
A Copa do Mundo do Catar começa neste mês e há dois dias a escalação brasileira foi revelada. Essa seleção levantou algumas questões, como a da convocação de Daniel Alves, que, aos 39 anos, tornou-se o jogador mais velho que irá defender a seleção brasileira em uma Copa. A questão da saúde desses jogadores, especialmente por estarem vulneráveis a graves lesões por conta do esporte de alto rendimento, é muito importante. Philippe Coutinho, por exemplo, teve lesão muscular e sua recuperação, que deve durar seis semanas, não permitiu que participasse da Copa, que começa já no dia 20.

“Essa indecisão se ele vai poder jogar ou não faz com que o técnico e a comissão tenham que pensar em outros nomes. Infelizmente isso é uma realidade, os jogadores sabem disso”, explica Tiago Lazzaretti Fernandes, ortopedista e médico do Esporte do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, considerado centro de excelência médica da Fifa. Ele lembra que o departamento médico é importante para definir e avaliar quem entra e quem não entra nos jogos.
Outra polêmica foi a decisão de incluir Daniel Alves, que já se lesionou – e foi operado – e é considerado de idade avançada para a modalidade. A comissão técnica afirma que ele está recuperado e apto a jogar o torneio. Porém, ainda sobram dúvidas sobre o que a idade e as lesões podem significar a um jogador de futebol.
“Um jogador que tem mais idade funciona igual. O joelho é o mesmo do atleta [e de uma pessoa comum]. A anatomia, a fisiologia, tudo funciona igual. O que acontece é: esses jogadores são submetidos a um estresse maior, ao alto rendimento”, diz o ortopedista. Isso tem consequências: quem pratica esportes de alto rendimento e impacto tem desgaste maior nas articulações, no tornozelo, que levam a dores e lesões, por vezes incapacitantes. Por exemplo, quando o ligamento cruzado anterior é rompido, o joelho sai do lugar e não dá mais para jogar.
As lesões mais comuns entre jogadores são as musculares e as torções no tornozelo. O pé e o quadril, assim como toda a parte inferior estão mais suscetíveis a esses contratempos. O tratamento é não operatório e inclui fisioterapia, fortalecimento e o retorno progressivo ao esporte.
Recuperação
O médico lembra que a recuperação depende do tipo de lesão e que, mesmo sendo atletas, o corpo tem um tempo que deve ser respeitado e acompanhado por profissionais aptos.
Um atleta de alto rendimento, neste caso os jogadores de futebol, tem fisioterapeuta disponível 24h por dia, com três sessões ou mais por dia. Isso agiliza o tempo de recuperação e abrevia o tempo de afastamento dos campos.
Lesões
O corpo de um atleta, ou o de qualquer outra pessoa que pratica esportes, aguenta cerca de duas vezes o seu próprio peso em seu joelho. Ao correr, esse peso duplica e, saltando, pode chegar a até sete vezes o peso.
Esse alto impacto faz com que a cartilagem seja muito mais solicitada, o que causa um maior desgaste. Além do estímulo ambiental (fatores externos), pode haver também a influência da genética. Existem pessoas que têm predisposição a desenvolver alguma doença. “Essa genética pode, sim, ao longo do tempo, causar um desgaste maior do que é o previsto. A pessoa fica sintomática”, explica.
Fernandes dá o exemplo de dois grandes nomes do esporte, Pelé (futebol) e Guga (tênis), que sofreram lesões durante o tempo em que estavam ativos e que, mesmo depois da aposentadoria, tiveram que continuar o tratamento.
Prevenção
Não é conhecimento novo o fato de que esportes de alto rendimento podem, por vezes, aumentar o número de lesões. Mesmo assim, “é altamente recomendado que todos pratiquem atividade física regularmente”, diz o médico. Adverte que não adianta praticar o esporte por um mês e depois parar, e sim que deve haver uma recorrência.
Para uma pessoa comum, um esporte de alto rendimento seria caminhar até ficar ofegante. É necessário estimular as pessoas para que pratiquem esportes, reitera Fernandes. Mas sem exageros: “Se a pessoa tem um antecedente familiar, pai e mãe, alguém com problema do coração ou alguma doença, é recomendado que procure um médico. Pode ser um médico de esporte, ortopedista ou cardiologista para se fazer essa avaliação inicial e, aí sim, poder praticar atividade com segurança”.
Mesmo que a atividade de moderada a alto rendimento traga maiores benefícios, para pessoas não habituadas ou que não são profissionais da área, a atividade física de baixa intensidade já está boa.
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