Segundo uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEM) da USP, igrejas evangélicas abriram cerca de 17 novos templos em média, diariamente, no Brasil em 2019. O relatório analisa a expansão desses estabelecimentos no período de 1920 a 2019, juntamente com a localização dos Estados de maior predominância evangélica. Victor Araújo, cientista político da Universidade de Zurique e pesquisador associado ao CEM, comenta que o avanço dessas instituições apresenta origens diversas.
O pesquisador explica que, para entendermos o novo relatório, é interessante compreender como os dados sobre religiões costumam ser distribuídos para a população. A cada dez anos, os censos demográficos são levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, entre as diferentes informações sobre a população nacional, é divulgado o número de evangélicos presentes no País.
As pesquisas de opinião pública também são utilizadas para analisar a quantidade de indivíduos que pertencem a esse grupo, principalmente em períodos de eleições. “O que eu estou propondo é um novo método para mensurar o contínuo crescimento desse segmento religioso no País utilizando dados da Receita Federal”, discorre Araújo.
Isso é possível pois, no Brasil, as igrejas são como empresas, com um grande número delas apresentando CNPJ. Com esse dado, é possível analisar a data de criação, onde elas foram fundadas e o panorama de manutenção dessas instituições.
Além disso, Araújo comenta que o estudo não avalia apenas o crescimento quantitativo desses locais, mas também leva em consideração as características e especificidades de cada um desses locais. O projeto segue para uma segunda etapa em que se avalia a extensão dessas informações para até o ano de 2023; dessa forma, será possível acompanhar o crescimento das igrejas evangélicas ano após ano.
O estudo também avalia quais são os tipos de igreja evangélica que estão crescendo; para isso, é feita uma divisão entre quatro grandes grupos: missionários — dentro dele estão as igrejas batistas, presbiterianas, metodistas, entre outras; pentecostais — como a Assembleia de Deus, Deus é amor, Igreja Quadrangular, etc.; neopentecostais — que apresentam uma tradição mais recente do pentecostalismo; e, por fim, a categoria que mais cresce no Brasil, que são as igrejas de classificação não determinada.
Detalhes
É interessante notar que o evangelicalismo chega no Brasil no início dos anos 1900 e começa com trabalhos de missão sobretudo no Norte e no extremo Sul do País. Apesar da tentativa, até os anos 50 pouquíssimas igrejas são aberta; é apenas a partir do anos 60 que um crescimento substantivo pode ser notado. O maior avanço da expansão das igrejas evangélicas no Brasil aconteceu em meados dos anos 90 até 2016/2017. “A gente passou de cerca de 100 igrejas nos anos 60 para mais de 60 mil templos em 2015. Então a gente tem um crescimento vertiginoso nas últimas décadas”, explica o pesquisador.
Araújo também destaca que esse crescimento não está espalhado de forma homogênea pelo território nacional, ele acontece primeiro no Sudeste e vem crescendo, nos últimos tempos, na região Centro-Oeste. “Existem poucos precedentes na história recente do mundo de um crescimento de uma transição religiosa tão acelerada como essa que a gente está vendo no Brasil”, aponta. Para destacar essa questão, Araújo cita o exemplo europeu, que demorou cerca de 500 anos para realizar a mesma transição religiosa que o Brasil acompanhou em poucas décadas.
Entre os diferentes motivos que podem explicar o avanço desse crescimento, notam-se três pontos que podem resumir bem a questão. O primeiro deles refere-se ao fato de o Brasil ter se tornado um país mais urbano a partir da década de 60; com a migração de indivíduos em busca de melhores condições de vida, as pessoas passaram a integrar igrejas que se localizam perto de suas casas, na maioria das vezes, essas eram evangélicas.
Além disso, em 2003, com a aprovação da Lei nº 10.825/2003, há um incentivo muito maior para a abertura de templos no Brasil. Por fim, com o aumento do número de instituições e com o fortalecimento econômico desses locais, o investimento em telecomunicações aumenta e passa a atrair um número maior de fiéis para as igrejas. “Essas coisas meio que se retroalimentam, a ordem aqui geralmente é: mais igrejas abertas, mais fiéis, mais coleta de dízimo e mais capitalização”, finaliza Araújo.
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