Pesquisadores da USP desenvolvem material simulador do corpo humano em testes balísticos

Com tecnologia 100% nacional, pesquisadores da USP em Ribeirão Preto desenvolveram uma gelatina balística a 10% que está em fase de processo de patente e promete trazer benefícios para a indústria da defesa e segurança pública

 27/02/2023 - Publicado há 1 ano
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Teste de um projétil em gelatina balística – Foto: Wikimedia Commons

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A gelatina balística a 10% é um produto que simula com boa precisão os tecidos moles do corpo humano sem utilização de barreiras como, por exemplo, coletes à prova de balas. Também é citada em pesquisas como “gelatina nua”. O produto é utilizado para auxiliar na prática pericial em balística forense e na segurança pública e defesa nacional como, por exemplo, em testes balísticos da polícia militar e do exército.

No Brasil, a gelatina balística não é nenhuma novidade, inclusive na internet existem várias receitas caseiras para a sua produção. Entretanto, elas não seguem um método científico e não podem ser utilizadas como material simulador em perícias criminais ou em pesquisas científicas, justamente pela falta de padronização metodológica inerente a estas receitas caseiras, característica mais importante de um estudo acadêmico-científico e que torna seus resultados confiáveis para a comunidade científica de maneira geral em termos de praticabilidade e reprodutibilidade.

João Paulo Mardegan Issa e Lucas Meciano Pereira dos Santos – Fotos: Arquivo pessoal

Após anos de testes com diferentes formulações, o professor da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, João Paulo Mardegan Issa, e o doutorando Lucas Meciano Pereira dos Santos, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, com apoio do Departamento de Patologia e Medicina Legal da FMRP, desenvolveram uma gelatina balística a 10%, com formulação padronizada, de acordo com o protocolo do FBI, unidade de polícia investigativa e inteligência interna vinculada ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, referência no assunto.

Segundo Issa, o projeto surgiu em função de sua experiência com biomateriais e a sua trajetória como professor de anatomia humana envolvendo a área de Medicina Legal e Patologia. Segundo ele, a pesquisa científica com foco na balística forense ainda é pouco explorada no Brasil e guarda uma relação muito importante com a área da saúde. O professor conta que por conta de estudos na graduação e na pós-graduação, orientados por ele, “surgiu a necessidade de desenvolver um produto brasileiro devido ao alto custo com importações”.

O produto tem registro de patente aberto pela Agência USP de Inovação (Auspin) e, por conta disso, sua composição não pode ser revelada neste momento. Ele visa de imediato, segundo Issa, a atender a área pericial ligada à medicina legal e odontologia legal, contemplando a área da segurança pública e defesa nacional via interfaces científicas com a balística forense. Em um segundo momento, a ideia, diz o professor, é adaptar a gelatina balística a 10% para simulações cirúrgicas, já que o produto, apesar de proporcionar uma característica homogênea a uma estrutura totalmente heterogênea que é o corpo humano, é capaz de substituir os tecidos moles humanos com bastante fidedignidade, principalmente na reprodução de fatores como a bioelasticidade inerente a este tipo de tecido, por exemplo.

Bloco de gelatina balística após receber disparo de projétil; material permite análise do calibre em caso de suspeita – Foto: Divulgação/Norma Academy

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Diferença e impacto do novo produto

O material desenvolvido, segundo Issa, pode ter forte impacto no teste de munições de uso das forças de segurança pública e defesa nacional e também na perícia de crimes cometidos com armas de fogo. “Se há uma suspeita em relação a calibre, por exemplo, e se existem determinadas características de projéteis em um crime ocorrido, é possível realizar testes neste material e analisar o desempenho balístico suspeito, como quanto o projétil expandiu, quanto o projétil teve de retenção de massa ou quanto o projétil penetrou no corpo da vítima”, afirma o professor.


Clique no player a seguir para conferir entrevista com o professor João Paulo Mardegan Issa.

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Agência USP de Inovação

A Agência USP de Inovação (Auspin), criada em fevereiro de 2005, é o Núcleo de Inovação Tecnológica da USP responsável por gerir a política de inovação para promover a utilização do conhecimento científico, tecnológico e cultural na Universidade a favor do desenvolvimento socioeconômico do Estado de São Paulo e do País. 

Atua diretamente na proteção do patrimônio industrial e intelectual produzido na USP, orientando docentes, alunos e funcionários na elaboração de projetos e efetuando os procedimentos necessários para o registro de patentes, marcas, direitos autorais de livros, softwares, músicas, entre outras criações.

A Agência USP de Inovação está presente em todos os campi da USP: São Paulo, Bauru, Lorena, Piracicaba, Pirassununga, Ribeirão Preto e São Carlos. Para saber mais, acompanhe a Auspin pelo site www.inovacao.usp.br e pelo Facebook, Instagram e Twitter.


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