Copa do Catar põe direitos humanos em evidência 

Segundo o colunista Pedro Dallari, entidades internacionais têm denunciado violações dos direitos dos trabalhadores envolvidos no Mundial

 16/11/2022 - Publicado há 1 ano     Atualizado: 18/11/2022 as 8:20
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Este mês de novembro está sendo marcado por importantes eventos internacionais. A realização da COP 27 – o encontro anual dos países que são partes da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima – e a reunião do G20, convocada com a finalidade de definir ações para superação da crise econômica que vai se propagando por todo o planeta, são dois importantes exemplos. O Brasil tem presença nesses dois fóruns e a perspectiva de um novo governo a partir de 1º de janeiro do próximo ano, que tende a ser mais engajado na defesa e efetivação do princípio da cooperação internacional, tem gerado um sentimento muito favorável ao nosso País. Mas um outro evento chama também muito a atenção: a Copa do Mundo no Catar.

É disso que trata o professor Pedro Dallari em sua coluna desta semana. “ Sem dúvida alguma, o evento que, neste mês de novembro, despertará maior atenção da opinião pública mundial é a Copa do Mundo de futebol  no Catar, com início no próximo domingo, dia 20. Contando também com a participação do Brasil, esse evento será um fenômeno de dimensão global, como vem ocorrendo a cada edição. As transmissões dos jogos da Copa do Mundo de futebol pela televisão e por outros meios de comunicação social são responsáveis pelas maiores audiências desses veículos, à frente de qualquer outro evento”, afirma Dallari.

“É preciso ressaltar, porém, que mesmo sendo um evento esportivo, mais ligado ao campo do entretenimento, a Copa do Mundo do Catar está imersa em um contexto político muito acentuado, que diz respeito ao questionamento generalizado sobre violações de direitos humanos associadas à sua realização”, alerta o colunista. “A FIFA, entidade que dirige o futebol em todo o planeta, fez em 2010 a escolha do Catar para sediar a Copa do Mundo de 2022. O processo foi marcado por muita polêmica, com acusações de atos de corrupção, destinados a influenciar os responsáveis pela escolha. Realmente, sendo um país sem tradição futebolística, de dimensão territorial e população muito pequenas, não parece haver qualquer justificativa válida para que a Copa do Mundo se realize no Catar”, garante o professor.

Em sua coluna, Dallari faz uma importante advertência sobre a Copa no Catar. “Esse cenário negativo foi acentuado pela acusação de que a preparação do Catar para sediar a Copa do Mundo tem sido caracterizada por graves violações contra os direitos dos trabalhadores contratados para construir os estádios que abrigarão os jogos. Em sua maioria imigrantes, já que a população do Catar é reduzida, a Anistia Internacional e outras entidades de defesa dos direitos humanos comprovaram que esses trabalhadores têm sido submetidos a condições muito precárias de trabalho e de vida, com flagrante desrespeito a seus direitos sociais mínimos”, afirma o colunista. “Agora, às vésperas do início da Copa do Mundo, tem havido também muita preocupação com o risco de discriminação em relação aos visitantes estrangeiros que estarão no Catar para assistir aos jogos. É o caso, por exemplo, dos homossexuais e de toda a comunidade LGBTQIA+, extremamente perseguida pelas leis nacionais do Catar”, assegura Pedro Dallari.

“Como se pode perceber pelas polêmicas já suscitadas, as próximas semanas serão marcadas pela tensão entre, de um lado, a ideia de globalização, que tem nos direitos humanos um elemento fundamental, e é inerente a um evento global como a Copa do Mundo, e, de outro lado, a situação de desrespeito aos direitos humanos que caracteriza o Catar, país que, por total equívoco, foi escolhido para abrigar a Copa do Mundo”, finaliza.


Globalização e Cidadania
A coluna Globalização e Cidadania, com o professor Pedro Dallari, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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