Exposição no MuBE coloca em xeque a “modernidade” da América

A mostra “Serra da Capivara: Pedra Viva, o legado de Niède Guidon” dá uma dimensão de antiguidade, de ancestralidade para o humano na América

 04/05/2023 - Publicado há 2 anos

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O professor Guilherme Wisnik convida a todos a visitarem, no MuBE (Museu Brasileiro da Escultura e da Ecologia), a exposição Serra da Capivara: Pedra Viva, o Legado de Niède Guidon, da qual é um dos curadores. Como está estampado no título, trata-se de evidenciar a importância do legado da arqueóloga franco-brasileira Niède Guidon na preservação do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. “A nossa curadoria procurou basicamente combinar uma exposição que tenta mostrar, para um público que não está no Piauí, na Serra da Capivara, o que é que existe lá, qual é o legado científico e artístico do rico material que existe lá, junto com uma curadoria de obras de arte contemporânea que dialoga com aquilo tudo”, diz Wisnik.

A respeito do legado de Niède Guidon, ele destaca o aspecto social, ambiental e político, “que é a criação daquele parque, que gera educação, emprego, enfim, desenvolvimento regional. Isso é muito importante numa área de muita pobreza. O parque tem um acervo de pinturas rupestres incríveis, dos povos do Paleolítico: caçadores, coletores nômades que deixaram registrados suas pinturas, seus desenhos, que são maravilhosos, e, também, todas as escavações arqueológicas que foram feitas ali por Niède e sua equipe mostraram que há ocupação humana anterior aos 12 mil anos, tal como se pensava”. Ou seja, nas descobertas arqueológicas ali realizadas foi se revelando um material muito mais antigo a isso, “chegou a 48 mil anos no carbono 14, em exames mais recentes”.

“Isso coloca em perspectiva essa ideia de que somos muito jovens na América, que a nossa ocupação é recente, e dá uma dimensão de antiguidade, de ancestralidade para o humano na América, que é nova e que tem consequências muito interessantes. Então, eu procuro explorar isso na exposição, tratando desse sentimento, que parece até estranho para nós, da nossa antiguidade, porque se divulgou muito essa ideia de que nós somos jovens, somos recentes, de que a ocupação indígena foi recente na América […] tudo muito efêmero, o que daria a nossa vocação ao moderno, porque a gente está sempre recomeçando tudo.” Para Wisnik, o legado da Serra da Capivara ajuda a colocar isso em perspectiva e faz repensar o nosso modernismo.


Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar  quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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