenográfico conduzido pelos curadores e pelo escritório Vão Arquitetura desta 35ª Bienal de Arte Contemporânea de São Paulo. Distintos intercursos ocorrem e perfazem o projeto residencial de Niemeyer na floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, seja pela relação harmoniosa entre construção e natureza, pela constante dinâmica entre o dentro e o fora, como também no trânsito entre ambientes sociais, operacionais e íntimos desta casa. No pavilhão da Bienal, em seu projeto original, chama a atenção o intercurso entre a horizontalidade e racionalidade da construção e a sinuosa e sensual rampa, espiralada, em constante ascendência, que interliga todos os pavimentos do edifício como também a permanente relação entre o fora e o dentro, uma vez que longitudinalmente esta construção possui fachadas de vidro. Isso ocorre de outra forma no térreo, uma vez que o acesso se faz por um espaço arejado, generoso, em total sinergia com o parque e com uma das extremidades da marquise. O projeto arquitetônico desta atual edição da Bienal amplia e potencializa esses intercursos, a sinuosidade e a sensualidade originais que dinamizam esse edifício, que foi idealizado para cumprir o objetivo de ser um dispositivo, uma “máquina expositiva”. Mais uma vez, a coreografia presente no título esclarece a intencionalidade, uma vez que as curvas e respectivas dinâmicas da rampa sinuosa e sensual adentram, penetram no restante do edifício onde a ortogonalidade se impõe.
Na Cultura, o Centro está em Toda Parte
A coluna Na Cultura o Centro está em Toda Parte, com o professor Martin Grossmann, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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