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Humanos modernos produzem mais neurônios cerebrais do que neandertais, mostra estudo
De acordo com cientistas do Instituto Max Planck, na Alemanha, a proteína TKTL1 encontrada em humanos modernos aumenta a síntese de lipídios necessários para a produção de neurônios
Em um estudo publicado na revista Science, pesquisadores do Instituto Max Planck de Biologia Celular Molecular e Genética, na Alemanha, descobriram como o cérebro de humanos modernos produz mais neurônios que o cérebro de neandertais. No estudo, cientistas introduziram variantes de proteínas específicas encontradas nos humanos modernos e similares encontradas em neandertais no neocórtex embrionário de animais, como camundongos e furões. Os cérebros com a versão da proteína encontrada somente em humanos modernos desenvolveram mais neurônios.
“Se formos comparar o cérebros dos neandertais com o cérebro dos humanos modernos, vamos ver que os humanos modernos têm uma quantidade maior de neurônios na parte externa, numa região chamada córtex frontal”, explica Merari Ferrari, professora do Instituto de Biociências (IB) da USP.
De acordo com ela, a ciência já sabe que os principais fatores para o aumento das habilidades cognitivas dos humanos envolve a evolução do tamanho do cérebro e da sua capacidade de produção de neurônios, células que caracterizam o sistema nervoso e que mandam impulsos para o cérebro. Outro fato também comprovado é que os nossos primos neandertais possuíam um cérebro de tamanho semelhante ao nosso. O que ainda precisava ser descoberto envolvia entender qual a sua capacidade de produzir esses neurônios.
Merari de Fátima Ramires Ferrari - Foto: IB/USP
Por isso, uma das conclusões obtidas pelos autores do estudo é a hipótese de que a proteína transcetolase-like 1 (TKTL1) dos humanos modernos, que se diferencia apenas por um único aminoácido da variante neandertal, aumenta a síntese de certos lipídios necessários para gerar o longo processo de células gliais radiais basais que estimula sua proliferação e, portanto, aumenta a produção de neurônios.
Os resultados foram obtidos ao se registrar o aumento de circunvoluções nos cérebros dos animais durante o experimento. Sobre isso, Merari explica que, quando observado, é possível notar que um cérebro humano possui diversos pequenos círculos e sua presença indica um número maior de neurônios na região. “O cérebro de camundongos e de furões é liso. No entanto, conforme os cientistas expressaram o gene [em linhas gerais, introduziram a proteína], houve um aumento no número de neurônios e um aumento de circunvoluções”, esclarece.
Para a professora, que também faz parte do Laboratório de Biologia Celular da Neurodegeneração da USP, a descoberta internacional pode auxiliar a compreensão sobre como o cérebro humano funciona e como ele se desenvolveu ao longo dos séculos. Além disso, ela traz novos dados importantes para áreas como neurociência, evolução humana, genética e antropologia. “Pesquisas como essa são bastante relevantes para a saúde humana. [A partir delas] será possível fazer perspectivas sobre o tratamento de doenças neurodegenerativas e do neurodesenvolvimento; e entender melhor sobre patologias associadas à morte, reposição e direcionamento de neurônios para suas regiões.”
Os desdobramentos podem ser inúmeros, aponta a professora, mas somente a partir resultados concretos que cientistas do mundo inteiro poderão dar o próximo passo: “Começar a pensar em suas aplicações”, finaliza.
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