A USP e a diplomacia científica e da inovação

Por Amâncio Jorge de Oliveira, professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP

 03/08/2023 - Publicado há 9 meses
Amâncio Jorge de Oliveira – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
A USP recebe até amanhã, 4 de agosto, a quinta edição da Escola de Diplomacia Científica e da Inovação, a InnScid SP. A Escola foi realizada pela primeira vez em 2019, de modo presencial, e foi seguida por três edições virtuais durante o período da pandemia. A edição atual conta com o apoio da Fapesp por meio do programa Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) e tem, como tema central, a manutenção e circulação global de dados científicos. A Escola introduz algumas novidades importantes para o ecossistema de ciência e inovação do Estado de São Paulo. De forma geral, os treinamentos internacionais focam exclusivamente na temática da diplomacia científica. Desde sua primeira edição, da InnScid está estruturada sobre duas trilhas: é primeira iniciativa que confere peso similar à formação em diplomacia científica e diplomacia da inovação. A InnScid realça a temática da inovação, em franca sintonia com as prioridades da USP como uma universidade de pesquisa e de inovação.

A segunda grande novidade diz respeito ao fato de ser a primeira iniciativa sistemática promovida por uma instituição do Sul Global. As iniciativas tradicionais de formação em diplomacia científica são promovidas por organizações, acadêmicas ou não, oriundas do Norte Global. Esta inovação é de grande relevância. A diplomacia científica e da inovação é uma ferramenta chave para a solução dos problemas transnacionais, seja de escopo regional ou global. O fato é que os dilemas e desafios do Sul Global são distintos dos desafios do Norte Global, razão pela qual a mera importação de teoria e aplicação para a nossa realidade gera evidente ineficácia.

A evolução das submissões nesses últimos cinco anos confirma o peso do Sul Global da InnScid como Escola do Sul Global. As cinco edições da Escola receberam um total de 2.663 inscrições de todas as partes do mundo. Deste total, cerca de 85% vieram de países do Sul Global e 15% do Norte Global. Há predominância de participantes brasileiros derivado do fato de que, por regra da Fapesp, 50% dos bolsistas devem ser do país. Com exceção do Brasil, os países que mais contribuem para a Escola são: Índia, Nigéria, Paquistão, África do Sul e China. Fica clara a atratividade que o Brasil, e mais particularmente a USP, tem sobre os países da coalizão conhecida como IBAS (Índia, Brasil e África do Sul). Na América do Sul, os países mais recorrentes são Colômbia, Peru e Argentina. Esses dados mostram o alinhamento da InnScid com a política de prioridade às relações Sul-Sul do País.

A InnScid está sendo realizada em um momento importante para a USP do ponto de vista de projeção internacional. Em junho, a USP foi incluída, pela primeira vez, entre as 100 primeiras posições do renomado ranking universitário produzido pela consultoria britânica Quacquarelli Symonds (QS). Esses rankings são de extrema relevância, pois conferem visibilidade internacional e reconhecimento de qualidade para as principais instituições acadêmicas. A melhoria nos posicionamentos dos rankings internacionais amplia o papel da USP, em parceria com outras grandes universidades brasileiras, como um ativo chave de poder brando (soft power) do Brasil.

A USP reúne plenas condições de se tornar um dos principais hub de diplomacia científica e da inovação do Sul Global. Vale mencionar, como algumas dessas condições, a presença de inúmeros cientistas que figuram na lista dos mais importantes do mundo acadêmico; o entrosamento com todo ecossistema científico do Estado de São Paulo (com as demais universidades públicas e federais, IPT, Fapesp etc.); a participação em redes densas de pesquisas internacionais e parcerias expressivas com o setor privado. A contribuição da InnScid é adensar, ainda mais, as redes de jovens pesquisadores de todo o mundo e o intercâmbio com as estruturas diplomáticas do país e do exterior.

A consolidação da USP como uma escola de diplomacia científica do Sul Global enfrenta alguns desafios importantes. A transformação em um programa permanente, para além de uma escola de curta duração permitiria um intercâmbio entre pesquisadores e representantes do setor privado e diplomático ao longo de todo ano, de forma mais estável. A aproximação com o setor privado e com organismos internacionais permitiria, em contrapartida, o provimento de recursos a conferir sustentabilidade para a iniciativa.

A quinta edição da InnScid mostra que esta é uma iniciativa bem-sucedida. Estamos trabalhando para que a Escola se consolide e ajude a USP a se transformar em uma grande escola de diplomacia científica e de inovação do Sul Global.

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