Atletas de alto rendimento são mais suscetíveis a lesões corporais

Com o início da Copa do Mundo, no dia 20, e a escalação de Daniel Alves, rendimento e saúde dos atletas entram em destaque

 09/11/2022 - Publicado há 1 ano
Jogadores de futebol são submetidos a um estresse maior, ao alto rendimento – Foto: Reprodução/Agência Brasil

 

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A Copa do Mundo do Catar começa neste mês e há dois dias a escalação brasileira foi revelada. Essa seleção levantou algumas questões, como a da convocação de Daniel Alves, que, aos 39 anos, tornou-se o jogador mais velho que irá defender a seleção brasileira em uma Copa. A questão da saúde desses jogadores, especialmente por estarem vulneráveis a graves lesões por conta do esporte de alto rendimento, é muito importante. Philippe Coutinho, por exemplo, teve lesão muscular e sua recuperação, que deve durar seis semanas, não permitiu que participasse da Copa, que começa já no dia 20.

Tiago Lazzaretti Fernandes – Foto: Reprodução/Fapesp

“Essa indecisão se ele vai poder jogar ou não faz com que o técnico e a comissão tenham que pensar em outros nomes. Infelizmente isso é uma realidade, os jogadores sabem disso”, explica Tiago Lazzaretti Fernandes, ortopedista e médico do Esporte do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, considerado centro de excelência médica da Fifa. Ele lembra que o departamento médico é importante para definir e avaliar quem entra e quem não entra nos jogos.

Outra polêmica foi a decisão de incluir Daniel Alves, que já se lesionou – e foi operado – e é considerado de idade avançada para a modalidade. A comissão técnica afirma que ele está recuperado e apto a jogar o torneio. Porém, ainda sobram dúvidas sobre o que a idade e as lesões podem significar a um jogador de futebol. 

“Um jogador que tem mais idade funciona igual. O joelho é o mesmo do atleta [e de uma pessoa comum]. A anatomia, a fisiologia, tudo funciona igual. O que acontece é: esses jogadores são submetidos a um estresse maior, ao alto rendimento”, diz o ortopedista. Isso tem consequências: quem pratica esportes de alto rendimento e impacto tem desgaste maior nas articulações, no tornozelo, que levam a dores e lesões, por vezes incapacitantes. Por exemplo, quando o ligamento cruzado anterior é rompido, o joelho sai do lugar e não dá mais para jogar.

As lesões mais comuns entre jogadores são as musculares e as torções no tornozelo. O pé e o quadril, assim como toda a parte inferior estão mais suscetíveis a esses contratempos. O tratamento é não operatório e inclui fisioterapia, fortalecimento e o retorno progressivo ao esporte.

 

Recuperação

O médico lembra que a recuperação depende do tipo de lesão e que, mesmo sendo atletas, o corpo tem um tempo que deve ser respeitado e acompanhado por profissionais aptos. 

Um atleta de alto rendimento, neste caso os jogadores de futebol, tem fisioterapeuta disponível 24h por dia, com três sessões ou mais por dia. Isso agiliza o tempo de recuperação e abrevia o tempo de afastamento dos campos. 

 

Lesões

O corpo de um atleta, ou o de qualquer outra pessoa que pratica esportes, aguenta cerca de duas vezes o seu próprio peso em seu joelho. Ao correr, esse peso duplica e, saltando, pode chegar a até sete vezes o peso. 

Esse alto impacto faz com que a cartilagem seja muito mais solicitada, o que causa um maior desgaste. Além do estímulo ambiental (fatores externos), pode haver também a influência da genética. Existem pessoas que têm predisposição a desenvolver alguma doença. “Essa genética pode, sim, ao longo do tempo, causar um desgaste maior do que é o previsto. A pessoa fica sintomática”, explica.

Fernandes dá o exemplo de dois grandes nomes do esporte, Pelé (futebol) e Guga (tênis), que sofreram lesões durante o tempo em que estavam ativos e que, mesmo depois da aposentadoria, tiveram que continuar o tratamento.

 

Prevenção

Não é conhecimento novo o fato de que esportes de alto rendimento podem, por vezes, aumentar o número de lesões. Mesmo assim, “é altamente recomendado que todos pratiquem atividade física regularmente”, diz o médico. Adverte que não adianta praticar o esporte por um mês e depois parar, e sim que deve haver uma recorrência.

Para uma pessoa comum, um esporte de alto rendimento seria caminhar até ficar ofegante. É necessário estimular as pessoas para que pratiquem esportes, reitera Fernandes. Mas sem exageros: “Se a pessoa tem um antecedente familiar, pai e mãe, alguém com problema do coração ou alguma doença, é recomendado que procure um médico. Pode ser um médico de esporte, ortopedista ou cardiologista para se fazer essa avaliação inicial e, aí sim, poder praticar atividade com segurança”.

Mesmo que a atividade de moderada a alto rendimento traga maiores benefícios, para pessoas não habituadas ou que não são profissionais da área, a atividade física de baixa intensidade já está boa. 


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